Guia da Euro 2020: Macedônia do Norte
Macedônios pegaram um atalho através da Liga das Nações, mas têm motivos para acreditar num papel digno
Este texto faz parte do Guia da Euro 2020.
Como foi o ciclo desde a Copa de 2018
A Macedônia do Norte atravessa o melhor momento de sua história. A estreia na Eurocopa já representa bastante à antiga república da Iugoslávia, mas os resultados conseguem ser mais consistentes que o fato em si. Afinal, os macedônios pegaram um atalho à Euro através da Liga das Nações. Foram bem na nova competição para assegurar o acesso na quarta divisão e conseguir a vaga destinada aos antigos membros da Liga D. Nos mata-matas da repescagem, bateram Kosovo e Geórgia para ficar com a vaga – outras duas equipes em ascensão.
Apesar do caminho mais curto, não é que a Macedônia do Norte foi mal nas Eliminatórias da Euro propriamente ditas. A equipe terminou na terceira posição do Grupo G, com 14 pontos conquistados em dez partidas. Chegou a se aproximar da Áustria na chave, ainda que sem força suficiente para disputar a vice-liderança num grupo ponteado pela Polônia. Ainda assim, considerando a falta de tradição dos macedônios e o próprio ineditismo do momento, o desempenho destacado representava demais a um país que apenas fazia figuração nas eliminatórias europeias até então.
Por fim, outro motivo de orgulho aconteceu no início das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022. A Macedônia do Norte venceu fora de casa a Alemanha, com méritos expressos, naquele que pode ser considerado o triunfo de mais peso da história da equipe nacional. O resultado na Data Fifa de março foi uma motivação a mais para os macedônios. Desde o segundo semestre de 2018, o país contabiliza 16 vitórias e sete derrotas em 29 partidas, um retrospecto respeitável considerando suas limitações. Talvez não chegue longe na Euro, mas os motivos para estar presente são perceptíveis, mesmo que se aproveitando dos novos mecanismos de classificação pela Liga das Nações.
Como joga
A Macedônia do Norte costuma ser escalada no 3-5-2, aproveitando bem a qualidade pelos lados do campo e a combinação de seus homens de frente, com uma dupla de ataque com presença de área. É uma equipe que pode se proteger bem e explorar as ligações diretas, mas que também sabe tocar a bola graças ao refinamento de seus meio-campistas. O ponto de referência, porém, será sempre o veteraníssimo Goran Pandev. O atacante costuma ser acompanhado na frente por Ivan Trickovski ou por Aleksandar Trajkovski, outras duas opções com rodagem no elenco macedônio – Ilija Nestorovski, da Udinese, poderia ser mais uma peça por ali, mas está lesionado e perderá o torneio. A maior dose de talento, de qualquer forma, está no meio do campo.
A faixa central reúne uma trinca de alto nível com Arijan Ademi, Enis Bardhi e Eljif Elmas. Enquanto Bardhi bate muito bem na bola e ajuda nas cobranças de falta, Elmas é mais agressivo e consegue se infiltrar mais para ajudar os dois atacantes. Os lados também oferecem profundidade aos alas, especialmente com Ezgjan Alioski na esquerda. Falta um pouco mais de capacidade na linha defensiva, apenas. Os nomes mais experientes são o goleiro Stole Dmitrievski (do Rayo Vallecano) e o lateral Stefan Ristovski (do Dinamo Zagreb), que costuma entrar como zagueiro pelo lado direito. É ver como a equipe corresponderá em sua primeira participação internacional, já que experiência costuma contar bastante nos grandes torneios.
O craque
Goran Pandev
Por tudo o que representa, não dá para ignorar Goran Pandev nesse posto honroso. O atacante já era considerado o maior jogador da história da Macedônia do Norte por sua carreira vitoriosa, especialmente pelos grandes momentos no futebol italiano. Porém, o medalhão ainda teria um gás para liderar seu país à inédita Eurocopa. Mesmo aos 37 anos, Pandev permanece como uma peça fundamental na equipe e, além de capitão, também é uma referência técnica aos companheiros. Prova disso veio pelo papel decisivo na classificação, inclusive com o gol que selou a vitória sobre a Geórgia e deu a vaga aos macedônios. Pandev foi um dos mais festejados na ocasião, jogado no ar pelos companheiros. Nada mais justo ao maior artilheiro da história da equipe nacional. Sua trajetória com a camisa aurirrubra terá um grand finale tremendo na Euro. Merecido, pela forma como representou o orgulho a muitos compatriotas.
Para fechar, um detalhe curioso: Pandev tem um clube no Campeonato Macedônio, a Akademija Pandev, que começou como um projeto de base e se firmou como potência local – a ponto de conquistar a copa nacional e disputar a Liga Europa. Pois o veterano pode compor o ataque com um jogador de seu time – Marjan Radeski, um dos três únicos convocados da liga local.
Bom coadjuvante
Ezgjan Alioski
A Macedônia do Norte conta com um bom número de jogadores relevantes em clubes tradicionais da Europa. E quem chama atenção há algum tempo é Ezgjan Alioski. O ala foi um dos responsáveis pelo acesso do Leeds United à Premier League e teve uma temporada em alto nível na primeira divisão inglesa. Além de ser um jogador muito potente fisicamente, aparece no ataque e costuma contribuir com gols ou assistências. E isso desequilibra também à seleção. Um sinal concreto disso é que, do elenco chamado à Euro, ele é o terceiro com mais tentos pela equipe nacional. Na seleção, costuma ser usado mais vezes de maneira ofensiva como ala esquerda. Aos 29 anos, possui experiência e talento para deixar sua marca na Eurocopa.
Eljif Elmas, da Macedônia do Norte (Foto: Imago / One Football)A promessa
Eljif Elmas
Eljif Elmas é o segundo mais jovem do elenco da Macedônia do Norte. Os 21 anos, entretanto, não interferem em sua importância à equipe. O meia é um dos jogadores mais criativos e incisivos do time. Pode não ter tanta idade, mas corresponde diretamente aos bons resultados da equipe nacional, ganhando sua posição no meio-campo desde 2018. E subiu de nível nos últimos compromissos, especialmente por ter definido a vitória sobre a Alemanha nas Eliminatórias. Jogador do Napoli, Elmas ainda não desfruta do espaço esperado no clube, geralmente utilizado no segundo tempo dos jogos por Gennaro Gattuso nesta temporada. Na seleção, em contrapartida, já é um dos donos do time mesmo tão jovem. Vale ficar de olho.
O veterano
Arijan Ademi
Pandev, sem dúvidas, é o jogador mais representativo da Macedônia do Norte. De resto, a seleção não possui tantos veteranos. Apenas outros dois atletas passaram dos 31 anos. Mas, entre aqueles com mais tarimba, Arijan Ademi merece ser citado. O volante nem tem uma rodagem tão grande assim na equipe nacional, com 21 partidas. Em compensação, o futebolista de 30 anos é o capitão do Dinamo Zagreb e uma das principais razões às boas campanhas europeias dos croatas. São oito temporadas como titular no clube, com o bom desempenho valendo seu moral também entre os macedônios. Jogador de bom passe e segurança defensiva, pode ser considerado o ponto de equilíbrio nesta Macedônia do Norte. E tem um entrosamento importante com o lateral/zagueiro Stefan Ristovski, outro macedônio que vem do Dinamo.
Técnico
Igor Angelovski
Igor Angelovski é um homem da casa. Sua carreira como meio-campista não teve grande destaque, limitada basicamente a clubes dos Balcãs. Sequer defendeu a seleção da Macedônia do Norte. Já como treinador, o sucesso foi um pouco maior. Angelovski começou à frente do Rabotnicki, potência local, e conseguiu conquistar o Campeonato Macedônio. O sucesso imediato o tornou assistente da seleção e, diante da saída de Ljubinko Drulovic, ele assumiu o cargo principal em 2015. É um dos principais responsáveis pela subida de nível dos macedônios, especialmente a partir de 2017. Conseguiu montar uma equipe eficaz e, ao mesmo tempo, que consegue dar espaço aos principais talentos à disposição. Pesa bastante também a ascensão da geração atual da Macedônia do Norte nos últimos anos. Ainda assim, o comandante de 45 anos tem seu dedo no impacto do país, mesmo passando longe de ser um treinador renomado.
Retrospecto na Eurocopa
Após sua independência da Iugoslávia, a Macedônia do Norte passou a integrar as Eliminatórias da Euro a partir de 1996. E não teve grandes sucessos na competição. Foram apenas 11 vitórias nas primeiras 58 partidas pelo qualificatório, sem passar da quarta colocação de suas chaves nas edições anteriores. O desempenho mais notável aconteceu na classificação para a Euro 2008, quando o time somou 14 pontos. Ficou a dez pontos de conquistar a classificação, mas pelo menos arrancou um empate da Inglaterra que foi suficiente para atrapalhar a vida dos Three Lions e tirá-los do torneio. Nas eliminatórias da Euro 2016, por outro lado, os macedônios tiveram o pior desempenho até então e ficaram na lanterna de sua chave. Até por isso o feito atual representa tanto, já que sequer mudaram seu treinador.
Participações na Eurocopa: Estreante
O elenco