A Suíça aprendeu a atacar, mas parece que se esqueceu de defender

Os clichês adoram a Suíça. Além dos chocolates, da neutralidade geopolítica e dos queijos cheios de buracos, o futebol do pequeno país europeu também costuma ser rotulado. É defensivo, teoria corroborada pelas últimas duas campanhas em Copa do Mundo, nas quais sofreu um único gol e marcou apenas cinco. Quem embarcou nessa para o torneio deste ano, se deu mal, porque os comandados de Hittzfeld não são nem tão bons na defesa e nem tão ruins no ataque.
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Hittzfeld mandou a campo contra Equador e França uma seleção bem ofensiva, com Xhaka na armação, Shaqiri pela esquerda e mais dois atacantes: Stocker e Drmic no primeiro jogo, Mehmedi e Seferovic no segundo. Tentou tirar o melhor de uma geração rara e talentosa de jogadores ofensivos. Tudo isso apoiado por dois laterais – Lichtsteiner e Rodríguez – que avançam bastante.
O resultado: fez quatro gols, mas sofreu seis. Para se ter uma ideia, em apenas quatro das suas oito participações em Copa, a Suíça foi vazada mais do que meia dúzia de vezes (1954, 1962, 1966 e 1994). O diagnóstico é que ainda falta encontrar um equilíbrio entre a ânsia de atacar, agora que aprendeu como se faz, e não esquecer de se defender.
“Não podemos permitir tanto espaço na defesa quando atacamos”, analisa o zagueiro Philippe Senderos, que entrou no lugar de Steve von Bergen, machucado, ainda no primeiro tempo. “Precisamos achar um equilíbrio, jogar mais compactados. Vamos trabalhar isso para o terceiro jogo”.
O meia Gelson Fernandes, autor do único gol suíço em 2010, na vitória contra a Espanha, virou reserva no meio-campo titular e, do lado de fora, analisa quase da mesma forma, mas avisa que também há jogadores de qualidade em outras posições, além do ataque. “Deixamos muito espaço neste jogo e vamos corrigir. Também temos jogadores de contenção. Foi um erro coletivo”, explica.
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O terceiro gol francês foi simbólico. Representou muito bem a forma como a França conseguia fazer a transição da defesa para o ataque sem grandes problemas, em poucos toques de bola, a partir do momento em que roubava a bola. O principal problema defensivo da Suíça na partida, pelo menos de acordo com o zagueiro Johan Djourou. “Eles nos pressionaram bastante e perdemos muitas bolas em zonas difíceis. Neste nível de futebol, contra qualquer time, especialmente esses caras, fica difícil de defender”, afirma. “Foi esse o problema. Precisamos ser mais cautelosos e mais concentrados quando temos a bola, essa é a nossa filosofia. Faltou um pouco de concentração nos gols”.
Enquanto a Suíça tenta recuperar a concentração e a capacidade de se defender, a classificação continua ao alcance das suas mãos. Basta ganhar de Honduras e torcer contra uma improvável vitória de Equador contra a França. Passar às oitavas de final já seria um feito a se comemorar, mesmo que o adversário seja a Argentina, provável líder do Grupo F. “Para um país como a Suíça, a classificação seria excepcional, seria um grande feito”, conclui Senderos.