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A lenda vai descansar: Rapinoe anuncia que se aposentará no fim do ano

Após quase duas décadas de carreira, uma das jogadoras mais emblemáticas da história do futebol feminino vai parar

Megan Rapinoe anunciou neste sábado (8) que vai se aposentar do futebol ao final de 2023. Aos 38 anos, ela anunciou em sua conta oficial do Instagram que irá pendurar as chuteiras em dezembro, ao final da NWSL. Com isso, sairá de cena uma das figuras mais marcantes, importantes e controversas da história do futebol feminino.

“É com um profundo sentimento de paz e gratidão que decidi que esta será minha última temporada jogando. Eu nunca poderia imaginar como o futebol moldaria e mudaria minha vida para sempre, mas pelo olhar no rosto dessa garotinha, acho que ela sabia o tempo todo”, escreveu a craque em uma foto quando criança.

A carreira de Megan Rapinoe

Filha de treinador de futebol, Megan foi mais uma apaixonada por esportes dentro da família Rapinoe. Junto da irmã Rachel, ela se destaca desde jovem nas categorias inferiores do futebol feminino dos EUA. Fez a high school, colegial norte-americano, atuando pelo Elk Grove Pride, onde, destaque, recebeu diversos prêmios e foi selecionada para participar do Programa de Desenvolvimento Olímpico (ODP) dos Estados Unidos, integrando o time deste sistema em 1999 e 2002. Pelo Grove, ela atuou ao lado da irmã e também de Stephanie Cox, que viria a ser sua companheira de seleção dos EUA anos mais tarde.

Futebol universitário e afirmação como destaque

Ainda ao lado de sua irmã gêmea Rachel, Megan seguiu para o futebol universitário, onde atuou no Portland Pilots, equipe feminina de futebol da University of Portland, no Oregon. Logo de cara, em 2004, sua participação foi “suspensa” por um ano, uma vez que ela foi convocada pra defender os EUA no Mundial sub-19 daquele ano e, por isso, não esteve na temporada universitária por conta da preparação e participação no torneio.

Em 2005, quando finalmente conseguiu fazer sua estreia como caloura, Rapinoe ajudou os Pilots a conquistar uma temporada invicta e o Campeonato de Futebol Feminino da Divisão I da NCAA. Um cartão de visitas que daria a dimensão dos feitos que aquela jovem jogadora alcançaria em toda a sua carreira.

O caminho da glória no futebol profissional

Rapinoe foi selecionada em segundo lugar geral no WPS Draft 2009 pelo Chicago Red Stars para a temporada inaugural do Women's Professional Soccer (WPS), a divisão mais alta do futebol nos Estados Unidos na época. Essa relação duraria até dezembro de 2010, quando Rapinoe assinou com a equipe de expansão Philadelphia Independence depois que o Chicago Red Stars encerrou as operações.

A partir daí, Rapinoe seria uma jogadora que passaria por diversos times, sempre jogando muito bem, mas nunca se fixando por muito tempo. Deixou o Philadelphia ao ser trocada para o MagicJack em 2011, enquanto estava na Alemanha para a Copa do Mundo feminina. Foi relatado que, à época, as compensações financeiras envolvidas na transferência foram de US$100.000. O salário médio de uma jogadora da liga norte-americana, nesta época, era de cerca de US$ 25.000 por ano, para se ter ideia de como o valor foi relevante.

Em 25 de outubro de 2011, o WPS votou para encerrar a franquia MagicJack, deixando Rapinoe e muitos outros jogadores como agentes livres para a temporada de 2012. A liga viria a suspender suas operações no começo de 2012.

Copa do Mundo de 2011: vice amargo e lembrança péssima para o Brasil

Durante a partida das quartas de final  da Copa do Mundo de 2011, contra o Brasil, Rapinoe entrou como substituta e fez o cruzamento preciso para o gol de empate de Abby Wambach aos 122 minutos do jogo: um gol que detém o recorde de gol mais tardio já marcado em uma partida da Copa do Mundo. Mais tarde, converteu seu chute durante a disputa de pênaltis para ajudar a enviar os Estados Unidos às semifinais.

Rapinoe descreveu seu cruzamento de última hora contra o Brasil à época da seguinte forma: “Eu apenas dei um toque e acertei com o pé esquerdo. Acho que nunca acertei uma bola assim com o pé esquerdo. Acertei no poste de trás e aquela besta no ar simplesmente conseguiu agarrá-lo”. A jogada foi premiada em todo mundo, inclusive pela própria FIFA. Os EUA perderiam a final para o Japão nos pênaltis.

Vida de agente livre, chegada a Seattle e a consagração para Rapinoe

Já vice-campeã do mundo em 2011 pela seleção dos Estados Unidos, Rapinoe ainda não era a grande jogadora que viria a se tornar, peça-chave para seu país, mas já era uma das melhores do mundo. Sem contrato, fez dois jogos-exibição na Austrália, atuando pelo Sydney FC.

Mas foi durante o verão norte-americano de 2012, que Rapinoe juntou-se às companheiras de seleção dos EUA Hope Solo, Sydney Leroux, Alex Morgan e Stephanie Cox para jogar com o Seattle Sounders Women entre as concentrações para treinamento com a seleção nacional enquanto se preparavam para os Jogos Olímpicos de 2012. E a partir daí o nome Rapinoe se tornou famoso em todo o mundo.

Primeiro, ela conquistou a medalha de ouro com suas companheiras de EUA no que seria seu primeiro título relevante com a seleção após a frustração pelo vice mundial em 2011. Já famosa mundialmente e à espera da Copa do Mundo de 2015, Rapinoe partiu para sua aventura na Europa.

Lyon, Champions League e finalmente Seattle de vez

Em janeiro de 2013, Rapinoe assinou por seis meses com o Olympique Lyonnais, time francês que já havia conquistado seis campeonatos consecutivos da liga francesa e dois títulos europeus consecutivos, por € 11.000 (ou aproximadamente $ 14.000) por mês. Jogou duas Champions League pela equipe, perdendo uma na final e outra nas oitavas.

E então ela voltou para Seattle em 2013, onde ficou até este 2023 e time no qual vai encerrar sua carreira. Quando voltou, o time se chamava já Seattle Reigns FC. Comprado pelo mesmo grupo do Lyon depois, hoje atua sob a alcunha de OL Reigns FC.

Rapinoe, uma lenda em Copas do Mundo

Em 2023, Rapinoe vai tentar algo inédito: o tricampeonato seguido da Copa do Mundo, algo que ninguém nunca conseguiu na história do futebol, seja no feminino ou no masculino. Em 2015 ela foi essencial no título, mas durante o treinamento para uma partida do Victory Tour para comemorar a vitória da equipe na Copa do Mundo no final de 2015, Rapinoe rompeu o ligamento cruzado anterior.

Mas seu ápice foi na Copa de 2019. Aos 34 anos, Rapinoe foi a mulher mais velha a marcar em uma final de Copa do Mundo e foi eleita a melhor jogadora em campo. Ela foi premiada com a Chuteira de Ouro como artilheira do torneio com seis gols, tendo jogado menos minutos que sua companheira de equipe Alex Morgan e a inglesa Ellen White, que também marcou seis gols. Rapinoe também ganhou o prêmio Bola de Ouro como a melhor jogadora do torneio.

Mais que futebol: uma craque fora de campo

Dentro e fora dos campos, Rapinoe sempre se destacou na defesa pelo direito das mulheres e das pessoas LGBTQIAP+. Durante a Copa do Mundo de 2015, ela ficou em silêncio durante o hino nacional. Ela se manifestou contra o uso de estádios com grama artificial, seu primeiro uso em uma Copa do Mundo feminina ou masculina profissional. Além disso, passou anos sem cantar o hino dos EUA por motivações políticas e não visitou a Casa Branca após seu título por discordar do então presidente Donald Trump.

Títulos de Rapinoe

Lyon
  • Campeonato Francês de Futebol Feminino: 2012–13
  • Copa da França de Futebol Feminino: 2012–13
OL Reign
  • NWSL Shield: 2014, 2015 e 2022
  • The Women's Cup: 2022
Estados Unidos
  • Copa do Mundo FIFA: 2015, 2019
  • Jogos Olímpicos : 2012
  • Algarve Cup: 2011, 2013, 2015
  • Campeonato Feminino da CONCACAF: 2014, 2018
  • SheBelieves Cup: 2018

Prêmios individuais de Rapinoe

  • Melhor Jogadora do Mundo pela FIFA: 2019
  • Ballon d'Or: 2019
  • Bola de Ouro da Copa do Mundo Feminina FIFA: 2019
  • Chuteira de Ouro da Copa do Mundo Feminina FIFA: 2019
  • FIFPro World XI: 2019 e 2020
  • Melhor Jogadora do Mundo pela IFFHS: 2019
  • Seleção Mundial Feminina da IFFHS: 2019
  • Equipe feminina ideal da CONCACAF na década 2011–2020 pela IFFHS
Foto de Leonardo Sacco

Leonardo Sacco

Formado em Jornalismo pela Cásper Líbero, fez categorias de base na TV Gazeta, Olheiros e Impedimento, se profissionalizou no Yahoo e desde junho de 2023 é coordenador de conteúdos da Trivela.
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