Europa

O fracasso de Nicolas Pepe no Arsenal se conclui com a saída de graça ao Trabzonspor

Segunda contratação mais cara da história do Arsenal, ultrapassado apenas por Declan Rice, Pepe sai pela porta dos fundos após quatro anos sem emplacar

A contratação de Nicolas Pepe fazia sentido para o Arsenal há quatro anos. O ponta vinha de uma temporada excelente na Ligue 1 pelo Lille e indicava ter potencial para se firmar na Premier League. Bem mais questionável era o valor exacerbado pago pelos Gunners, €80 milhões, naquele que se tornava o negócio mais caro da história do clube e seria superado apenas pela chegada de Declan Rice na atual temporada. No entanto, Pepe nunca desabrochou no norte de Londres. Seus números nem são de todo ruins, mas nem de longe atingiram as expectativas. E a despedida do marfinense é com uma enorme sensação de decepção: aos 28 anos, o atacante foi apresentado como reforço pelo Trabzonspor. Chegou sem custos, liberado pelos londrinos.

A maneira como o Arsenal permite que Pepe saia de graça é o maior sinal do fracasso de sua passagem pelo Emirates. Sequer era atrativo para o clube manter o atacante, com contrato até o final da atual temporada. Os Gunners se viam muito mais interessados em seguir em frente e se livrar do salário do marfinense. Não há qualquer sinal de espaço para Pepe no atual elenco, ainda mais com o nível apresentado por Bukayo Saka ao longo das últimas temporadas. O antigo “reforço mais caro” virou também o estorvo mais caro.

E a mudança para o Campeonato Turco mostra como mesmo as esperanças de ver Pepe em alto nível se perderam. O atacante passou a última temporada emprestado ao Nice. Foram oito gols em 23 partidas pelo clube, com o marfinense durante longos meses no estaleiro por uma lesão no joelho. Não havia confiança nem em sua qualidade técnica e nem em sua capacidade física para arranjar um novo contrato nas principais ligas. O Trabzonspor vira um atrativo pelos salários mais altos pagos na Turquia. É um clube tradicional, mas que também dá um tiro no escuro ao contratar Pepe.

A ascensão de Pepe

Embora atue pela seleção da Costa do Marfim, Pepe nasceu na França e desenvolveu sua carreira no país. Começou inclusive como goleiro, até sua velocidade levá-lo ao ataque na adolescência. O ponta deslanchou no Angers e passou um período emprestado ao Orléans, na terceira divisão, antes de fazer sua primeira boa temporada na Ligue 1. O garoto combinava potência e habilidade, com destaque na campanha do Angers em 2016/17, quando o time foi vice-campeão da Copa da França. Diante do interesse de Marcelo Bielsa, o Lille resolveu não economizar em sua contratação e pagou €18 milhões em julho de 2017. O valor se compensou.

Pepe viveu suas duas melhores temporadas no Lille, de longe, especialmente a partir da chegada de Christophe Galtier ao comando. Durante o primeiro ano no clube, o garoto apresentou uma veia artilheira que sequer tinha se evidenciado no Angers. Foram 13 gols e cinco assistências na Ligue 1. Pois seus números se tornaram ainda melhores em 2018/19: garantiu 22 gols e 11 assistências em 38 rodadas, presente em todas as partidas do Campeonato Francês. O ápice aconteceu no embate contra o Paris Saint-Germain, em que anotou um gol e ainda garantiu duas assistências na goleada por 5 a 1. Os Dogues terminaram com o vice-campeonato, mas o moral de Pepe ia para as alturas.

Diante da oferta do Arsenal, não tinha como o Lille recusar a venda de Pepe. Foi um dinheiro importante inclusive para auxiliar os Dogues a conquistarem a Ligue 1 duas temporadas depois. Enquanto isso, os Gunners apostavam em um novo protagonista que, a bem da verdade, nunca deu as caras no Emirates. A primeira temporada de Pepe pelo Arsenal não foi mais do que comum, com cinco gols e seis assistências pela Premier League. Começou sob as ordens de Unai Emery e até marcou gol na primeira vitória com Mikel Arteta, mas não que tenha subido de produção com o novo treinador. Chegou a passar alguns períodos na reserva. Só brilhou mesmo na reta final da Copa da Inglaterra.

Pepe começaria a esquentar o banco de Willian no início da temporada 2020/21. Sem que o brasileiro engrenasse, até ganhou mais espaço na reta final da temporada, mas nada que justificasse suas cifras. Foram dez gols naquela edição da Premier League, num número enganoso pelos cinco tentos contra oponentes da parte inferior da tabela nas últimas três aparições pelo campeonato. O Arsenal sequer se classificou às copas europeias, tão fraca a sua campanha. Também não foi a caminhada até as semifinais da Liga Europa em 2020/21 que aliviou as cobranças sobre o rendimento de Pepe.

Por fim, a temporada de 2021/22 confirmou como Pepe se tornou descartável para o Arsenal. Disputou o início da Premier League como titular, mas a paciência se esgotou em cinco rodadas. A partir de então, ficou limitado ao banco de reservas e mal entrou nos jogos. Nem existia razão, diante da forma como Bukayo Saka tomou a posição. Novos ares seriam bem-vindos e o empréstimo ao Nice em 2022/23 garantiu a chance de mostrar serviço de volta à Ligue 1. Nem o reencontro com o ambiente que já conhecia o impulsionou. Foi um jogador comum, que não parecia mais atrativo para os principais mercados.

A janela de transferências na Turquia

Campeão turco há duas temporadas, o Trabzonspor garantiu alguns jogadores renomados neste mercado de transferências. A principal contratação até então tinha sido a de outro ponta, Mislav Orsic, para jogar na esquerda. O antigo ídolo do Dinamo Zagreb não deu certo no Southampton e saiu após o rebaixamento. Outras figuras como o zagueiro Filip Benkovic e o atacante Taxiarchis Fountas também viram alternativas, mas nada tão estrondoso. A base do elenco preserva outros bons nomes, como o goleiro Ugurcan Çakir, o lateral Jens Stryger Larsen, o meio-campista Anastasios Bakasetas, o armador Enis Bardi e o ponta Edin Visca. Mas não que a Tempestade do Mar Negro soe como candidata ao título novamente, com duas derrotas e duas vitórias no início da Süper Lig 2023/24.

Pepe engrossa uma janela de transferências abastada na Turquia, e que se encerra apenas em 15 de setembro. A lista de reforços é enorme, sobretudo no trio de ferro de Istambul. Atual campeão, o Galatasaray ainda conseguiu novos medalhões, visando a fase de grupos da Champions. Os Leões asseguraram a permanência de Mauro Icardi após empréstimo. A lista de compras inclui ainda Davinson Sánchez, Kerem Demirbay, Angeliño e Cédric Bakambu. Wilfried Zaha e Tetê vieram ao final de seus contratos. O Gala também assegurou os empréstimos de Hakim Ziyech e Tanguy Ndombélé. Por outro lado, Nicolò Zaniolo, Bafétimbi Gomis e Juan Mata foram os figurões mais conhecidos que se despediram.

Em termos de qualidade, a janela do Fenerbahçe não fica muito atrás, em busca de seu primeiro título no Campeonato Turco em dez anos. Os Canários gastaram bem mais em contratações, num mercado extenso que inclui Cengiz Ünder, Sebastian Szymanski, Fred, Rodrigo Becão e Dominik Livakovic. O Fener foi ainda mais esperto em seus negócios sem custos, ao fisgar no fim do contrato Dusan Tadic, Edin Dzeko, Ryan Kent e Alexander Djiku. O clube também soube vender bem alguns jogadores, em especial com as saídas dos talentosos Arda Güler e Attila Szalai. Enner Valencia também foi embora entre os mais tarimbados, sem custos.

Por fim, o Besiktas conseguiu nomes conhecidos, mas num degrau abaixo dos principais rivais. A bombástica tentativa de levar Sergio Ramos não deu certo. O mercado dos alvinegros teve as contratações de Milot Rashica, Jean Onana e Arthur Masuaku. O clube conseguiu ao fim do contrato as aquisições de Daniel Amartey, Eric Bailly, Alex-Oxlade Chamberlain e Ante Rebic. Romain Saïss e Nathan Redmond deixaram os alvinegros, enquanto o ídolo Atiba Hutchinson não teve seu contrato renovado, na reta final da carreira.

Já entre os clubes de escalões inferiores do Campeonato Turco, ainda há uma relação longa de medalhões. Para ficar em dez: Nani (Adana Demirspor), Krzysztof Piatek (Istambul Basaksehir), Stefano Sturaro (Fatih Karagümrük), Steven Nzonzi (Konyaspor), Gianelli Imbula (Istanbulspor), Rafal Gikiewicz (Ankaragücü), Britt Assombalonga (Antalyaspor), Gerson Rodrigues (Sivasspor), Max Gradel (Gaziantep) e Óscar Romero (Pendikspor).

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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