Guia da Euro 2020: Alemanha
A Alemanha chega à Eurocopa num momento de questionamento, mas tem qualidade para fazer uma boa campanha
Este texto faz parte do Guia da Euro 2020.
Como foi o ciclo desde a Copa de 2018
A Copa de 2018 entrou para a história como a pior campanha da Alemanha em Mundiais. Muitos fatores pesaram contra a Mannschaft, das péssimas apresentações do time até mesmo às discussões políticas que envolveram Mesut Özil e Ilkay Gündogan. O caminho adotado, então, foi realizar uma renovação mais sensível e afastar os medalhões do elenco. Joachim Löw tinha suas justificativas na época, mas o tiro saiu pela culatra. E o ciclo posterior à Rússia se provou tão melancólico quanto, com resultados ruins e a falta de uma identidade mais clara à equipe, que sofreu neste momento de transição de lideranças.
As eliminatórias da Eurocopa até viram a Alemanha que costuma sobrar nos qualificatórios das competições internacionais. A única derrota aconteceu contra a Holanda e, apesar de certo momento em que parecia possível a classificação se tornar difícil, o time engatou uma boa sequência e deslanchou no fim. A maior preocupação no ciclo se concentrou mesmo no confronto direto contra adversários de maior peso. E, de fato, a Liga das Nações fez o Nationalelf sofrer. A equipe só não foi rebaixada na primeira edição do torneio por conta da mudança de regulamento e, na segunda, sofreu a humilhante goleada contra a Espanha no confronto decisivo. Por fim, as Eliminatórias para a Copa de 2022 também botaram mais interrogações na cabeça dos alemães, com a derrota para a Macedônia do Norte.
Desde a Copa de 2018, a Alemanha disputou 29 partidas. Sofreu cinco derrotas e acumulou nove empates, num aproveitamento bem abaixo do que se costuma esperar da Mannschaft. Não à toa, esse ciclo encerra a passagem de Joachim Löw à frente da equipe nacional. O desgaste era mais do que evidente e as próprias escolhas do treinador não se acertaram a partir de 2014. Resta saber se a equipe funcionará suficientemente bem para uma despedida digna. Ao menos, as expectativas se rebaixaram – o que pode ser positivo ao Nationalelf, considerando que uma boa equipe permanece à disposição.
Como joga
Em muitos momentos, Joachim Löw teve como virtude na seleção reproduzir alguns estilos de jogo em voga na Bundesliga e conseguir um rendimento melhor de seus jogadores. É algo que tende a se ver também na Euro 2020, diante do flerte nos amistosos com o 3-4-3. O esquema parece proteger um sistema defensivo que tantas vezes fica exposto, dá mais liberdade aos meio-campistas e pode garantir mobilidade ao trio de frente – considerando que falta um homem de referência na Mannschaft. Assim, Löw pode unir o útil ao agradável e aproveitar melhor seus atletas. É um esquema mais dinâmico e menos suscetível à lentidão que o Nationalelf sofre atrás.
Manuel Neuer protege o gol, enquanto a linha de zaga tem à disposição nomes como Antonio Rüdiger, Mats Hummels, Matthias Ginter e Niklas Süle. A maior dose de talento está no meio-campo, considerando a excelente fase de Ilkay Gündogan, a experiência de Toni Kroos e a ascensão de Leon Goretzka. Como está voltando de lesão, Goretzka deve ser reserva neste primeiro momento e Joshua Kimmich pode ser deslocado à ala direita. Florian Neuhaus é outra ótima pedida ao meio, enquanto Robin Gosens deve ganhar a posição na esquerda. Já na linha de frente, é ver como Löw combinará os jogadores de alta mobilidade que possui. Thomas Müller, Serge Gnabry e Kai Havertz parecem favoritos neste momento, pela facilidade em trocarem os lados. Timo Werner e Leroy Sané, de qualquer forma, são duas boas opções por ali.
O craque
Manuel Neuer
Manuel Neuer permanece como principal figura da Alemanha e de ares renovados em relação à Copa do Mundo de 2018. Se há três anos muitos questionavam a titularidade do veterano, considerando suas intermináveis lesões, ele vem de duas temporadas excepcionais que reforçaram o seu lugar como um dos melhores goleiros da história. E a influência do camisa 1, que já foi imensa ao sucesso do Bayern de Munique, se torna ainda mais forte no Nationalelf. O arqueiro é uma liderança expressa e um dos grandes responsáveis pelo tetracampeonato mundial. A Euro 2020 pode ser uma de suas últimas chances de defender a equipe nacional em alto nível. E a boa forma na Baviera reforça a confiança de que ele pode desequilibrar no torneio continental. Além do mais, Neuer terá a tranquilidade de não ver mais a sombra de Marc-André ter Stegen, com a lesão de seu reserva imediato. Se parecia difícil desbancar a lenda na meta alemã, ele chega à Eurocopa como principal candidato a melhor da posição na competição.
Bom coadjuvante
Antonio Rüdiger
Antonio Rüdiger não é um nome tão bem cotado na seleção da Alemanha. Pelo contrário, o zagueiro não costuma transmitir muita confiança no Nationalelf. Mas vai ser interessante observar seu desempenho na Eurocopa: se conseguir reproduzir o alto nível dos últimos meses no Chelsea, pode ajudar a preencher uma das principais lacunas dos alemães. O zagueiro não vinha com muito moral mesmo em Stamford Bridge, mas melhorou sob as ordens de Thomas Tuchel e virou um dos esteios da equipe. Segurança defensiva é algo que realmente falta à Mannschaft e a contribuição do beque pode ser vital neste sentido. Há dúvidas quanto à lentidão de um sistema que ainda deve contar com Mats Hummels e Matthias Ginter. Mas, bem protegida, a trinca de zaga da Alemanha pode deixar para trás a impressão de ser o ponto fraco da equipe.
A promessa
Kai Havertz
Faz tanto tempo que Kai Havertz atua em alto nível na Bundesliga que muita gente até esquece que o atacante tem apenas 21 anos. E a Euro 2020 será sua primeira prova em alto nível, convocado pela primeira vez a uma competição internacional pela seleção alemã. Essa já foi uma temporada decisiva ao novato, considerando sua chegada ao Chelsea como reforço mais caro da história do clube. O desempenho teve seus altos e baixos, mas o garoto cresceu a partir da vinda de Thomas Tuchel. E, afinal, deixou a melhor impressão possível no encerramento da Champions League, ao anotar o gol que valeu o título dos Blues. Desta maneira, chega bem cotado à Eurocopa e com boas chances até mesmo de aparecer como titular. Considerando a falta de um homem de área no elenco de Joachim Löw, Havertz pode ajudar a fazer essa função e aparecer mais na definição das jogadas. Idade não será empecilho a um possível protagonismo.
O veterano
Thomas Müller
Thomas Müller é o jogador da seleção atual com mais rodagem nas competições internacionais. Desde a Copa de 2010, o atacante é uma figura de relevo na Mannschaft. E chega revigorado para a Euro 2020, considerando tudo o que experimentou nos últimos três anos. A história do atacante na equipe nacional parecia encerrada com a decisão unilateral de Löw em aposentá-lo. As oscilações do time voltavam a abrir as portas para Müller, assim como sua recuperação no Bayern o recolocou num lugar de destaque. O veterano reexibiu seu melhor sob as ordens de Hansi Flick na Baviera e até extrapolou seus números, considerando o excelente papel na criação do time. Na seleção, chega para isso e muito mais, considerando as dificuldades de Löw para estabelecer suas lideranças. Até pela relação com muitos jogadores do Bayern, Müller vem ao Nationalelf com um moral imenso. Ganha uma nova chance de melhorar a péssima impressão deixada no Mundial da Rússia.
Técnico
Joachim Löw
Joachim Löw é o mais longevo dentre os treinadores das seleções europeias. Depois de 15 anos à frente da Alemanha, entretanto, a impressão é de que o comandante ficou tempo demais. Os primeiros oito anos da passagem de Löw foram ótimos, com os sinais claros do amadurecimento de um time que conquistou a Copa de 2014. Desde então, porém, o comandante não consegue reproduzir o sucesso. Há claras dificuldades na transição e mesmo na troca de lideranças – após a aposentadoria de jogadores importantes como Philipp Lahm, Bastian Schweinsteiger e Miroslav Klose. Além disso, as insistências de Löw e as dificuldades em assumir seus erros distanciaram a Mannschaft do público. Se a eliminação precoce na Copa de 2018 parecia a deixa ao seu adeus, a saída de cena não aconteceu e o veterano se arrastou na casamata. Agora, todos sabem que a Euro 2020 será seu último ato. A decisão de dar um passo para trás antes mesmo do início do torneio deixou o clima mais leve, assim como a escolha de Hansi Flick como seu sucessor. Os jogadores podem ter a motivação extra de buscar uma despedida honrosa ao professor. Resta saber se isso será suficiente a um time que não consegue ser realmente competitivo há tempos.
Retrospecto na Eurocopa
Ao lado da Espanha, a Alemanha é a seleção que mais títulos conquistou na Eurocopa. O Nationalelf demorou a estrear, mas logo levou a taça em 1972. Seria campeão também em 1980 e 1996, com títulos que refletem outros bons momentos do país em Copas do Mundo. Em 12 aparições na Euro, a Mannschaft terminou entre os quatro primeiros nove vezes, com seis finais na conta. Quando não emplacou, porém, foi mal e caiu na fase de grupos nas outras três oportunidades. A Euro faz falta na galeria de troféus e lá se vão 25 anos desde a última conquista. Ainda assim, as campanhas recentes são razoáveis, com duas semifinais – mesmo sem que a equipe tenha apresentado um futebol tão empolgante durante a Euro 2016.
Participações na Eurocopa: 12 (1972, 1976, 1980, 1984, 1988, 1992, 1996, 2000, 2004, 2008, 2012, 2016)
Melhor desempenho: três títulos (1972, 1980, 1996)
O elenco