Eurocopa 2024

Os 60 anos da Eurocopa: A história completa, parte III (1992-2004)

Nesta quarta, a terceira parte do especial recordando a história da Eurocopa, na semana em que o torneio completa 60 anos. Para conferir a primeira parte, você pode acessar por este link. Já a segunda parte está disponível aqui.

Suécia 1992: A penetra que virou dona da festa

1991. Fim das eliminatórias para a Euro. No grupo 4 da classificação, a Iugoslávia consegue a vaga. Chance de uma boa campanha para os iugoslavos, que chegaram às quartas-de-final na Copa de 1990, certo? Errado. Com o país sendo dizimado pelos graves conflitos entre sérvios e croatas – com bósnios e albaneses também participando -, a Iugoslávia foi desclassificada da Euro-92 pela Uefa. E a Dinamarca recebeu a vaga de presente, quando muitos jogadores já até planejavam o que fazer nas férias.

Richard Moller-Nielsen, treinador danês, se preparava para remodelar a cozinha de casa quando recebeu a tarefa de preparar os roligans (não confundir com “hooligans: os dinamarqueses são conhecidos como roligans – “alegres”, em dinamarquês – pelo aspecto festivo e pacífico de sua torcida) para o torneio. E precisou fazê-lo sem poder contar com a estrela principal: Michael Laudrup brigara com ele e não estaria na Suécia. Menos mal que ele contaria com Brian Laudrup, já figura destacada no ataque, auxiliado por Henrik Larsen e John “Faxe” Jensen no meio, e tendo no gol a figura já respeitada e reconhecida de Peter Schmeichel.

No grupo A, a Dinamarca teria de enfrentar os donos da casa, no exato momento em que recolhiam os cacos da péssima participação na Copa de 1990 e já deixavam o time pronto para conseguir a terceira colocação dali a dois anos, nos EUA. Já estavam lá Brolin, Dahlin, Kennet Andersson, Klas Ingesson, Ljung, Jonas Thern e, claro, Ravelli.

Pode-se dizer que os escandinavos do grupo estavam melhores do que as duas forças mais conhecidas do grupo A. A França, de volta, ainda possuía resquícios do título de oito anos antes: Amoros e Fernandez estavam no time, treinado justamente pela estrela da conquista, Michel Platini. Mas o momento era de reconstrução para os Bleus: já havia novatos como Petit, Deschamps, Laurent Blanc e Angloma. O único jogador que dava esperança aos Bleus era o atacante Papin.

Do lado inglês, a situação era ainda mais dramática. Graham Taylor não conseguia peças satisfatórias para substituir os remanescentes do time que fizera bom papel na Copa da Itália. Se Stuart Pearce e Gary Lineker – este, disputando as últimas partidas pelos Three Lions – ainda diziam presente, também estavam lá gente que sumiria na poeira, como Daley, Palmer e Sinton. Se David Platt já tinha experiência, gente como Keown, Batty e, principalmente, Alan Shearer só explodiriam no futuro.

Voltemos às eliminatórias da Euro. A União Soviética conseguiu a vaga. Promessa de um time mais ameaçador para tentar melhorar o vice de 1988, certo? Errado, novamente. Ninguém sabia que, ainda em 1991, a URSS se desmilinguiria no anseio de independência das repúblicas que a formavam. Não que ela tenha perdido a vaga: chegou à Euro, mas já sob o nome de CEI (Comunidade dos Estados Independentes). Não seria moleza ter, no mesmo time, jogadores de Rússia, Ucrânia e Geórgia.

Para piorar, a CEI teria, no grupo B, as duas favoritas ao título. Se é que era possível, a Holanda voltava com um time ainda mais forte que o de 1988 para tentar o bi. Ainda estavam lá Van Breukelen, Rijkaard, Koeman, Wouters, Gullit e, mesmo com o tornozelo perturbando-o, Van Basten, provavelmente o melhor do mundo à época. De quebra, o time de Rinus Michels ainda ganhava o reforço de dois jovens promissores: Frank de Boer e, principalmente, Dennis Bergkamp. E a Alemanha, unificada e campeã mundial, mantinha boa parte do time: Illgner, Brehme, Buchwald, Hässler, Matthäus, Klinsmann, Völler, todos aliados a novos valores, como Matthias Sammer e Stefan Effenberg. Completando o grupo, uma Escócia que saiu tão incógnita como entrou na Euro.

O grupo A foi mais truncado, com muitos empates e vitórias magras. Após empatarem com franceses (1 a 1), os suecos aproveitaram o fator casa e o bom time que já tinham para vencer Dinamarca e Inglaterra, e chegarem às semifinais. Os dinamarqueses até perderam a chance de vencer o decadente English Team (0 a 0), mas trataram de obter a vitória necessária contra o time de Platini para acompanhar a Suécia nas semis. Ingleses e franceses caíam na crise que seria consumada com a ausência na Copa-94.

Já no grupo B, holandeses e alemães tiveram dificuldade contra a CEI, que arrancou dois honrosos empates (0 a 0 e 1 a 1, respectivamente). Mas a ex-URSS acabou fraquejando justamente contra os mais fáceis escoceses, que golearam-na por 3 a 0. E justamente os britânicos serviram de desafogo – difícil – para a Laranja (1 a 0) e os germânicos (2 a 0) conseguirem a vaga nas semis. Na decisão do primeiro lugar do grupo, o objetivo alemão de revanche da semifinal de 1988 terminou na partida exuberante de Bergkamp, comandante holandês no 3 a 1 que lembrou as grandes performances holandesas quatro anos antes.

A primeira semifinal, no Rasunda de Estocolmo, não foi lá muito difícil para os alemães. Hässler e Riedle fizeram 2 a 0. Brolin ainda diminui, de pênalti, mas, a dois minutos do fim, Riedle, novamente, sacramentou a volta alemã a uma final de Euro. No esforço final, Kennet Andersson ainda diminuiu no minuto seguinte, mas já era tarde.

No segundo jogo, em Gotemburgo, a Holanda acabou naufragando no excesso de confiança que se seguiu à vitória contra os rivais alemães. Nem mesmo o gol de Henrik Larsen, logo aos 5 minutos de jogo, diminuiu a calma holandesa. Bergkamp parecia comprovar a certeza do bi ao empatar, com 23 do 1º, mas o imparável Larsen, dez minutos depois, fez 2 a 1. Daí por diante, os daneses dominaram as ações, mas um único vacilo, a quatro minutos do fim do tempo normal, foi suficiente para Rijkaard empatar. Mesmo assim, o zagueiro nem comemorou muito, como se vencer a Dinamarca fosse apenas um passo em direção ao que seria o clímax: uma nova vitória contra os alemães.

Assim, nem se fez muita questão de definir o jogo na prorrogação. Após oito anos, a decisão por pênaltis voltava à Euro. Na segunda cobrança da série, Van Basten, logo ele, cobrou rasteira, telegrafando para Schmeichel defendê-la sem esforço. Ninguém erraria mais. Com o 5 a 4 final, a Dinamarca deixava de vez a condição de zebra, vencia o favorito ao título e ganhava uma injeção incalculável de moral para uma final que parecia inalcançável. Aos incrédulos holandeses, restava o 3º lugar e a despedida de uma geração brilhante.

Na final, também em Gotemburgo, a Alemanha começou arrasadora, mas parou na muralha Peter Schmeichel, que provou ali ser o melhor goleiro da Euro. Quieta, a Dinamarca, então, tratou de marcar, aos 18 minutos, com Jensen. O que se viu, então, foi uma pressão incansável dos alemães, que continuaram insistindo – e vendo Schmeichel como um barreira intransponível. Até que, aos 33 do 2º, Kim Vilfort tornou a penetra, definitivamente, dona da festa.

O antes utópico título europeu chegava, para espanto mundial. Foi até surpreendente, mas não deixa de ser justo, tendo em vista a importância dinamarquesa conquistada naqueles oito anos desde a aparição na Euro-84.

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Inglaterra 1996: Várias mortes lentas, uma morte súbita

Vendo a crescente dificuldade que vários países europeus tinham para conseguir uma vaga no próprio torneio continental, enquanto o número de vagas do Velho Continente continuava grande nas Copas, a UEFA decidiu fazer uma grande alteração no formato da Euro: ao invés de oito, seriam 16 times a participar da competição, agora, divididos na primeira fase em quatro grupos, o que obrigou também o surgimento da fase de quartas-de-final.

O cenário para a competição recauchutada seria a Inglaterra, que, após ver o Relatório Taylor enterrar as lembranças das tragédias de Heysel e Hillsborough, reformulando profundamente a organização e os estádios ingleses, teria a chance de provar sua ressurreição futebolística para o continente.

O grupo A ajudou a Inglaterra a mostrar que estava recuperada e pronta para ocupar o terreno perdido. Terry Venables treinava um time que mesclava a experiência de Gascoigne, Platt, Paul Ince, Stuart Pearce e Tony Adams à juventude dos novos talentos, como os irmãos Neville (Phil e Gary), McManaman e Robbie Fowler, sem contar a fase abençoada que Alan Shearer vivia, fazendo gols no atacado e no varejo.

Não foi preciso muito mais para, em Wembley, após um empate contra a Suíça, superar Holanda (com um categórico 4 a 1) e a rival Escócia (um 2 a 0 que conteve um lendário gol de Gascoigne: “Gazza” recebeu lançamento alto de Darren Anderton, deu um chapéu humilhante em Colin Hendry e mandou, sem deixar a pelota cair, no ângulo de Andy Goram, no que foi um dos mais bonitos gols de uma carreira tão fulgurante quanto conturbada, que teve um de seus pontos altos na Euro).

A outra vaga nas quartas dependeu de um gol. Embora a Holanda já tivesse a geração do Ajax campeão da Liga dos Campeões 1994/95, ela sofria com gravíssimos problemas de relacionamento entre os jogadores, por questões raciais entre alguns jogadores brancos e alguns negros. Tais discussões podem ter colaborado para a péssima performance na derrota para a Inglaterra. Mas, com 4 a 0, os ingleses relaxaram e Kluivert conseguiu fazer o gol de honra, ao passo que os escoceses não saíram do 1 a 0 contra uma Suíça que via necessário o início da renovação da geração que levara o país à Copa de 1994. Com 4 pontos para cada um, a Laranja chegava às quartas no número de gols feitos (3 contra 1).

O grupo B mostrou a recuperação de outro gigante europeu adormecido: a França. Aimé Jacquet conservou veteranos que mostraram serviço na fraca campanha da Euro-92, como Blanc, Angloma e Deschamps, e começou a azeitar o time para a Copa em casa, dali a dois anos, com Thuram, Lizarazu, Karembeu, Dugarry e, principalmente, Zidane, todos ligados por gente com certo tempo nas costas, como Desailly, Djorkaeff, Di Meco e Guerin. O único da “nova geração” a não ter oportunidades foi Barthez, que ainda seria reserva de Bernard Lama.

E, assim como no caso inglês, os gauleses não suaram muito para sobrepujar Romênia (que, mesmo com boa parte do time que fez bonito na Copa, como Belodedici, Hagi, Munteanu e Raducioiu, foi irreconhecível na Euro, não somando ponto algum) e Bulgária (esta, com a geração 4ª colocada na Copa de 1994, de Mihaylov, Ivanov, Balakov, Kostadinov, Letchkov e, claro, Stoichkov, já mostrando os sinais do esgotamento que levariam à péssima campanha em 1998). E lá foi a França para as quartas, seguida de uma Espanha que mesclava velhos-de-guerra como Zubizarreta, Alkorta, Hierro, Nadal e Salinas a experimentos com gente que não emplacaria a Copa de 1998, como Manjarín, Amavisca e até o brasileiro naturalizado Donato.

No grupo C, um cenário parecido com o A: três seleções a brigar pelas duas vagas (Alemanha, Itália e República Tcheca, na sua primeira aparição após a Revolução de Veludo) e uma completa coadjuvante (Rússia). Com um time esbanjando experiência em Köpke, Helmer, Kohler, Dieter Eilts, Sammer, Möller, Hässler e Klinsmann, somado a gente que tinha naquela Euro sua primeira oportunidade (como Bobic, Scholl e um certo Bierhoff), os germânicos conseguiram a vaga nas quartas sem tanta dificuldade, passando facilmente por russos (3 a 0) e tchecos (2 a 0).

A segunda vaga, também como no grupo A, foi definida no número de gols. A República Tcheca, se tinha decanos da Tchecoslováquia da Copa de 1990, como os zagueiros Kubik e Kadlec e o meia Nemec, mostrava os primeiros frutos de uma geração que faria sempre bons papeis, como Nedved, Poborsky, Smicer e Patrik Berger. E os italianos não deixavam por menos, somando a veteranos do vice mundial – Maldini, Costacurta, Dino Baggio, Donadoni, Albertini e Casiraghi – ora gente que não estivera nos EUA (exemplos maiores no goleiro Peruzzi, no lateral Carboni e no atacante Ravanelli), ora novos valores, como Del Piero e Nesta.

O segundo lugar do grupo talvez tenha se definido na vitória tcheca sobre a Azzurra – 2 a 1, em Liverpool. Daí, a falta excessiva de gols no último jogo italiano (empate sem gols contra a Alemanha) e o inverso para os tchecos (3 a 3 contra a Rússia) encarregaram-se de levar o time de Dusan Uhrin para a próxima fase.

O lugar das surpresas da Euro foi no grupo D. Após dez anos sem estar numa competição relevante, Portugal surpreendeu. Veteranos como o zagueiro Oceano viram florescer, pela primeira vez, a já madura geração de Vitor Baía, Fernando Couto, Rui Costa, Figo e os dois “Pintos” do ataque, João e Ricardo Sá. Resultado: um estilo de jogo ofensivo e insinuante, que trouxe vitórias com autoridade, como o 3 a 0 aplicado na outra boa surpresa do grupo, os croatas.

Poucos sabiam, mas o esqueleto do time que seria 3º lugar em 1998 já estava prontinho. Já estavam lá os esteios da zaga, o goleiro Ladic, o beque Bilic e o lateral-esquerdo Jarni; Asanovic e Stimac, dois bons cabeças-de-área; Prosinecki e Boban, dois armadores à moda antiga, que alimentavam de chances como poucos a dupla de ataque Boksic e Suker, dos melhores atacantes europeus. Portugueses e croatas foram surpresas negativas somente para os dinamarqueses. Mesmo com Michael Laudrup de volta, jogando junto com o irmão Brian, Schmeichel e Vilfort (e como gente nova, como Tofting e Helveg), os escandinavos só conseguiram um empate por um gol contra os Tugas e uma derrota desalentadora contra os da camisa quadriculada. Só restou vencer a Turquia, esta última também uma surpresa, mas sem causar perigo algum, saindo sem pontos da Euro, embora já com gente como Rüstü e Hakan Sükür para dar esperança.

Quartas-de-final iniciadas, iniciado também o período das “mortes lentas”: dos quatro jogos, dois foram definidos nas penalidades. Num Wembley apinhado, a Inglaterra, mesmo com um começo de pressão sobre Zubizarreta, sofreu com a Espanha, que teve dois pênaltis não marcados no tempo normal. Com os 120 minutos encerrados sem gols, restaram as cobranças. Hierro acabou chutando a sua no travessão, enquanto Nadal teve a cobrança defendida por David Seaman. Convertendo as quatro cobranças, o English Team saiu com a vaga nas semifinais, empolgando o país, que sonhava com um novo título em casa.

Em Liverpool, Anfield viu uma partida das mais modorrentas. França e Holanda jogaram os 120 minutos pobres, o que resultou, claro, em novo 0 a 0. Nas cobranças, tudo certo até o quarto chute holandês, com Lama barrando o chute de Seedorf, que saiu inconsolável. Foi a única cobrança perdida: os franceses seguiam às semifinais com o 5 a 4, enquanto o time de Guus Hiddink até conseguia um bom resultado, tendo em vista as turbulências internas.

Nas outras duas partidas, foi a vez de as surpresas verem o fim do sonho: respectivamente em Manchester e Birmingham, Alemanha e República Tcheca também economizaram nos gols para, ainda no tempo normal, serem os estraga-prazeres de croatas (vitória do Nationalelf por 2 a 1) e Portugal (tchecos 1 a 0).

As semifinais resultariam em mais “mortes lentas” nos pênaltis. No Old Trafford, mais um jogo chatíssimo. Franceses e tchecos pareciam com medo de fazer gols: ambos entraram em campo com só um atacante no esquema. Novos 120 minutos sem gols, e novo 0 a 0. Nos tiros da marca penal, todo mundo converteu, até Reynald Pedros chutar nas mãos de Petr Kouba e o veterano Kadlec decretar o 5 a 4 que colocaria a República Tcheca em sua primeira final de Euro logo após a independência. E os Bleus, mesmo curtindo a dor de ver a série de 30 partidas de invencibilidade acabar de maneira tão decepcionante, tiveram o consolo de ver premiada com uma boa campanha a equipe que já estava quase pronta para as alegrias que daria dois anos depois.

O jogo da Euro-96 a ficar na história seria a outra semifinal. Num Wembley – o velho Wembley, ainda com torres e tudo – com o maior público do torneio (75.862 pessoas) a Inglaterra via a chance de igualar 1966 e derrotar os rivais alemães. O começo não poderia ser melhor: já aos 3 minutos, Tony Adams escorou, de cabeça, um escanteio de Ince, e o inefável Shearer fez seu quinto gol na Euro (seria o artilheiro). Mas o otimismo não durou muito: logo aos 16 minutos, Stefan Kuntz, livre na área, empatou. Dali em diante, mesmo sem gols, um jogo elétrico, com a Inglaterra, liderada por um inspirado Gascoigne, mais perto do gol – mas sempre bloqueada pela matreira dupla de cabeças-de-área germânicos Eilts e Helmer. E o 1 a 1 persistiu até o fim da prorrogação.

Nos pênaltis, tudo certo para britânicos e tedescos até o sexto pênalti. Ali, Gareth Southgate, com uma cobrança fraca, entraria para a lista inglesa de vilões de decisões por pênaltis, que já tinha o também presente em campo Pearce (que, por sinal, convertera sua cobrança, exorcizando o fantasma que ainda era o chute desperdiçado na semifinal da Copa de 1990, também entre alemães e ingleses). E Andreas Möller pôs a Alemanha na quinta final de Eurocopa, para desespero inglês.

No mesmo Wembley, a final entre alemães e tchecos começou morna, com aqueles pressionando mais e estes apostando nos contra-ataques. O jogo só esquentaria no segundo tempo. Aos 14 minutos, Matthias Sammer derrubou Poborsky na área e Patrik Berger converteu o penal. Repetição do cenário de 1976? Não, porque, dez minutos depois, Berti Vogts colocou em campo o até então coadjuvante Oliver Bierhoff. Emparceirando-se no ataque com Klinsmann – que seria consagrado o melhor jogador do torneio -, Bierhoff teria logo na final o momento de aparição para o mundo. Com apenas quatro minutos em campo, aos 28 do 2º, empatou. E a final foi para a prorrogação, não sem antes Vladimir Smicer, no último minuto, acertar a trave de Köpke. A prorrogação resultaria em uma “morte lenta”? Não. Logo aos 5 minutos, veria-se a primeira aparição do “Golden Goal”, a famosa “morte súbita”, num torneio internacional.

E a única “morte súbita” da Euro seria decisiva: o iluminado Bierhoff, na área, mandaria de canhota. O desvio em Hornak tornaria a bola perigosa para Kouba, que tentou encaixá-la, mas deixou que ela escapasse e fosse para as redes. O tri chegava para a seleção alemã por meio do coadjuvante Bierhoff – que, diz a lenda, só foi incluído entre os 22 convocados por Berti Vogts por conselho da esposa do treinador. Mas, num torneio enfadonho, a grande vencedora foi a Inglaterra – o país, não a seleção, que provava a recuperação interna de seus estádios e preparava-se para voltar a ganhar espaço no futebol mundial.

Bélgica/Holanda 2000: Sorte de campeã

No primeiro torneio sediado por dois países na história do futebol internacional, o grupo A mostraria o quanto a geração de ouro portuguesa, Figo e Rui Costa à frente (mas sem deixar de mencionar João Pinto, Sérgio Conceição, Nuno Gomes, Pauleta, Fernando Couto e Abel Xavier), estava na ponta dos cascos. A estréia, contra a Inglaterra, foi uma mostra disso: mesmo com os britânicos – esta mesclando veteranos como Tony Adams, Paul Ince e Alan Shearer com a já estabelecida geração de Scholes e, claro, Beckham, sem contar a força jovem de Owen e Gerrard – abrindo 2 a 0 aos 18 do primeiro tempo, os Tugas de Humberto Coelho tiveram força e calma suficiente para virar o jogo. Vale destacar, no 3 a 2 de Eindhoven, o primeiro gol luso, um tirambaço de Figo que atingiu a microcâmera postada no ângulo do gol de Seaman.

Os outros dois jogos portugueses não ficaram atrás: uma vitória sofrida contra os romenos – só aos 49 do 2º viria o triunfo, a bordo de um cabeceio de Costinha – deu a classificação para as quartas-de-final e permitiu que Coelho se desse ao luxo de colocar um time reserva, que venceu uma Alemanha campeã, mas decadente. Ao apelar para a geração de Hässler e Kirsten (ambos com 34 anos) e Matthäus (39 anos), o técnico Erich Ribbeck não conseguia desenvolver a geração de Ballack, Jancker e Deisler, terminando a Euro na lanterna do grupo, com apenas um ponto. Já os lusos, com três vitórias em três jogos, eram acrescidos à lista dos favoritos.

A definição da segunda vaga foi emocionante. Com uma derrota e a vitória contra a Alemanha (1 a 0), a Inglaterra chegava para a partida decisiva, na belga Charleroi, precisando apenas de um empate contra a Romênia, que fora derrotada pelos portugueses, após empatar com a Alemanha. A Tricolori já vivia o clima de adeus da geração de Hagi, Petrescu, Dumitrescu, Munteanu e Belodedici, todos presentes à Euro, mas já via o futuro nas figuras de Mutu, Chivu e Cosmin Contra.

Parecia que não seria suficiente: mesmo após Chivu fazer 1 a 0, Shearer e Owen viraram o jogo. No início do 2º tempo, Munteanu empatou, mas a igualdade favorecia o English Team de Kevin Keegan. Os comandados de Emerich Jenei continuaram em busca da vitória, e foram premiados deliciosamente: aos 44 minutos, Ioan Ganea converteu um pênalti cometido por Phil Neville em Moldovan. Os romenos arrancavam, no último minuto, a vitória que lhes deu a vaga. E Kevin Keegan começava a sofrer a pressão que resultaria em sua demissão, meses depois.

O grupo B também teve surpresa, todavia não no primeiro lugar: a Itália de Dino Zoff mesclava veteranos como Ferrara, Maldini e Albertini à predominância da promissora geração de Totti, Del Piero, Cannavaro, Zambrotta, Nesta e Pippo Inzaghi, mistura que também resultou em cem por cento de aproveitamento no grupo.

Surpreendente foi mesmo a segunda vaga: após vencer a estreia, no antigo Heysel de Bruxelas, renomeado Rei Balduíno, contra a Suécia – 2 a 1 -, uma das donas da casa, a Bélgica, também na base da mescla de veteranos (De Wilde, Staelens, Luc Nilis, Wilmots) à gente nova (os irmãos Mbo e Emile Mpenza) acabou relaxando. Sorte da Turquia, presente à segunda Euro seguida e já preparando o time 3º lugar na Copa de 2002, com Rüstü, os zagueiros Alpay e Fatih Akyel, os meias Umit Davala, Tugay e Hakan Unsal, além da estrela do ataque, Hakan Sükür.

Os turcos, após a derrota na estréia para a Azzurra, conseguiram arrancar um empate sem gols contra a Suécia para chegar à última partida, contra os belgas, novamente no Rei Balduíno. Outro empate favoreceria os semi-anfitriões, mas aí entrou a competência do goleador Hakan Sükür – e o azar do arqueiro Filip de Wilde.

Num desempenho magistral, Sükür fez os dois gols, com o primeiro sendo feito após uma saída de gol atabalhoada do veterano goleiro belga. Para “coroar”, De Wilde foi expulso no fim do jogo. E, em pleno Rei Balduíno, o time de Mustafá Denizli comemorou a honrosa vaga para a segunda fase, somente restando aos belgas a vergonha de ser a primeira seleção anfitriã eliminada na primeira fase de uma Euro, desde o início da fase de grupos. Junto da Bélgica, saía uma Suécia sem ponto algum, envelhecida pelas presenças de Roland Nilsson, Patrik Andersson, Björklund, Mild e Kennet Andersson, embora com Ljungberg, Mellberg e Allbäck já presentes.

No C, outras surpresas na primeira rodada: em Roterdã, os noruegueses venceram a Espanha por 1 a 0, e, em Charleroi, a Eslovênia, em sua estréia num torneio relevante após a independência, comandada em campo por Zlatko “Platini dos Bálcãs” Zahovic, chegou a abrir 3 a 0 em cima da ex-nação madre Iugoslávia. Para piorar, o experiente Mihajlovic foi expulso. Mas, comandada por Savo Milosevic, autor de dois gols, a Iugoslávia conseguiu chegar ao 3 a 3.

Doravante, as zebras sossegaram: as superiores Iugoslávia – que conseguia manter bom nível de jogo, equilibrando os veteranos Dragan Stojkovic, Predrag Mijatovic e o mencionado Mihajlovic aos jovens Milosevic e Dejan Stankovic – e Espanha – comandada por Raúl, contando com a ajuda de Mendieta no meio-campo, Etxeberria e Alfonso a lhe acompanhar no ataque e, atrás, a dupla segura Guardiola-Hierro – sobrepujaram eslovenos e noruegueses e ficaram com as duas vagas nas quartas-de-final. Inclusive, protagonizaram um dos mais empolgantes duelos da Euro, quando a Fúria conseguiu arrancar forças para virar um 3 a 1 iugoslavo em um impressionante 4 a 3 (com os dois últimos gols sendo marcados nos acréscimos: Mendieta aos 45 do 2º, de pênalti, e Alfonso aos 47), garantindo assim o primeiro lugar do grupo.

O grupo D era, a princípio, o Grupo da Morte: lá estariam França, Holanda e República Tcheca. Agora treinada por um jovem (37 anos) Frank Rijkaard, a Laranja contava com praticamente o mesmo time que fora um dos melhores na Copa de dois anos antes: lá estavam Van der Sar, os irmãos Frank e Ronald de Boer, Stam, Davids, Seedorf, Overmars, Bergkamp e Kluivert.

Falando em Copa de 1998, a campeã mundial França também trazia o perigo no fato de Roger Lemerre, que sucedera Aimé Jacquet, ter a sorte de ainda poder contar com laterais como Thuram e Lizarazu, com a dupla de zaga Desailly-Blanc (este, jogando as últimas partidas pela seleção), com Deschamps e Petit coordenando o meio-campo e, principalmente, com um Zidane ainda mais craque do que já era. Fora esses, já havia Vieira a auxiliar Deschamps no meio. E, se o ponto fraco gaulês em 1998 fora o ataque, agora havia fartura de opções: além de Henry, Trezeguet e Djorkaeff, já experientes, havia um promissor Nicolas Anelka.

A República Tcheca enriquecia o time de Nedved, Berger e Poborsky com a presença, na defesa, do lateral Repka, e, no ataque, de Smicer, Jan Koller e Lokvenc, fora a promessa Tomas Rosicky. Enfim, o time de Jozef Chovanec não daria sossego aos favoritos. Um pouco mais eclipsada, a Dinamarca, que já não tinha os irmãos Laudrup – Brian se aposentara, e Michael virara auxiliar do treinador Morten Olsen, na seleção – e vivia na Euro o adeus de Schmeichel. A alimentar as esperanças danesas, Tomasson, Sand e Jorgensen.

Porém, o grupo D transcorreu normalmente. A Dinamarca sofreu dois 3 a 0 de franceses e holandeses, ao passo que os tchecos ofereceram mais resistência (a Holanda só faria o gol da vitória aos 44 do 2º, com um penal convertido por Frank de Boer, e a França venceu por 2 a 1). Na rodada final do grupo, enquanto a Tchéquia – sim, esse nome é permitido para a República Tcheca – destroçava definitivamente a Dinamarca por 2 a 0, as classificadas do grupo definiram o 1º lugar, na Amsterdam Arena, em um dos melhores duelos da Euro, não pelos gols, mas pelo equilíbrio. A diferença foi definida no fato da Holanda ter ido a campo com o time titular – exceto pelo goleiro Westerveld, substituindo o contundido Van der Sar – e a França ter poupado os titulares. E a Laranja de Rijkaard conseguiu o 3 a 2, as três vitórias e o primeiro lugar no grupo.

As primeiras partidas das quartas-de-final não tiveram surpresas: Portugal e Itália eliminaram, respectivamente, uma valorosa, mas novata Turquia (2 a 0 para os lusos, em Amsterdã) e uma decadente Romênia (novo 2 a 0, em Bruxelas). No De Kuip de Roterdã, a Iugoslávia protagonizou outra surpresa. Desta vez, desagradável. Não é que a Holanda não fosse a favorita: jogando em casa, evidentemente o era. O pitoresco foi o extravagante 6 a 1 com que a Laranja foi às semifinais. Resultado justificado, talvez, pela exibição holandesa como um todo, que fez lembrar os tempos de Van Basten ou de Cruyff, tal a volúpia ofensiva da seleção. Ou, então, aquela que talvez foi a melhor performance da carreira de Patrick Kluivert, autor de três gols e artilheiro da Euro.

Já no Jan Breydel de Bruges, França e Espanha fizeram uma partida mais equilibrada. Os gauleses abriram o placar com uma cobrança de falta magistral de Zidane, aos 32 do 1º. Porém, cinco minutos depois, Mendieta empatou, de pênalti. Mas, ainda no primeiro tempo, Djorkaeff colocou os Bleus de novo na frente. Porém, a Espanha continuou atrás do empate. Que poderia vir aos 41 do 2º, quando Pierluigi Collina apitou pênalti de Barthez em Abelardo. Raul cobrou. Para fora. A França estava nas semifinais. Sorte de campeã?

O espírito ofensivo da Euro-2000 enterrou definitivamente o excessivo defensivismo de quatro anos antes com duas semifinais históricas. No Rei Balduíno de Bruxelas, França e Portugal começaram de modo morno, até que, aos 19 do 1º, Nuno Gomes acertou belíssimo chute no canto de Barthez. Portugal parecia levar sob controle o jogo e estar próximo da vingança da semifinal da Euro-84, mas, logo aos 6 do 2º tempo, Henry empatou, na grande área, após um cruzamento rasteiro de Anelka. Novo 1 a 1 ao fim do tempo normal, nova prorrogação, como em 1984. O tempo extra seguiu equilibrado e os pênaltis pareciam próximos mas, a três minutos do fim do segundo tempo, na grande área, Wiltord driblou Vitor Baía e chutou. Abel Xavier desviou a bola para a linha de fundo com a mão. O árbitro austríaco Günter Benko marcou o pênalti, mesmo sob reclamações dos portugueses, que alegavam que Abel desviara a bola com a coxa (reclamações tão veementes que Nuno Gomes foi expulso). Zidane cobrou no ângulo, colocada, com a costumeira maestria. 2 a 1: na morte súbita, a França chegava à sua segunda final de Euro na história. Sorte de campeã?

A outra semifinal foi ainda mais lendária. E surpreendente. Não pelo resultado, já que a Itália era rival de respeito para a motivada Holanda. Mas pelas circunstâncias, que eram desfavoráveis à Azzurra. Numa Amsterdam Arena pintada em laranja, esperava-se uma grande festa holandesa. Para começar, logo aos 34 do primeiro tempo, Zambrotta levou o segundo amarelo e deixou a Itália com dez ao ser expulso. Pouco depois, aos 38, Nesta agarrou Kluivert na área e o alemão Markus Merk marcou pênalti. Parecia iniciada a festa. Mas Toldo não deixou: Frank de Boer bateu rasteira, no canto esquerdo, e o goleiro italiano defendeu a cobrança.

Os holandeses se abateram, mas prosseguiram atacando. Já no segundo tempo, a insistência dos donos da casa foi premiada com mais um penal, aos 17, cometido por Iuliano ao derrubar Davids. Desta vez, Kluivert conseguiu deslocar Toldo. Só esqueceu de balançar as redes: o poste direito evitou o gol holandês. Daí para frente, a Oranje desanimou um pouco, embora continuasse pressionando em busca do gol. Mesmo em desvantagem numérica, a Azzurra segurava estoicamente as ponteadas laranjas. E assim o jogo foi para a prorrogação.

Embora a pressão holandesa continuasse, Frank Rijkaard tratou de fortalecer a marcação no meio-campo, trocando Cocu por Aron Winter, que tornava-se naquela entrada em campo o jogador com mais partidas pela Oranje, superando as 83 partidas de Ruud Krol. A maior cautela evitou que a Holanda conseguisse o gol de ouro e a vaga na final, além de Marco Delvecchio ter assustado num chute aos 9 do 1º tempo extra, evitado pelos pés de Van der Sar. E assim, o que poderia ter sido um massacre terminou para ser definido nos penais.

Aí se consumou a maior tragédia da história do futebol holandês. Frank de Boer novamente teve o chute defendido por Toldo, ao passo que Stam fez ainda pior, chutando muito por cima do gol italiano. Do lado azzurro, as três primeiras cobranças convertidas (incluída aí uma cavadinha, ou melhor, um “cucchiaio” de Totti). A esperança laranja até aumentou, quando Kluivert converteu sua cobrança e Maldini chutou nas mãos de Van der Sar. Mas aí, novamente, brilhou a estrela de Toldo. O goleiro, que só virara titular italiano na Euro pelo corte de Buffon, com uma mão fraturada, defendeu sua terceira cobrança, feita por Bosvelt, deixando assim orgulhoso, no banco, um de seus predecessores, o lendário Dino Zoff. Heroicamente, a Itália estava em sua primeira final de Euro desde o título de 1968. E a Holanda caía nos penais, como na Copa de 1998 e nas últimas duas Euros.

Em Roterdã, a final entre França e Itália teve um primeiro tempo digno da qualidade do torneio, com chances italianas (destacando-se uma defesa de Barthez, num chute de Delvecchio) e francesas (uma bola aparentemente despretensiosa de Henry atingiu a trave de Toldo, que fez uma defesa em chute de Djorkaeff, à queima-roupa). Mas o gol só sairia no segundo tempo. E seria italiano: aos 10 minutos, após toque de Totti, Pessotto cruzou rasteiro para Delvecchio apenas escorar. Desde então, o futebol naturalmente ofensivo dos Bleus começou a se fazer sentir, com Zidane e Henry tomando o comando da pressão sobre a Azzurra, além das entradas de Wiltord e Trezeguet. Mas o time de Dino Zoff aguentava o abafa apostando na calma da defesa e nos contra-ataques – insistentemente desperdiçados.

Todavia, o final do jogo já se aproximava e os italianos começaram a sentir o bi europeu próximo, quando a pressão francesa foi premiada. Aos 48 minutos, Wiltord recebeu na esquerda da grande área e chutou. A bola passou pela floresta de pernas italianas. Toldo tentou desviar, até tocou na bola, mas era tarde. Na última chance da partida, a França empatava. Pela segunda vez consecutiva, a final da Euro seria definida na prorrogação.

No tempo extra, a tônica foi um entusiasmo ainda maior dos franceses em busca do gol de ouro, enquanto a Azzurra parecia acabrunhada pelo gol sofrido no último minuto. E o entusiasmo resultou na tão sonhada vitória: a dois minutos do fim do primeiro tempo, Trezeguet recebeu na entrada da área e chutou no ângulo de Toldo. A França era campeã européia. Sorte de campeã? Até pode ser. Mas foi um título merecido para um dos melhores times da história da Euro.

Portugal 2004: Seis jogos, sete gols, um título

Portugal aproveitou a oportunidade de sediar a Euro para remodelar seus estádios, o que, de certa forma, colaborou para melhorar até mesmo o reconhecimento do futebol das quinas, bem como do avanço econômico do país, em todo o mundo. A qualidade dos reformados Estádio da Luz e José Alvalade – ambos lisboetas – e dos construídos Estádio do Dragão (Porto) e Municipal de Braga (este, tendo como fundo de uma das áreas a encosta do Monte Castro, na periferia de Braga) impressionou a muitos. E a qualidade dos jogos, embora não tão alta como em 2000, não decepcionou.

Para acompanhar a evolução do país, os lusos montaram um time de respeito. Um dos principais reforços estava no banco: Luiz Felipe Scolari, então técnico campeão mundial, já estava havia um ano em Portugal, começando sua experiência europeia e trazendo boa parte dos preferidos para a comissão técnica. Felipão comandaria um time que, se mantinha alguns da velha guarda que chegara às semifinais na Bélgica/Holanda, como Fernando Couto, Rui Costa, Nuno Gomes, Pauleta e Figo (que teriam ficado melindrados com Scolari, no início do trabalho), apostava alto ora na geração que nascia pelos pés de Cristiano Ronaldo e Tiago, ora em gente já estabelecida, mas que não tivera muitas chances, como Maniche, Miguel, o recém-naturalizado Deco e Ricardo (contestado por muitos, que pediam o veterano Vitor Baía).

Porém, o Grupo A em que os Tugas estavam já começou com uma surpresa desagradável para os anfitriões. Em pleno Estádio do Dragão, o time demonstrou sentir o velho peso da estreia e se deixou superar facilmente pela… Grécia, que fez 2 a 0 e só aos 48 do 2º tempo veria Cristiano Ronaldo diminuir. Sim, a Grécia. Um time que só tivera uma participação pálida em Euros (saiu na primeira fase do torneio de 1980, com um ponto ganho) e passara vexame na única Copa disputada, em 1994.

Mas, também – e isso foi pouco falado à época – um time que ficara invicto durante seis jogos, nas eliminatórias, sofrendo apenas duas derrotas e classificando-se em primeiro no grupo, superando a Espanha que a acompanharia no grupo A. Contava com a experiência do goleiro Nikopolidis, do zagueiro Dellas e do meia Zagorakis. Fora jogadores que, se não eram craques, já tinham certa experiência na Europa, como o meia Giannakopoulos e o atacante Charisteas. E que, sob as mãos do experiente treinador alemão Otto Rehhagel, mostrava disciplina tática, com o perdão do trocadilho, espartana.

Na outra partida do grupo, a Espanha, com os experientes Raúl, Helguera, Baraja, Morientes e Puyol (mesmo com a juventude de Fernando Torres), superou em um gol a Rússia dos jovens Izmailov, Aldonin e dos reservas Anyukov, Kerzhakov, Bystrov e Akinfeev (mesmo com a experiência de Ovchinnikov, Mostovoi, Loskov e Alenichev).

Na segunda rodada, Portugal estava pressionado, mas, logo aos 7 minutos de jogo, Maniche abriu o placar. Ainda no fim do primeiro tempo, o goleiro Ovchinnikov foi expulso. Depois, o jogo ficou morno, com Portugal controlando a vantagem contra os inativos russos. Mas ainda houve tempo para, após um cruzamento do substituto Cristiano Ronaldo, o também substituto Rui Costa cabecear e fazer 2 a 0 a um minuto do fim. No outro jogo, Morientes até colocara a Espanha na frente, mas Charisteas encarregou-se de manter a Grécia viva na Euro com o empate.

Portugal e Espanha fariam, em Lisboa, um clássico ibérico dramático. Quem vencesse, estaria nas quartas-de-final; quem perdesse, estaria fora da Euro. Felipão tratou até de lembrar confrontos na história dos dois países para apimentar a disputa. O jogo foi nervosamente disputado, até que, aos 12 do 2º, Nuno Gomes, que substituíra Pauleta no intervalo, chutou rasteiro para marcar o gol luso. O treinador espanhol, Iñaki Sáez, até colocou a Fúria no ataque, com as entradas de Baraja, Luque e Morientes, mas a defesa segurou o placar magro até o fim do jogo. Alívio em Portugal: o país, aos trancos e barrancos, estava classificado. Aos espanhóis, restava ver a eliminação na primeira fase: mesmo com os mesmos quatro pontos dos gregos, o número de gols era menor (2 espanhóis contra 3 gregos). Os helênicos nem precisaram vencer a partida contra a eliminada Rússia: deram-se ao luxo de perder por 2 a 1, marcando mais um gol, ficando em segundo lugar e seguindo a filosofia eficiente.

O grupo B tinha duas grandes favoritas. A França mantinha um time que, se envelhecido, nem por isso era menos perigoso: Barthez, Thuram, Lizarazu, Makélélé, Pires, Vieira, Zidane, todos aliados a Henry e Trezeguet, talvez a melhor dupla de ataque da Europa na época. Já a Inglaterra até corria riscos na defesa, já que o seguro Sol Campbell tinha, em vez de Rio Ferdinand, Ledley King como parceiro, fora os inconstantes Ashley Cole e Gary Neville nas laterais e um inseguro David James no gol. Mas compensava com um meio-campo e um ataque de respeito: Beckham, Lampard, Gerrard, Scholes, Owen e até o wonderboy da vez, Wayne Rooney, 18 anos. Irremediavelmente, sobrava o papel de coadjuvante a uma Croácia em transição e a uma Suíça que, se já tinha novos valores como Vonlanthen e Barnetta, ainda preferia apostar na experiência de Chapuisat, Frei e Vogel.

Como comprovando o papel das duas duplas, a primeira rodada mostrou, ao mesmo tempo, um insosso 0 a 0 entre helvéticos e croatas e um jogo eletrizante entre franceses e ingleses. Em Lisboa, Lampard fez 1 a 0 aos 38 do 1º. Desde então, os ingleses conseguiam controlar as ações e repelir as tentativas gaulesas de ataque. Cansados, os Bleus iam se aquietando, e, enfim, aos 27 do 2º, Rooney sofreu pênalti de Silvestre. Beckham cobrou, para definir o jogo. E Barthez defendeu. Aí, a França continuou tentando. Até que, aos 46, falta para os franceses. Zidane cobra: 1 a 1. Mais pressão. Aos 48, recuo errado de Gerrard para David James, que acaba fazendo falta na área em Henry. Pênalti para a França? Adivinha quem cobrou? Claro, penal convertido. Zidane, ou melhor, França 2, Inglaterra 1.

Doravante, os dois pesos-pesados seguiram caminhos relativamente diferentes. Como que ferido pela derrota tardia para os rivais, a Inglaterra tratou de destroçar os suíços (3 a 0) e de, mesmo saindo atrás, despachar os croatas (4 a 2) para ir às quartas. Já os franceses até abriram o placar contra os croatas, mas, logo no início do 2º tempo, Milan Rapaic e Dado Prso precisaram de quatro minutos – entre os 3 e os 7 – para virar o jogo. Mas Trezeguet salvou o 2 a 2, garantiu a vaga nas quartas e manteve a França na primeira colocação, que seria sacramentada com outra vitória suada contra os suíços. Suada, sim: Zidane, sempre ele, abriu o placar, mas Vonlanthen empatou ainda no 1º tempo. E o time de Jakob “Köbi” Kuhn conseguiu segurar o empate em boa parte do jogo. A vitória dos comandados de Jacques Santini só veio nos 15 minutos finais de jogo: aos 31 e aos 39 do 2º, Henry tratou de mostrar seu sangue-frio na área, marcando duas vezes.

O grupo C talvez tenha mostrado o cenário mais equilibrado no resultado, desde que a fase de grupos foi instituída na Euro. Equilibrado até demais: Suécia, Dinamarca e Itália tinham times muito parecidos na escalação, predominantemente experiente nos três casos (os daneses tinham Helveg, os irmãos Jensen, Rommedahl e Tomasson; a Azzurra de Giovanni Trappatoni continuava com a geração de Del Piero, Totti, Cannavaro, Nesta e Panucci, mesmo que um jovem Cassano lá estivesse; e a Suécia, mesmo com a presença de Ibrahimovic, continuava apostando em Lucic, Mellberg, Ljungberg, Anders Svensson e Henrik Larsson).

Foi até fácil sobrepujar uma Bulgária que, mesmo tendo Berbatov, Stilian Petrov e Martin Petrov – sem parentesco -, teve uma participação apenas bissexta, saindo derrotada nos três jogos. Na primeira rodada, sofreu logo um 5 a 0 da Suécia, enquanto Dinamarca e Itália saíam com um 0 a 0 do Alfonso Henriques, em Guimarães. Na segunda rodada, foi a vez da Dinamarca dirigida por Morten Olsen ter um desafogo com o 2 a 0 nos búlgaros, enquanto italianos e suecos empatavam em um gol.

Mas a última rodada comprovou o equilíbrio. Os italianos, com 2 pontos, precisavam vencer os búlgaros, em Guimarães, enquanto suecos e dinamarqueses, com 4 pontos cada, duelariam no Porto. Surpreendentemente, a Bulgária decidiu aprontar: no minuto final do 1º tempo, Martin Petrov converteu penal de Materazzi em Berbatov. No 2º tempo, restou à Itália atacar. E começou bem: logo aos três minutos, Perrotta empatou. No jogo do Porto, Tomasson havia aberto o placar, aos 28 do 1º. Logo aos 2 do 2º, Larsson conseguiu o empate para a Suécia, mas o mesmo Tomasson colocaria os daneses à frente, aos 21.

Voltando a Guimarães, os italianos continuavam precisando da vitória que os colocaria no 2º lugar do grupo. E voltaram a pressionar, com Trappatoni colocando Di Vaio em campo, no que seria um esquema com três atacantes, já que Cassano e Vieri estavam em campo. A pressão, no finzinho, deu resultado: aos 49 do 2º, Cassano marcou o gol da classificação e saiu correndo rumo ao banco para comemorar a vaga nas quartas que viria a fórceps. A alegria do barese, então atacante da Roma, viraria desespero quando, no banco, alguém lhe soprou a notícia fatal: aos 44 do 2º, no Porto, no mesmíssimo momento do gol transalpino, Mattias Jonson empatara o jogo para a Suécia.

O desespero de Cassano vinha com o resumo da ópera: as três nações interessadas terminaram com 5 pontos, e a decisão veio no terceiro critério de desempate: o número de gols marcados por cada seleção nos jogos contra as outras duas. O gol de Jonson foi o terceiro para os suecos, somando os dois na partida contra a Dinamarca ao marcado contra a Itália; a Dinamarca tinha os dois contra a Suécia; os italianos, com os empates (sem gols contra a Dinamarca, em 1 gol contra a Suécia), somavam apenas um. Ou seja: ao fim dos dois jogos, suecos e dinamarqueses estavam nas quartas, e a Itália reclamava de “marmelada” com o empate do outro jogo, que a eliminou na primeira fase. Entre mortos e feridos, só Giovanni Trappatoni não se salvou: deu o lugar para Marcello Lippi, na Itália.

Já o grupo D teve seu equilíbrio, mas somente entre duas seleções. Estas se diferenciavam na escalação: a Alemanha de Rüdi Völler, mesmo já com Schweinsteiger, Lahm e Podolski convocados, ainda priorizava a experiência de Kahn, Wörns, Nowotny, Hamann, Ziege, Ballack e Klose. Do lado holandês, Dick Advocaat até continuava confiando em Van der Sar, Van Bronckhorst, Davids, Cocu, Kluivert e Van Nistelrooy. E na reserva, contava com Frank de Boer, Makaay, Bosvelt, Seedorf, Zenden e Van Hooijdonk. Mas Advocaat já colocava, no time titular, Sneijder, Heitinga, Robben e Van der Vaart, todos na faixa dos vinte anos.

Na primeira rodada, os rivais mostraram o equilíbrio, na partida no Estádio do Dragão. Os alemães começaram melhor, pressionando mais e, por fim, abrindo o placar com Frings, numa falta pela esquerda que passou por toda a área sem que ninguém desviasse. Os holandeses batalharam pelo gol, até conseguirem o empate, a nove minutos do fim do jogo, com Van Nistelrooy.

Mas quem começava bem, mesmo, era a República Tcheca. Karel Bruckner tinha a sorte que Dusan Uhrin não tivera em 2000: além de poder contar com os veteranos Nedved, Poborsky, Koller, Smicer e Lokvenc, no auge da maturidade, ainda podia incrementar o time com a geração que fora campeã européia sub-21, dois anos antes, na Suíça. Geração que contava com Petr Cech, já soberano, apesar de jovem. Com Grygera e Rozehnal, boa dupla de zaga. E com o artilheiro Milan Baros. Apesar disso, a estreia, contra a surpreendente Letônia, no Aveiro, foi um jogo duríssimo. Principal jogador letão, o atacante Verpakovskis abriu o placar, aos 46 do 1º tempo. Aliando a falta de pontaria de Baros à boa performance do goleiro Kolinko, a Letônia ia segurando a zebra. Mas, aos 28 do 2º, Baros conseguiu acertar o pé e empatou. E, a cinco minutos do fim, Marek Heinz conseguiu virar o jogo e colocar os tchecos na ponta do grupo.

A segunda rodada mostrou um dos melhores jogos da Euro. No Aveiro, durante o primeiro tempo, a Holanda pareceu dominar completamente o jogo. Com Robben infernizando os adversários na ponta-esquerda, foi fácil para a Laranja abrir 2 a 0, com Bouma e Van Nistelrooy. Koller até diminuiu, ainda na primeira etapa, mas o time de Advocaat conseguia manter o controle. Mas aí, ele fez a mudança que alterou o rumo do jogo: aos 13 do 2º, Robben, o nome do jogo até então, saiu para a entrada de Bosvelt. Foi a senha para o início da pressão tcheca. Que logo deu resultado: aos 26 minutos, Baros empatou o jogo. E, a dois minutos do apito final, Smicer virava o jogo, dava a vaga nas quartas à sua seleção e colocava a Holanda em perigo. Perigo que só não aumentou pelo honroso desempenho letão, que conseguiu segurar o 0 a 0 contra a Alemanha.

Era até fácil para os germânicos conquistar a segunda vaga: uma vitória contra um time misto que Karel Bruckner levou a campo, no José Alvalade. Ballack até colaborou, abrindo o placar, aos 21 do 1º. Mas, nove minutos depois, Heinz empatou. Enquanto isso, em Braga, um irresistível Van Nistelrooy marcava os dois gols da vitória holandesa sobre a Letônia. Por fim, a incompetência tedesca foi punida: aos 32 do 2º, Baros marcava seu terceiro gol em três jogos, fazia da República Tcheca a única equipe com cem por cento de aproveitamento ao fim da primeira fase da Euro e, de certa forma, selava a esperada demissão de Rüdi Völler. Como que dando o tiro de misericórdia, Roy Makaay tratou de decretar o 3 a 0 que deu à Holanda a segunda vaga do grupo D.

As quartas-de-final da Euro já começaram com um jogo histórico. No Estádio da Luz, Portugal entrava com um país todo confiante na classificação contra a Inglaterra. Tão confiante que, logo aos três minutos, Owen aproveitou falha de Costinha e abriu o placar. Daí para a frente, Portugal tentou exercer uma sufocante pressão, mas os britânicos sempre se seguravam. A quinze minutos do fim, Luiz Felipe Scolari foi para o tudo ou nada: colocou Hélder Postiga no lugar de Figo e, quatro minutos depois, pôs Rui Costa na vaga de Miguel. E a sorte, velha amiga de Felipão, apareceu novamente: a sete minutos do fim do tempo normal, Hélder Postiga aproveitou o cruzamento de Simão e empatou, pondo fogo no jogo. Ainda houve tempo para Sol Campbell acertar a trave de Ricardo, antes da prorrogação.

No tempo extra (que não teria mais o gol de ouro, mas sim o “gol de prata”: caso um time marcasse ainda nos primeiros 15 minutos, o adversário teria até o fim do 1º tempo para tentar o empate), o duelo continuou tenso e eletrizante, mas os gols só viriam no 2º tempo. Aos 5 minutos, o outro substituto, Rui Costa, mandou um tirambaço à beira da grande área: 2 a 1. Mas o êxtase português não durou: cinco minutos depois, Lampard empatava de novo e decretava a decisão por pênaltis.

Logo na primeira cobrança inglesa, o lendário erro de Beckham, que isolou a bola. Mas, no terceiro chute português, Rui Costa também perdeu. A série alternada chegou. E com ela, a hora do contestado Ricardo. Aconselhado pela lenda Eusébio, no gramado, o goleiro luso defendeu a cobrança de Vassell, sem luvas. E, aproveitando a confiança, ele mesmo bateu o próximo penal. Penal convertido, loucura e alegria em Portugal: o país superava um dos favoritos e chegava às semis.

Também em Lisboa, no Alvalade, a França era favorita contra… a Grécia (fazia tempo que ela não era citada, hein?). Na matreirice, os helênicos seguraram o 0 a 0 e conseguiam controlar o meio-campo, não deixando que Zidane, Vieira e Henry tomassem a iniciativa. E aí, num contra-ataque, aos 20 do 2º, o primeiro dos vários golpes frios, certeiros e fatais dados pelos gregos: num cruzamento de Zagorakis, Charisteas cabeceou nas redes de Barthez. Saha, Wiltord e Rothen até entraram e colocaram o time no ataque, mas nenhuma pressão irresistível. E, quietamente, na dela, a Grécia fazia o seu quinto gol na Euro. E chegava nas semifinais.

Em Faro-Loulé, Holanda e Suécia fizeram o mais truncado dos jogos. Sem gols no tempo normal, a prorrogação até teve duas bolas suecas na trave, mas os pênaltis definiriam. Nas primeiras cinco cobranças, Ibrahimovic e Cocu erraram. E, nos primeiros tiros da série alternada, Van der Sar defendeu a cobrança de Mellberg e Robben, com frieza admirável, converteu o seu. Após um histórico de decepções em disputas por pênaltis, a Holanda chegava às semifinais.

E, no Porto, a República Tcheca teve a tarefa mais fácil. Apesar do primeiro tempo sem gols, o segundo tempo mostrou um time soberano, que despachou facilmente a Dinamarca, fazendo 3 a 0. Destaque para Baros, que, com dois gols, chegava a cinco, o que lhe garantiria a artilharia da Euro.

Novamente em Lisboa, mas agora no Alvalade, Portugal e Holanda definiriam o primeiro finalista. Turbinado pela empolgação da torcida, Portugal logo tomou o controle do jogo, abrindo o placar aos 26 do 1º, com Cristiano Ronaldo cabeceando um escanteio de Deco. No segundo tempo, a Holanda até ensaiou uma pressão no começo, mas os Tugas logo ampliaram, num golaço de Maniche, que arriscou da esquerda, com o chute curvado que enganou Van der Sar. O gol contra de Jorge Andrade até amedrontou um pouco o time, mas nada que fizesse a Holanda crescer no jogo. E os donos da casa chegaram à final. A canção oficial da Euro, “Força”, de Nelly Furtado, embalava o sonho de um país. Parafraseando o que a luso-canadense cantava, o time de Felipão, realmente, parecia uma força que ninguém podia parar.

No Estádio do Dragão, os surpreendentes gregos teriam pela frente a República Tcheca. Muitos sonhavam com uma final entre tchecos e portugueses, que seria um coroamento aos supostos melhores times do torneio. E o time de Karel Bruckner atacava, atacava, mas ora parava na marcação de Giannakopoulos, ora na imponência de Dellas, comandante da zaga. E, se os superava, Nikopolidis tratava de mostrar porque dividia, junto de Cech, o posto de melhor goleiro da Euro. A saída de Nedved, com uma lesão no joelho, diminuiu um pouco o ímpeto dos tchecos, mas estes continuaram a atacar. Aos 37 do 2º, Baros quase marcou o seu sexto gol na Euro, mas perdeu, inacreditavelmente. E o jogo foi para a prorrogação.

O primeiro tempo ia terminando sem gols, até um escanteio, já nos acréscimos aos 15 minutos. A República Tcheca afrouxou-se. Não deu outra: com a cobrança fechada, no primeiro poste, Dellas desviou sem chances para Cech. O gol de prata valia como um de ouro. Sempre eficiente, sempre calculista, a Grécia chegava à mais inimaginável final da história da Euro.

E, num Estádio da Luz lotado, esperava-se a festa portuguesa, que, com certeza, colocaria definitivamente o país no primeiro mundo futebolístico. E o jogo seguia o roteiro conhecido: a Grécia deixava Portugal lambuzar-se no meio, sem sequer fazer um chute ao gol de Ricardo. Mesmo com a perda de Miguel, contundido no final do primeiro tempo, Portugal mantinha o controle. Até os 12 do 2º tempo, o momento em que o “navio pirata” grego afundaria o navio português: Basinas cobrou escanteio pela direita, Charisteas antecipou-se a Costinha e testou para o gol, aproveitando a má saída de Ricardo.

Daí, todo o time português foi para a frente. Com Cristiano Ronaldo, com Rui Costa, com Figo, com Nuno Gomes, até com Ricardo Carvalho. Mas Nikopolidis, mais uma vez, teve um desempenho histórico. E o apito final veio. Ninguém podia acreditar: com sete gols em seis jogos, com uma eficiência e uma aplicação como poucas vezes se vira na história do futebol, a Grécia era campeã. Mas não deixava de haver justiça. Justiça à segurança demonstrada por Nikopolidis, no gol. À sobriedade de Dellas. Ao comando de Zagorakis. Ao oportunismo de Charisteas. Enfim, à equipe grega. Que ainda olha a foto de Theodoros Zagorakis erguendo o Troféu Henri Delaunay como o maior momento da história de seu futebol.

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