Real Madrid tenta mudar 122 anos de história para manter Mbappé, Bellingham e Vini Jr
Florentino Pérez, presidente do clube, quer mudar o modelo de propriedade do gigante espanhol, vendo a privatização como alternativa viável
Ao longo dos 122 anos de sua história, o Real Madrid, fundado pelos irmãos do ramo têxtil de Madri, Juan e Carlos Padrós, foi propriedade de seus sócios. Mas a realidade do clube pode mudar nos próximos dias.
O gigante espanhol possui dívidas de 2 bilhões de euros (R$ 12,1 bilhões). A reforma do Santiago Bernabéu foi financiado por 1,6 bilhão de euro (R$ 9,6 bilhões) em empréstimos e vendas de fluxos de receita futuros. Isso inclui a venda de 30% da receita do estádio pelos próximos 20 anos.
De acordo com o jornal “Telegraph”, o caminho escolhido pelo presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, homem mais rico da Espanha, para manter os altos padrões financeiros do clube, é a privatização.
Pérez crê que a solução é a venda de parte do clube para um investidor recapitalizar, pagar dívidas e manter os custos operacionais de um clube que tem superestrelas, como Jude Bellingham, Kylian Mbappé e Vinicius Junior.
De acordo com o site espanhol “Mundo Deportivo”, Vinicius Junior e Bellingham recebem 20,83 milhões de euros (R$ 126 milhões) por ano, enquanto Mbappé ganha um salário de 26 milhões de euros (R$ 157,4 milhões) anuais.
Entretanto, existe um problema. São mais de 100 mil membros que possui ações no Real Madrid. A maioria teve suas associações passadas de geração a geração de famílias, o que as torna improváveis de vender.
Tentativas do Real Madrid
A Superliga Europeia foi a tentativa de Pérez abocanhar uma fatia maior do mercado de direitos em que as receitas de La Liga são ofuscadas pelas da Premier League. Quando a ideia da criação da competição falhou, ele não teve muitas opções a não ser tentar mudar o modelo de propriedade do Real Madrid.
No entanto, para que essa mudança no modelo de propriedade do Real Madrid caminhasse, seria necessária uma mudança na lei. A legislação de 1990 que concedeu um status especial de propriedade de membros a apenas quatro clubes — Real, Barcelona, Athletic Bilbao e Osasuna — já foi considerada pelo Tribunal Europeu como auxílio estatal ilegal.
Essa lei exigiu que todos os outros clubes mudassem para o status de empresa pública limitada (SADs na Espanha). O poder regulatório para permitir que o Real Madrid mude seu modelo fica a cargo do governo regional, mas não há nenhuma lei que exista atualmente para fazê-lo.
Há também uma questão de responsabilidade de ganhos de capital em qualquer mudança de modelo de propriedade. Qualquer isenção especial do estado espanhol despertaria o interesse dos rivais do Real Madrid na União Europeia.
Pérez x La Liga
Agora, o desafio é pedir aos membros que abram mão das partes que têm no clube para que o Real Madrid possa continuar pagando salários milionários e altas taxas de transferência. Segundo o “Telegraph”, Pérez já está em contato com pessoas influentes no grupo de membros.
O jornalista espanhol Ramon Álvarez de Mon publicou esta semana que Pérez havia avisado que uma emenda à lei esportiva de 1990 permitira que La Liga controlasse as finanças dos clubes de propriedades dos membros, como é o caso do Real Madrid.
Ele recebeu uma resposta do próprio presidente da La Liga, Javier Tebas, que descartou a noção de que ele tinha tanto poder. “Você não acha que é mais uma desculpa para mudar o modelo de propriedade do clube?“, Tebas perguntou.
Tebas e Perez são oponentes. O apoio contínuo de Pérez ao projeto da Superliga e seu desdém pela La Liga e pela Uefa, apesar do Real continuar a jogar em suas competições, é de longa data. São as rixas nas quais o presidente do gigante espanhol pode contar com o apoio dos torcedores de seu próprio clube.
Mas convencer os membros de abrir mão de sua filiação, que foi passada por gerações de suas famílias, é algo bem diferente.