Guia da Euro 2020: Tchéquia
Com uma base formada no Slavia Praga, os tchecos correm por fora, mas podem se beneficiar do bom trabalho do clube

Este texto faz parte do Guia da Euro 2020.
Como foi o ciclo desde a Copa de 2018
Seguro. Sem grandes baixos, tirando para Rússia, Inglaterra e Itália, e sem grandes altos. A primeira participação na Liga das Nações foi indiferente, com duas vitórias e duas derrotas. Ficou em segundo lugar no grupo, atrás da Ucrânia, e não conseguiu subir à primeira divisão. A segunda foi melhor. Liderou um grupo ok, à frente de Escócia, com quem se reencontrará na Eurocopa, Israel e Eslováquia. Ganhou a promoção. Para garantir a vaga na Euro, foi vice-líder do Grupo A, aproveitando principalmente a fragilidade dos adversários. Precisava ficar à frente de Kosovo, Bulgária e Montenegro. O destaque foi a vitória em casa contra a Inglaterra na sétima rodada. Depois dessa, o jogo mais impressionante foi o 6 x 2 contra a Estônia, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, com direito a três gols de Tomas Soucek – mas diante de um adversário desfalcado pela COVID-19. Está na briga com Gales pela vaga na repescagem, considerando que a Bélgica é a favorita da chave.
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Como joga
A convocação tem cinco jogadores do Slavia Praga, além de Soucek e Vladimir Coufal, que ganharam transferências à Premier League graças às suas atuações pelo time tcheco que vem impressionando em competições europeias. Logo, faria sentido que parte desse estilo de jogo com bom toque de bola fosse transferido à seleção. A Tchéquia tem uma defesa muito bem definida. A dupla de zaga costuma ter Ondrej Celustka, do Sparta Praga, e Ondrej Kudela, que seria o sexto jogador do Slavia Praga, mas foi suspenso por dez jogos por racismo contra Glen Kamara, do Rangers e da Finlândia. Coufal e Jan Boril dão muita força pelas laterais.
Atua geralmente em um 4-2-3-1, com variação para o 4-1-4-1, o que significa prender um pouco o primeiro volante e formar uma dupla com dois meias centrais, em vez de ter um desses jogadores mais avançado como camisa 10. A melhor combinação tem Alex Král, Tomas Soucek e o capitão Vladimír Darida mais solto na armação. Soucek tem muita força na chegada à área, principalmente nas bolas aéreas. Pelos lados do campo, a Tchéquia sentirá a falta de Lukas Provod, outro jogador do Slavia Praga, mas ainda tem Lukas Masopust e Jakub Jankto.
Para o comando do ataque, vai ao gosto do freguês: há a juventude de Adam Hlozek; a experiência de Matej Vydra, um goleador de relativo sucesso nas divisões inferiores da Inglaterra; e o provavelmente favorito Patrik Schick, do Bayer Leverkusen, capaz de liderar um ataque competente em seus melhores dias.

O craque
Tomas Soucek
Não tem nenhum jogador muito à frente dos outros neste elenco. Então vamos com o que teve a melhor temporada. Marcar dez gols na Premier League sendo volante em um time relativamente defensivo como o West Ham é um grande feito. Não espanta quem sabia o que ele vinha fazendo pelo Slavia Praga. Chegou em janeiro de 2020 à Inglaterra, por empréstimo com opção de compra, após marcar 30 gols em 18 meses pelos tchecos. A altura de 1,92 metros ajuda porque três desses dez gols foram de cabeça – o West Ham é bem competente na bola parada. Além de bom no jogo aéreo, tem força física e chegada à área, importante para completar as transições rápidas da Tchéquia.

Bom coadjuvante
Patrik Schick
A Roma deveria saber que havia alguma coisa errada quando venceu Juventus e Internazionale na disputa por um jogador. Schick chegou a fazer exames médicos na Velha Senhora, mas um problema no coração impediu o negócio de ser concretizado. Semanas depois, concluiu-se que essa condição não o impediria de jogar futebol normalmente, e a Roma aproveitou para fechar a transferência a dias do fim da janela. Pagou € 42 milhões, contando todas as variáveis, por uma das principais revelações do futebol italiano naquele momento e que, com a camisa giallorossa, marcou… oito gols em 58 partidas. Pois é. O coração não foi uma questão, mas Schick sofreu com várias pequenas lesões e não se firmou na capital. Mas se recuperou na Alemanha. Voltou a uma média aceitável em empréstimo ao RB Leipzig (10 gols em 22 rodadas da Bundesliga) e depois contratado pelo Bayer Leverkusen. É um atacante completo: sabe ser a referência, tem boa finalização, sabe ganhar bola pelo alto e sair da área para trabalhar a jogada. Não é craque em todos esses quesitos, mas, se bem utilizado, pode ser importante.

A promessa
Adam Hlozek
Adam Hlozek chegou ao Sparta Praga acompanhado do irmão mais velho. Daniel, porém, foi diagnosticado com um tumor cerebral e não conseguiu atingir todo seu potencial. Ainda conseguiu ser jogador, no pequeno Ivancice, da cidade natal da família. Adam acabou realizando o sonho dos dois. Já tem 85 jogos pelo Sparta Praga, um número absurdo para um garoto de apenas 18 anos. Como toda promessa tão precoce, foi “monitorado” por quase todos os clubes grandes do continente. A especulação mais forte do momento é o West Ham, que se deu bem na última vez em que foi às compras na Tchéquia. Marcou 28 gols como um atacante inteligente, rápido, com presença de área e capacidade de preparar as jogadas para os companheiros. Nem precisamos dizer que ainda está longe de ser o produto final, mas tem qualidade.

O veterano
Vladimír Darida
O elenco da Tchéquia não é muito experiente, nem muito jovem. A maioria dos integrantes está na faixa entre 27 e 29 anos. O mais velho é o goleiro do Sevilla, Tomás Vaclik, com 32. O veterano da companhia acaba sendo o capitão Vladimir Darida, meia de 30 anos com 71 partidas pela seleção tcheca. Estreou pelo time principal em 2012, quando ainda estava no Viktoria Plzen. De lá, fez carreira na Alemanha, com uma passagem de duas temporadas pelo Freiburg antes de chegar ao Hertha Berlim, o qual defende desde 2015. Alterna entre meia central e meia-atacante no esquema tático do treinador Jaroslav Silhavy.

Técnico
Jaroslav Silhavy
Um treinador local até a medula. Foi assistente da seleção tcheca entre 2003 e 2009, antes de começar a percorrer o circuito de clubes do país, com relativo sucesso. Conquistou a liga pelo Slovan Liberec e pelo Slavia Praga. Também levou o Jablonec à final da Copa da Tchéquia em 2014/15. Assumiu o comando depois da Copa do Mundo da Rússia. Na época de jogador, era defensor e fez quatro jogos pela Tchecoslováquia.
Retrospecto na Eurocopa:
Tem nove participações. Três como Tchecoslováquia, quando conquistou o título de 1976 contra a Alemanha Ocidental, nos pênaltis, com Antonín Panenka batendo o decisivo daquele jeito. Desde a separação, a República Tcheca, agora rebatizada como Tchéquia, se classificou para todas as Eurocopas que poderia. A melhor campanha foi em 1996, derrotada com um gol de ouro na final pela Alemanha. Teria grande desempenho ainda em 2004, rumo às semifinais.
Participações na Eurocopa: 9 (1960, 1976, 1980, 1996, 2000, 2004, 2008, 2012, 2016)
Melhor desempenho: Campeã (1976, como Tchecoslováquia)
O elenco