Copa do Mundo Feminina

Cristiane critica seleção em eliminação: “Se eu tivesse lá, o pau ia torar no vestiário”

Atacante analisa saída precoce do Brasil da Copa do Mundo Feminina e afirma não ter desistido de vestir a camisa amarela

Fora da Copa do Mundo Feminina, Cristiane Rozeira pouco falou sobre a participação do Brasil. Porém, desde a eliminação precoce da seleção, ainda na fase de grupos, a camisa 11 engole a seco o assunto. Como “passividade” é uma palavra que não existe em seu vocabulário, a atacante do Santos quebrou o silêncio e analisou a queda brasileira em entrevista exclusiva – e muito franca – à Trivela

– Eu não sei se as pessoas têm noção do quanto foi grave essa eliminação. Acho que as pessoas ainda não se ligaram da gravidade, do que foi ter saído da Copa do Mundo dessa maneira. É extremamente vergonhoso – disparou Cristiane.

Na última quarta-feira (2), a seleção empatou sem gols com a Jamaica e decretou sua saída do Mundial. O resultado não foi nem de longe o que se esperava da equipe verde e amarela, principalmente pelo retrospecto de 100% em dois confrontos diante das jamaicanas.

Em 2007, nos Jogos Pan-Americanos, a seleção goleou as caribenhas por 5 a 0. Em 2019, na estreia da Copa da França, mais uma vitória, desta vez por 3 a 0 e com direito a hat-trick de Cris. 

– É inaceitável por tudo o que foi construído em todos os anos na seleção brasileira e também por tudo o que foi dado agora (nesta edição), que foi bem mais do que em 2019, quando a gente foi para a Copa. Eles fizeram o que é obrigado, porém, em aspecto de campeonato que a gente tem hoje, de competitividade que a gente tem hoje dentro do país, de patrocínio, de marketing, de lado financeiro… Tinha que ter ido mais longe. 

Cristiane marcou os três gols da vitória do Brasil por 3 a 0 sobre a Jamaica, na Copa do Mundo de 2019. (Foto: Divulgação/CBF)

Cristiane: “Se eu tivesse lá, o pau ia torar no vestiário” 

Cris é uma das principais vozes do futebol feminino. Sem medo de se posicionar em assuntos delicados e requerer melhorias, ela é considerada uma figura de liderança na modalidade. Entretanto, na visão dela, é exatamente sua personalidade forte que a impede de trabalhar sob a gestão da treinadora Pia Sundhage. 

– A passividade, principalmente a que a comissão técnica teve na beira do campo… Isso me irritou muito num nível, sabe? É por isso que eu não estava lá, porque a minha reação não ia ser aquela. Se eu estivesse lá, o pau ia torar no vestiário. Eu não sou assim, essa pessoa passiva, de só aceitar que está saindo fora da maior competição que existe no planeta de boa. Eu tô muito brava – disse.

– A gente tem essa mania de pensar que o Brasil ir até as oitavas está bom. Não! Você tem que imaginar grande, você não pode entrar num torneio e falar que vai ficar em terceiro lugar. Não pode entrar achando que vai cair nas quartas. O pensamento tem que ser: Eu vou chegar na final e acabou”. Não interessa o patamar que a gente está no ranking, não interessa o que falem da nossa geração, porque eu quero ser campeã. Porque, em 2007, o pessoal falava “Ah, o Brasil toma pau de todo mundo”. Nós respondemos: “É o Brasil, cara, e a gente tem que se juntar e acreditar nisso aqui”. 

A centroavante também citou um aspecto, além do psicológico da seleção, que colaborou para que sua irritação fosse ainda maior. 

– Na minha visão, tecnicamente, eu achei uma Copa  extremamente abaixo do que eu já vi e do que eu já joguei. Para mim, essa edição está sendo muito física, muita correria, mas muita correria… E o bonito, que é a parte técnica, o drible, eu senti falta.

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Cristiane ainda não desistiu de ser convocada para a seleção

Pia não aproveitou a atacante no último ciclo de Copa, apesar de ela viver boa fase na equipe santista. Isso não quer dizer que expectativa da não convocação de Cris não existisse. Era o esperado, principalmente por ela ter ficado de fora dos Jogos Olímpicos de Tóquio. No entanto, naquela época, pela ideia de renovação do elenco ser o foco da técnica sueca, a decisão parecia coerente. 

Dois anos depois, na convocação para o Mundial, a mesma decisão já não foi bem recebida e gerou críticas, de internautas e da imprensa, sobretudo por Mônica e Bárbara integrarem a lista principal – ambas com mais de 35 anos e em baixa nos aspectos físico e técnico.

Aos 38 anos, a decisão de pendurar as chuteiras ainda não passa pela cabeça da craque. Disputando os playoffs do Campeonato Brasileiro e na vice-liderança do Paulistão, Cristiane também é capitã e artilheira do Santos na temporada, com 11 gols em 21 jogos.

Por isso, mesmo com a declarada tristeza por ficar fora da Copa, a camisa 11 diz que ainda não é hora de abdicar da Seleção. 

– Enquanto o físico estiver aguentando bem, eu vou continuar. Não desisti. Eu sempre tive o objetivo, a dedicação. Eu nunca neguei isso pra seleção. Muito pelo contrário, sempre trabalhei, sempre me dediquei e sempre fui eu para ser convocada. Só que, infelizmente, as coisas não aconteceram. 

Num futuro próximo, os Jogos Olímpicos de Paris 2024 podem representar a tão almejada chance para se despedir da amarelinha – e é com um singelo “tomara” que uma das maiores figuras do futebol feminino torce pela oportunidade.   

Foto de Livia Camillo

Livia CamilloSetorista

Formada em jornalismo pelo Centro Universitário FIAM-FAAM, escreve sobre futebol há cinco anos e também fala sobre games e cultura pop por aí. Antes, passou por Terra, UOL, Riot Games Brasil e por agências de assessoria de imprensa e criação de conteúdo online.
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