Kompany teve uma ideia meio radical: teto de jogos para preservar a saúde das estrelas
Técnico do Burnley, Vincent Kompany sugeriu que os principais jogadores deveriam disputar 60 ou 65 partidas por temporada no máximo
O calendário do futebol brasileiro é imbatível, mas o da Europa também virou um ponto de discussão nos últimos anos. Técnicos como Pep Guardiola e Jürgen Klopp reclamaram do excesso de jogos várias vezes, o que prejudica a saúde e a disponibilidade dos jogadores, além da própria qualidade do esporte. E parece que ninguém os está ouvindo porque a Champions League ganhará mais datas a partir do ano que vem e a Fifa pretende criar um Mundial de Clubes expandido. Logo, é improvável que a sugestão de Vincent Kompany, uma das lendas do Manchester City como jogador e técnico do Burnley, seja acatada.
Até porque ela é meio maluca, meio radical e de difícil implementação prática: um teto de partidas por temporada para os principais jogadores.
– Para os jogadores de topo, que têm que jogar pela seleção e todas essas outras competições, deveria haver um limite de partidas dentro de uma temporada. Escolha um número. Não sou eu que tenho que escolher, mas talvez 60 ou 65. Eles ainda terão que trabalhar duro, não me entenda errado, mas 60 jogos custa um pouco. Colocaria mais pressão em técnicos e seleções para bolar um calendário com mais bom senso – disse, segundo o Daily Mail.
Para levar a ideia a sério por um instante, o primeiro problema é definir quais são os jogadores de topo. Apenas os clubes em competições europeias estariam sujeitos a essa regra? E dentro desses elencos, todo mundo ou apenas os que são regularmente convocados pelas seleções? E quantas convocações seriam necessárias? E nunca, de maneira alguma, nem se o inferno congelar e começar a haver congestionamento de porcos no céu, a maioria dos treinadores acharia legal ter uma restrição como essa a quem eles podem escalar – além das lesões e suspensões.
– Há uma parte da liga com uma quantidade enorme de jogadores internacionais jogando ao redor do mundo que descansam pouco. Se eu olhar para a posição em que estamos, em comparação com a segunda divisão na última temporada, está ok, estamos bem. Eu realmente acredito em bom senso. Você não vai manter um jogador fora de finais ou partidas importantes, você não fará isso, mas eu acho que se você decidir, fisiologicamente, que 65 jogos está além do saudável, então esse deveria ser o limite. Então quando ele tem folga, ele tem folga. Os times ficam maiores, os jogadores recebem mais tempo de jogo, todo mundo fica feliz – afirmou.
Tem essa também: o futebol europeu, que já exige uma quantidade insana de dinheiro para competir no mais alto nível, super inflacionado, ainda se recuperando da pandemia, tão desesperado para buscar novas receitas que propôs uma barbeiragem como a Superliga, ficaria mais caro se os clubes precisassem ampliar seus elencos para lidar com um teto de jogos.
A regra de Kompany seria muito aplicada?
Rodri deu uma entrevista no começo da temporada reclamando que não dava para continuar jogando tanto todas as temporadas. Conversou com o Manchester City para diminuir um pouco o ritmo porque “60 jogos não é o melhor para um jogador”. Ele, porém, foi um caso bem especial. Além de ter participado de um time que chegou às finais da Copa da Inglaterra e da Champions League, além das 38 rodadas da Premier League e quartas de final da Copa da Liga, ainda o fez em uma temporada que precisou encaixar a Copa do Mundo. Acabou fazendo 67 partidas no total, 56 pelo City e 11 pela seleção espanhola.
Como, se tudo der certo, nunca mais haverá outro Mundial em novembro, um bom exemplo seria o Liverpool de 2021/22, que entrou em campo até mais vezes que o Manchester City porque também chegou à decisão da Copa da Liga. Fez o máximo de jogos de um clube. Mas foi mais ou menos a mesma coisa também. Jordan Henderson liderou a quantidade de partidas, com 57, e Diogo Jota fez 54. Os dois, Alisson, Van Dijk, Mohamed Salah e Sadio Mané poderiam ter superado o limite de 60 partidas de Kompany, acrescentando os compromissos com a seleção – geralmente 10, divididos em cinco Datas Fifa.
Com esse potencial máximo somado à conta abaixo, a regra seria aplicada principalmente aos times que chegassem longe em competições europeias. Os seis finalistas das três copas da Uefa – Manchester City, Internazionale, Roma, Sevilla, Fiorentina e West Ham – teriam jogadores superando o teto. Carlo Ancelotti aparentemente rodou muito pouco o seu elenco porque o Real Madrid teve 10 jogadores com pelo menos 50 partidas na última temporada. O Milan, também semifinalista da Champions, não passou de 48, com Sandro Tonali e Rafael Leão.
Entre os outros principais clubes da Europa, o Barcelona teve três jogadores que seriam limitados e apresenta um bom exemplo de que o critério deveria ser minutos em vez do número bruto de partidas porque Ansu Fati fez 51 jogos, mas ficou em campo menos de 2.000 minutos. O Manchester United teve cinco, e o Liverpool, um. Tottenham, Arsenal, Milan, PSG, Chelsea, Bayern de Munique e Borussia Dortmund não ultrapassaram o teto de Kompany.