Torcedoras buscam espaço na arquibancada, mas esbarram em truculência das organizadas
Em jogo do Corinthians contra Ferroviária, novamente movimentos de torcedoras foram oprimidos por torcidas organizadas

Enquanto cantavam o hino a plenos pulmões, as integrantes do coletivo “Loucas Por Ti, Corinthians” seguravam a faixa de aproximadamente três metros que continha a sigla da torcida. Ao mesmo tempo, no parapeito da arquibancada visitante da Arena Fonte Luminosa, palco do primeiro jogo das finais do Brasileirão Feminino, a faixa da “Gaviões da Fiel” roubava a cena e ocupava quase toda a extensão do setor. O espaço que sobrou era da “Camisa 12”.
– Eles jogaram a faixa deles por cima da nossa, sem querer nem ao menos debater se dava para dividir o espaço. Vieram empurrando as torcedoras que estavam na fileira da frente, algumas com crianças de colo e elas ficaram assustadas, com medo de que eles partissem pra cima se elas não saíssem de lá. Foi um momento muito desconfortável – contou a presidente do LPTC, Karla Alves, à Trivela.
Na última quinta-feira (7), o grupo de mulheres chegou primeiro ao estádio e, como de costume, estendeu sua faixa. O LPTC esteve em praticamente todos os jogos do Brasileirão Feminino. Por outro lado, a Gaviões pouco compareceu aos jogos das Brabas, mas não quis negociar a divisão de território.

Então, sem conseguirem abrir a possibilidade de conversa com os companheiros de arquibancada, as integrantes do LPTC decidiram carregar a própria faixa durante os 90 minutos de jogo.
– A gente não quer tomar o espaço de ninguém, sabe? A gente só quer ter o nosso lugar e receber respeito. Nós estamos aqui com o mesmo objetivo que eles, não somos concorrentes. Nós não podemos colocar faixa na Arena, porque não somos registradas como organizada. Não queremos isso. Somos um movimento cujo único objetivo é torcer pelo Corinthians.
Por fim, o desabafo das corintianas se misturou à frustração. Mesmo assim, sem deixar de cantar e incentivar o time, o bando de loucas promete seguir firme na luta por espaços nas arquibancadas, mesmo que isso signifique repetir o discurso à exaustão.
– O que nos entristece nessa situação toda é que nós admiramos demais a Gaviões. Muitas das integrantes do LPTC fizeram ou fazem parte da organização, estão sempre presentes nos eventos deles. Nós admiramos e queremos dividir o espaço, ou melhor, somar. Tudo o que a gente pede é respeito. Aliás, já passou a hora de termos que pedir isso.
Modus operandi das torcidas organizadas
A truculência adotada por integrantes da Gaviões não é novidade para as mulheres que ocupam as arquibancadas. Seja na Neo Química Arena ou em partidas de outros times, o comportamento agressivo, principalmente com mulheres, é um modus operandi das torcidas organizadas.
A Trivela ouviu torcedoras que tiveram experiências parecidas com a relatada na última quinta. Os empurrões e trancos são comuns, principalmente quando as mulheres estão nas redondezas do setor destinado à organizada no estádio, por exemplo.
A questão é muito além de qualquer instituição ou qualquer outra organização de arquibancada. No entanto, na visão de Karla, o papel de uma das maiores organizadas do Brasil é tentar ser disruptiva e educar seus membros.
– É difícil mudar um cenário histórico, que se estende há décadas, mas o Brasil tem evoluído tanto, então as torcidas precisam evoluir também. Torço para que isso aconteça, porque se tem uma torcida que pode influenciar outras, essa torcida é a Gaviões, pelo tamanho e importância que tem.
A reportagem entrou em contato com a assessoria da Gaviões, mas não obteve resposta até o fechamento deste texto.
- - ↓ Continua após o recado ↓ - -
Loucas Por Ti, Corinthians: onde ela quiser (torcer)
O coletivo surgiu de um grupo de amigas, em 2016, com uma página do Facebook. O perfil tinha o intuito de falar sobre futebol para o público feminino, mas escalou para algo muito maior e mais significativo.
– Começamos a interagir com as seguidoras, marcar de se encontrar e, quando vimos, estávamos movimentando dezenas de meninas. Na maioria, mulheres que nunca haviam ido ao estádio, por inúmeros motivos. A LPTC nasceu em 23 de abril de 2016, dia de São Jorge.
Além de unir mulheres em prol de uma paixão em comum, o movimento abraçou todos os tipos de torcedoras. É um espaço de representatividade.
– Hoje, no grupo oficial, estamos em média com 200 meninas, não só de São Paulo, mas de outros estados. Numa porcentagem, mais de 50% são mães.
