Guia da Euro 2020: Espanha
A seleção espanhola conta com um elenco bastante homogêneo, mas que carece de grandes protagonistas
Este texto faz parte do Guia da Euro 2020.
Como foi o ciclo desde a Copa de 2018
A Espanha ainda tateia o seu caminho. A Copa de 2018 guardaria um clima conturbado o suficiente, com a demissão de Julen Lopetegui às vésperas da estreia e o desempenho morno do time dirigido por Fernando Hierro. Luis Enrique chegou como um treinador de mais peso, mas também precisou sair provisoriamente para cuidar da saúde de sua filha e viu o assistente Robert Moreno dar conta do recado – mesmo que tenha criado caso em sua saída do comando. Mas, ainda que a volta de Luis Enrique garanta um técnico de bagagem para a Eurocopa, não é que o momento da Roja inspire tanto. O elenco é vasto, mas sem deixar clara qual a sua base principal. Além disso, os resultados nos últimos três anos tiveram altos e baixos, apesar de picos com goleadas históricas.
No que interessava, as Eliminatórias da Euro, a Espanha nadou de braçada. Não era o grupo mais simples, considerando as concorrências de Suécia, Noruega e Romênia. De qualquer forma, os ibéricos terminaram a competição invictos e mantiveram uma ampla vantagem na primeira colocação. Já a Liga das Nações seria agridoce. Na primeira edição, a Roja não conseguiu a vaga para a fase final ao perder seu último compromisso contra a Croácia. Ao menos vai disputar o próximo Top Four, graças à histórica goleada por 6 a 0 sobre a Alemanha. Por fim, no início das Eliminatórias para a Copa de 2022, o empate com a Grécia foi o resultado que menos agradou – sem atuações tão exuberantes contra adversários mais frágeis.
Desde a Copa de 2018, a Espanha perdeu apenas três de seus 28 compromissos – todos pela Liga das Nações. No geral, o aproveitamento é positivo e a Roja derrotou adversários de peso no período – com goleadas sobre Alemanha e Croácia, além de bater também a Inglaterra. A dúvida fica pela falta de uma espinha dorsal clara e experimentada, como ocorreu nos principais momentos de sucesso dos espanhóis neste século. O Barcelona não atravessa bom momento e o Real Madrid sequer teve convocados. É preciso esperar e ver como esse time de Luis Enrique irá se portar num torneio com a exigência de uma Eurocopa. O lado bom é que a guerra de vaidades que geralmente existe entre jogadores dos dois gigantes do país, desta vez, não será preocupação.
Como joga
A Espanha tem variado sua formação entre o 4-1-4-1 e o 4-3-3 nos últimos jogos. O sistema favorito de Luis Enrique garante um meio de campo bastante dinâmico à Roja e também uma linha de frente incisiva, especialmente pelo papel dos pontas para abrir o jogo. Contudo, levando em conta a homogeneidade do elenco, há várias posições que parecem em aberto quanto aos possíveis titulares. Nem todos os jogadores mais tarimbados passam por uma fase excepcional, assim como outros candidatos ao posto principal não apresentam uma rodagem internacional tão grande.
Unai Simón vem sendo o goleiro titular, mas com deslizes recentes que parecem aumentar a sombra de David de Gea e até mesmo do ascendente Robert Sánchez, do Brighton. Pau Torres e o recém-naturalizado Aymeric Laporte formam uma dupla de zaga muito promissora, com qualidade técnica, embora sem a casca de Sergio Ramos. Já nas laterais, há uma série de boas opções. Marcos Llorente é um trunfo pela direita, até pela ótima fase como coringa do Atlético de Madrid, e deve deixar César Azpilicueta no banco; José Gaya traz sangue jovem pela esquerda, com a concorrência de Jordi Alba no setor.
Uma dúvida na cabeça de área é a presença de Sergio Busquets, capitão e homem de confiança de Luis Enrique, que contraiu a COVID-19 – e gera preocupações além nessa preparação, sob o risco de um surto. Sem ele, Rodri pode ocupar o setor sem grandes perdas. Thiago Alcântara, Koke, Fabián Ruiz e Pedri são outros candidatos a compor a trinca central com boa qualidade no passe. Mais à frente, Ferran Torres é o nome que parece mais certo na ponta. Dani Olmo, Pablo Sarabia, Adama Traoré e Mikel Oyarzabal completam a vasta lista de opções aos lados. Já na frente, Álvaro Morata parece desfrutar um pouco mais a preferência do técnico, embora a fase de Gerard Moreno com o Villarreal seja superior.
Por fim, outro detalhe curioso é a longa lista de boas opções que ficaram de fora da convocação final. Nomes como Raúl Albiol, Sergio Reguillón, Jesús Navas, Sergio Ramos, Sergio Canales, Marco Asensio, Mikel Merino, Rodrigo Moreno e Iago Aspas tinham bola suficiente para concorrer ao menos por um lugar entre os 24. Seja por opção técnica ou por questões físicas, no máximo compuseram a pré-lista.
O craque
Koke
A Espanha carece de um protagonista neste momento. E talvez essa seja exatamente uma das lacunas à Fúria: jogadores de mais peso para liderar o time. A ausência de Sergio Ramos tem ainda mais importância nesse sentido. A Eurocopa será o momento de alguns jogadores darem um passo à frente. E um forte candidato é Koke. O histórico do meio-campista na seleção não é dos mais invejáveis, até considerando o pênalti perdido na Copa de 2018. Entretanto, vem de uma excelente temporada com o Atlético de Madrid e pareceu desfrutar da confiança de Luis Enrique nos últimos compromissos dos espanhóis. Por sua visão de jogo e sua qualidade nos passes, pode virar o termômetro do time ao lado de Thiago Alcântara – que possui até mais talento, mas não vem de um ano tão reluzente com o Liverpool. Se o toque de bola foi a chave para a Roja se estabelecer como uma potência a partir de 2008, ele tende a ser vital também na recuperação desse prestígio.
Bom coadjuvante
Pau Torres
A Espanha está cheia de jogadores muito bons para compor o elenco, mas que não são necessariamente astros. Neste sentido, um dos mais preparados a aparecer na Eurocopa é Pau Torres. O zagueiro vem em uma fase excepcional com o Villarreal e já aparecia como titular da Roja nos últimos compromissos. Sua importância aumenta com a ausência de Sergio Ramos na equipe nacional. O momento favorece o jovem, com muita importância na conquista da Liga Europa pelo Submarino Amarelo. Pode não ser o primeiro nome quando se pensa no elenco espanhol, mas o que vem fazendo pelo clube o leva a merecer sua chance. Ao seu lado, contará com a presença de Aymeric Laporte, que gera expectativas pelo que pode aportar aos espanhóis. Outro companheiro de Villarreal que apresenta um status parecido ao de Torres é Gerard Moreno, empilhando gols no clube, mas que talvez acabe preterido por Morata como titular.
A promessa
Pedri
Aos 18 anos, Pedri carrega um fardo grande nas costas. É considerado a grande promessa do Barcelona e, entre os jogadores mais jovens, é quem mais parece capaz de despontar na Espanha. O meio-campista traz consigo uma herança do jogo técnico dos blaugranas. Mais importante, fez por merecer tamanhas expectativas, considerando as ótimas atuações pelo clube e também as vezes em que se saiu bem na seleção. Durante momentos da temporada, o prodígio foi o principal sócio de Lionel Messi no Barça, com suas infiltrações e sua capacidade criativa. O final de temporada não seria tão bom, com a queda geral do Barça, mas o novato chega à Euro como uma carta na manga de Luis Enrique. E a experiência nesta edição do torneio continental pode ser valiosa até pensando em seu futuro com a Roja.
O veterano
Jordi Alba
Segundo mais velho do elenco da Espanha, atrás apenas de Sergio Busquets, Jordi Alba é um raro remanescente do período vitorioso da seleção. O lateral esquerdo despontou exatamente na Euro 2012, quando fez um bom torneio para ajudar os espanhóis no bicampeonato consecutivo. Desde então, sua carreira atingiu um outro patamar, com toda a importância que possui ao jogo ofensivo do Barcelona e a efetividade que permanece com o passar dos anos. Nesse sentido, ainda é uma figura notável no grupo. Chegou a sofrer com as lesões e se ausentou das convocações no ciclo de Luis Enrique. De qualquer forma, é um símbolo e um medalhão que dá mais força a esta equipe espanhola. Outro que pode contribuir da mesma forma é César Azpilicueta, ainda mais depois da ótima temporada com o Chelsea, em que capitaneou os ingleses rumo ao troféu da Champions e teve bom papel defensivo no time.
Técnico
Luis Enrique
Luis Enrique é um dos treinadores da Eurocopa com histórico mais imponente. Seus trabalhos em clubes não são unânimes, mas levou uma Champions à frente do Barcelona, quando deu o máximo de protagonismo ao fantástico tridente ofensivo que tinha em mãos. Não é todo mundo que destaca suas qualidades como treinador, mas chegou à seleção espanhola com estofo por aquilo que conseguiu como jogador da Fúria e também por transitar entre os dois principais clubes do país. Seu real impacto na equipe nacional não está claro, considerando as dificuldades para encontrar um 11 inicial fixo. Mas, pelos jogadores que têm em mãos, Luis Enrique corresponde com resultados interessantes e vitórias emblemáticas. Precisará entregar mais na Eurocopa, embora a fase de grupos possa ajudar, considerando a chave sem grandes desafios aos ibéricos. A missão de Luis Enrique será transformar esse elenco homogêneo num time realmente imponente.
Retrospecto na Eurocopa
A Espanha estreou na Eurocopa com o título em 1964. Depois disso, permaneceu com seu status tradicional em Copas do Mundo: uma equipe de segundo escalão, com destaques esporádicos. A Roja se ausentou das três edições seguintes, até voltar em 1980. Desde então, se ausentou apenas em 1992 e, nos tempos em que não justificava tanto assim sua reputação, teve como ponto alto o vice de 1984. A transformação aconteceu no bicampeonato em 2008 e 2012, com a célebre equipe dominante que Luis Aragonés passou a Vicente del Bosque. A Euro ajudou a dar outra aura aos espanhóis e elevou bastante as considerações sobre o país nos torneios internacionais. Na Euro 2016, entretanto, a campanha brecada pela Itália nas oitavas reexibiu um time aquém de suas expectativas. Não constar no principal rol de favoritos nesta atual edição pode ajudar.
Participações na Eurocopa: 10 (1964, 1980, 1984, 1988, 1996, 2000, 2004, 2008, 2012, 2016)
Melhor desempenho: três títulos (1964, 2008, 2012)
O elenco