Guia da Euro 2020: Inglaterra
A equipe semifinalista na Copa de 2018 mantém destaques e traz uma penca de novas promessas, sempre com o peso de uma campeã do mundo sem título há tanto tempo

Este texto faz parte do Guia da Euro 2020.
Como foi o ciclo desde a Copa de 2018
Nada mal. A Inglaterra chegou à semifinal da Copa do Mundo, a primeira vez em uma fase tão avançada desde 1990, mas ainda com um time muito jovem. A missão de Gareth Southgate era tentar dar passos à frente na formação do time e no desenvolvimento desses talentos. Chegou à semifinal da primeira Liga das Nações, liderando o grupo que tinha a Espanha e a vice-campeã mundial Croácia, da qual havia perdido na Rússia. Acabou não superando a Holanda na fase final em Portugal. Passou de boa pelas Eliminatórias da Eurocopa com sete vitórias e uma derrota. A segunda participação na Liga das Nações terminou em terceiro lugar, graças a dois tropeços contra a Dinamarca, mas trouxe uma grande vitória contra a Bélgica, talvez a melhor desse ciclo, considerando que Espanha e Croácia não estava tão afiadas quando foram derrotadas.
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Como joga
A Inglaterra foi semifinalista da Copa do Mundo jogando com três zagueiros, uma boa defesa e várias jogadas ensaiadas de bola parada. A missão tática de Southgate foi tentar destravar um pouco mais o setor ofensivo, que conta com uma quantidade de talentos incomum para a Inglaterra: Harry Kane, Jadon Sancho, Raheem Sterling, Marcus Rashford, Phil Foden e Mason Mount – sem falar em Jack Grealish ou os garotos Bukayo Saka e Jude Bellingham. Bom… ainda é uma obra em construção.
Ao mesmo tempo em que gerou goleadas por 6 a 0 contra a Bulgária e 7 a 0 sobre Montenegro, também foi responsável por aquele thirller contra Kosovo (5 x 3) e expôs fragilidades defensivas na derrota para a Holanda na semifinal da Liga das Nações e para a Tchéquia nas Eliminatórias da Eurocopa. O novo esquema talvez ainda não esteja pronto para uma grande competição, tanto que a convocação de Southgate, com muitos e muitos laterais, encaixa melhor com o time com três zagueiros.
Eric Dier seria melhor para isso, mas, com Declan Rice (e Jordan Henderson) entre os convocados, é possível fazer as duas coisas dentro de um mesmo jogo, mas os últimos treinamentos, segundo o Telegraph, têm sido realizados com o 3-4-3 da Copa do Mundo. Inclusive com a possibilidade de usar dois laterais na defesa: Luke Shaw fechando o lado esquerdo no lugar de Harry Maguire, ainda se recuperando de lesão, e Kyle Walker pela direita, com John Stones pelo meio. Ben White foi convocado para o lugar de Alexander- Arnold, cortado por lesão, e se junta a Tyrone Mings e Conor Coady como opções de zagueiros.
Com Shaw no trio de zaga, Ben Chilwell será o ala esquerdo. No outro lado, Southgate pode optar por Reece James ou Kieran Trippier, importante na bola parada. A dupla de meias centrais ideal teria Jordan Henderson ao lado de Rice ou Mason Mount, caso o técnico esteja se sentindo ousado, mas como o capitão do Liverpool também está voltando de problemas físicos, Kalvin Phillips deve ganhar chances nos primeiros duelos.
Sobram duas vagas para o ataque – porque uma delas sempre será de Harry Kane. Southgate gosta de combinar um meia-atacante com um jogador de mais velocidade. Pela fase no fim da temporada, o favorito da primeira categoria seria Mount caindo pelo lado esquerdo. Caso ele atue mais recuado, Foden ou Grealish podem ganhar chances. Por fim, Sterling terminou a temporada tão em baixa que dificilmente será titular no início da Eurocopa, o que abre espaço para Marcus Rashford ou Jadon Sancho.

O craque
Harry Kane
Com 34 gols (em apenas 54 partidas) e 27 anos, Harry Kane deve pulverizar o recorde de Wayne Rooney, maior goleador da história da seleção inglesa com 53 tentos. O ataque da Inglaterra gira em torno de seu capitão, afinal de contas. Quer um exemplo? A Inglaterra fez oito jogos para se classificar à Eurocopa. Kane marcou em todos eles, com direito a hat-tricks diante de Bulgária e Montenegro. No segundo jogo contra os búlgaros, deu três assistências porque também é ótimo quando sai da área, recua e arma o jogo. Se a Inglaterra for longe na Euro, sem dúvida haverá muitos gols do atacante que foi artilheiro da Premier League pela terceira vez e expressou o desejo de trocar o Tottenham por um time que dispute mais títulos a partir da próxima temporada.

Bom coadjuvante
Mason Mount
Como há muitos candidatos a este posto, vamos com o que chegou à Eurocopa em melhor fase. Mount começou a sua carreira muito associado a Frank Lampard, que o levou por empréstimo ao Derby County e depois o promoveu quando assumiu o Chelsea. Ter conseguido brilhar também com Thomas Tuchel foi um grito de independência. Acabou sendo o jogador mais regular do campeão europeu e deu o passe para o gol de Kai Havertz contra o Manchester City na cidade do Porto. Na Inglaterra, pode ser o segundo meia central, em um esquema com três zagueiros, o meia armador no 4-3-3 ou até o ponta esquerda, sempre trazendo a bola mais por dentro.

A promessa
Bukayo Saka
Não foi uma temporada com muitas boas notícias para o Arsenal. A anterior também não havia sido. O que houve de comum entre elas é que Bukayo Saka continuou impressionando e se desenvolvendo como uma grande promessa do futebol inglês. Ainda precisa decidir exatamente em que posição atua, entre a ponta esquerda, a ponta direita, o meio-campo e até de vez em quando na lateral. Mas, como ainda nem chegou aos 20 anos, não precisa ter pressa. Ganhará experiência em grandes competições nesta Eurocopa e a versatilidade pode permitir que atue como um dos alas no esquema com três zagueiros ou, claro, também no ataque.

O veterano
Jordan Henderson
O quanto poderá ajudar em campo dependerá da evolução física. O capitão do Liverpool não joga desde fevereiro, mas foi convocado, apesar das dúvidas, porque tem uma personalidade importante para o grupo – segundo o próprio Southgate. Se entrar em forma, será essencial para o equilíbrio do meio-campo, como foi na Copa do Mundo de 2018. Henderson se transformou naquele meia que consegue desarmar, ganhar a segunda bola e também chegar na área com qualidade. Teve até um período como zagueiro na temporada acidentada do Liverpool, o que pode ser transferido à seleção, caso o técnico queira alternar entre os seus esquemas favoritos ao longo da partida – o que também pode ser feito com Rice.

Técnico
Gareth Southgate
Após uma trajetória de relativo sucesso como jogador, Southgate assumiu o comando do Middlesbrough, no qual encerrou a primeira carreira, para começar a segunda. Foi demitido após um rebaixamento e um começo ruim de Championship. Retomou a prancheta apenas em 2013, na seleção inglesa sub-21. Aceitou comandar o time de cima depois da saída de Sam Allardyce e está fazendo um bom trabalho. Conseguiu a primeira semifinal desde 1990 e até ganhou uma disputa de pênaltis. Seu principal mérito tem sido blindar um pouco o ambiente da seleção, notoriamente conturbado por fofocas de tabloides e expectativas exageradas. A crítica mais comum ao seu trabalho tem sido ainda não conseguir transformar várias peças ofensivas interessantes em um ataque fluído e letal. Talvez precise apenas de tempo. Talvez nunca consiga.
Retrospecto na Eurocopa
Para uma seleção campeã mundial, o retrospecto é pífio. Irá para a sua décima participação e nunca chegou na decisão. As melhores campanhas terminaram na semifinal em 1968 e em 1996, quando o futebol “voltou para casa”, mas a Inglaterra não conseguiu passar pela Alemanha nos pênaltis. Southgate, aliás, perdeu a cobrança decisiva naquela ocasião.
Participações na Eurocopa: 9 (1968, 1980, 1988, 1992, 1996, 2000, 2004, 2012, 2016)
Melhor desempenho: Semifinais (1968, 1996)
O elenco