A Fifa deveria ter permitido elencos com 26 atletas também na Copa Feminina
Com o aumento no número de substituições e os 26 jogadores na Copa de 2022, não faz muito sentido a redução para a Copa de 2023

A Copa do Mundo Feminina fechou as listas de convocadas nesta semana. As seleções classificadas para o Mundial de 2023 tinham até o último domingo para confirmar as jogadoras que participarão do torneio – antes da estreia, ainda poderão ser feitas substituições nos elencos em casos de lesão. E um detalhe que merece discussão é o número de atletas em cada plantel. A Fifa permitiu que cada equipe chamasse 23 jogadoras, três a menos que na Copa do Mundo de 2022. Pelas circunstâncias, contar com 26 futebolistas no Mundial poderia auxiliar a rotação dentro da competição e ser benéfico ao próprio torneio.
Quando a Fifa anunciou o aumento de 23 para 26 convocados na Copa de 2022, trouxe à tona várias justificativas. A principal delas era o efeito da pandemia, diante dos riscos de jogadores ficarem indisponíveis durante o Mundial do Catar. Outro ponto importante para a entidade era o próprio desgaste dentro do torneio. A Copa aconteceu no meio da temporada europeia, com um tempo menor de preparação e uma maratona maior de partidas. Além disso, pesava também a duração ligeiramente mais curta do torneio e as condições climáticas extremas nos estádios catarianos, por conta do calor.
Nem todas as seleções se valeram dos 26 convocados na Copa do Mundo. De qualquer maneira, a ampliação no número de convocados teve sua utilidade para lidar exatamente com o excesso de lesões e com o aumento na quantidade de substituições nas partidas. Com mais trocas, os treinadores ganharam um leque maior de possibilidades. Parecia até que a abertura para 26 convocados se tornaria uma constante nas competições internacionais. Pelo contexto até mais compreensível em consequência da pandemia, torneios como a Euro 2020 (realizada em 2021) e a Copa América de 2021 haviam aumentado de 23 para 26 o total de jogadores.
A Fifa, no entanto, se contrapôs ao aumento de convocados para outros torneios a partir de 2023. Segundo a visão da entidade, 23 jogadores continua sendo o ideal para as competições internacionais. O aumento no total de atletas nos elencos, segundo a confederação, beneficiaria as seleções mais fortes. A Liga das Nações e a Copa Ouro, por exemplo, já tiveram apenas 23 jogadores disponíveis nos elencos convocados às fases finais. As entidades organizadoras não levaram em conta, desta vez, o desgaste de uma temporada que se estendeu mais por causa da Copa do Mundo e que teve jogadores mais impactados por conta da sequência longa de trabalho.
Há argumentos também para 26 jogadoras na Copa Feminina
As circunstâncias da Copa do Mundo Feminina, em relação à pandemia, não são muito diferentes do que se notou na Copa do Mundo Masculina. A situação da covid-19 no Mundial do Catar já tinha um controle evidente, diferentemente dos riscos que existiram na Eurocopa ou na Copa América. Assim, o aumento ocorrido no Catar soa apenas como uma desculpa da Fifa do que exatamente uma necessidade.
Além disso, parece fazer mais sentido o aumento no número de atletas à disposição numa competição de final de temporada, quando há um desgaste acumulado por diferentes competições e o pico físico majoritariamente ficou para trás. Grande parte das jogadoras da Copa do Mundo, sobretudo as que atuam na Europa, vêm do final de seus compromissos com os clubes e possuem uma carga de trabalho elevada.
Por fim, há a própria questão de rendimento no torneio. O ritmo mais intenso no esporte profissional é a justificativa para o aumento no número de substituições, de três para cinco. Também seria lógico que o número de atletas à disposição fosse mais elevado. Permitiria maneiras diferentes de pensar os times e mesmo de planejar a rotação das atletas para atenuar os impactos da maratona de partidas. Soa como contrassenso a exceção pontual à Copa masculina dada pela Fifa.
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Aumento das substituições é mais discutível que aumento dos elencos
E o ponto da discussão não é uma questão de igualdade de gênero. É o contexto de oferecer as melhores condições às partidas de futebol. Se fazia sentido que 26 jogadores estivessem presentes em 2022, não parece que a realidade mudou tanto para que 23 jogadoras fossem convocadas em 2023. O aumento para cinco substituições por equipe é muito mais discutível, pelas consequências que causa em campo e pelo desnível em relação aos times mais fortes, mas ainda assim tal mudança nas regras acabou ratificada após a pandemia. A questão dos tamanhos dos elencos é bem mais simples dentro desse contexto.
Pode até ser que alguns técnicos prefiram não trabalhar com elencos mais dilatados, o que afeta a distribuição dos jogadores nos treinos e a gestão de vestiários. Entretanto, na Copa de 2022 tal escolha foi facultativa aos treinadores. Em 2023, não há nem opção. Ampliar os elencos também seria uma maneira de conceder a experiência no Mundial a mais atletas e também de preparar renovações de ciclos para o futuro. Parece uma oportunidade perdida pela Fifa, e sem muita razão aparente para os cortes.