Eliminatórias da Eurocopa

Mbappé ofereceu sua melhor versão para bater a Holanda e confirmar a França na Euro

Mbappé anotou dois gols num grande jogo em Amsterdã, que confirmou a presença dos franceses na Euro 2024 e deixou uma situação instável para a Holanda

Poucos jogadores intimidam tanto os defensores na atualidade quanto Kylian Mbappé. Marcar o atacante é uma das missões mais duras do futebol, entre a combinação de velocidade e habilidade oferecida pelo craque. E se por vezes a melhor versão não se nota no Paris Saint-Germain, como visível neste início de temporada, na seleção da França ela é bem mais frequente. Nesta sexta-feira, o melhor de Mbappé esteve presente na Johan Cruyff Arena. O camisa 10 protagonizou um grande jogo e, com dois belos gols, liderou a vitória francesa por 2 a 1 sobre a Holanda. O resultado confirmou os Bleus na Euro 2024. Pintam como favoritos muito por conta daquilo que sua grande figura costuma apresentar nas competições internacionais.

Contra uma desfalcada Holanda, a França controlou grande parte do jogo, mesmo fora de casa. O primeiro tempo ficou nas mãos dos Bleus, especialmente pelo gol precoce anotado por Mbappé, em grande jogada coletiva de seu time. A Oranje demorou a despertar, apenas na metade da etapa inicial, mas sem acertar as finalizações. Já no segundo tempo, um golaço de Mbappé tranquilizou ainda mais a situação dos franceses em Amsterdã. Um ar de incerteza só pairou a partir dos 38 minutos, quando os holandeses descontaram e animaram sua torcida. Entretanto, a campanha impecável da França, com 100% de aproveitamento, se preserva.

A França disputará a Eurocopa pela 11ª vez, presente em todas as edições do torneio desde 1992. Os Bleus possuem dois títulos marcantes na competição, em 1984 e 2000. Entretanto, as últimas participações ficaram aquém das expectativas e desse passado. Em 2016, os franceses eram anfitriões e fizeram um bom papel, mas acabaram com o amargo vice na prorrogação diante de Portugal. Já em 2020, uma produção abaixo culminou na queda contra a Suíça nas oitavas de final.

O título da Liga das Nações em 2021 e a campanha rumo à final da Copa do Mundo em 2022 já mudaram as percepções ao redor da França desde aquela última Euro. Hoje, o time de Didier Deschamps é o maior favorito ao troféu continental. O elenco possui uma coleção de recursos, mesmo com alguns setores passando por renovações. Não é que o nível caiu tanto assim com os novos titulares do meio para trás. Já na frente, sobra qualidade sobretudo pelos dois craques na condução dos Bleus. Mbappé costuma ser um monstro pela seleção e Griezmann consegue viver seus melhores dias numa trajetória tão brilhante pela equipe nacional.

As escalações

A Holanda entrou em campo num 3-5-2 alinhado por Ronald Koeman. Bart Verbruggen fazia sua estreia no gol. A zaga capitaneada por Virgil van Dijk ainda tinha Nathan Aké e Lutsharel Geertruida. Marten de Roon, Joey Veerman e Tiijani Reijnders fechavam o meio, com Denzel Dumfries e Quilindschy Hartman (outro estreante) abertos nas alas. Mais à frente, Xavi Simons circulava no apoio a Wout Weghorst como homem de referência. Era um time com qualidade, mas não com força máxima por causa dos desfalques. Matthijs de Ligt, Jurriën Timber, Teun Koopmeiners, Frenkie de Jong, Cody Gakpo e Memphis Depay eram alguns dos ausentes.

A França de Didier Deschamps apostava num 4-3-3 mais básico. Mike Maignan é o dono do gol. Jonathan Clauss e Theo Hernández davam qualidade no apoio pelas laterais, com Ibrahima Konaté e Lucas Hernández no miolo da zaga. O meio-campo tinha sustentação com Aurélien Tchouaméni, acompanhado por Adrien Rabiot e com Antoine Griezmann livre na armação. Kingsley Coman e Kylian Mbappé ocupavam as pontas, enquanto Randal Kolo Muani era o centroavante.

França controla de início

A posse de bola inicial da Holanda não durou mais do que parcos minutos. A Oranje apresentava certa iniciativa, mas nada muito perigoso. E logo a superioridade da França se tornou notável. Os Bleus passaram a ganhar o meio-campo e a se impor nas disputas. O gol precoce auxiliou demais a boa impressão sobre os franceses, aos sete minutos. Numa boa trama entre Griezmann e Coman, Jonathan Clauss recebeu com liberdade pelo lado direito. O cruzamento saiu na medida e encontrou Mbappé para o desvio de primeira dentro da área. O goleiro Verbruggen ainda tentou salvar, mas estava vendido no lance.

O gol facilitou o domínio da França. Os Bleus administravam o resultado e mantinham a segurança no meio-campo, sem uma resposta da Holanda. O time da casa sentiu o baque e não deu uma resposta imediata. Era uma atuação bem tranquila para os franceses, pela maneira como os holandeses não encontravam seu encaixe. Os visitantes só não faziam muito para ampliar, no máximo com um chute de longe dado por Tchouaméni que Verbruggen pegou aos 22. Já a Oranje acordou depois dos 25, quando imprimiu lances rápidos. Numa boa jogada pela direita, Dumfries centrou e Veerman pegou torto na bola, mas com muita liberdade na área. Xavi Simons logo tentou um tiro perigoso, mas desviado para fora.

A Holanda tomou um susto em seu melhor momento, quando Weghorst sentiu lesão. Apesar dos temores, o centroavante inicialmente ficou em campo e exigiu um corte de Lucas Hernández no limite. Neste momento, era a França que se desconcentrava, diante da Oranje empurrada por sua torcida. O time estava mais inteiro nas disputas e mais aceso no ataque. Aos 36, Simons experimentou o chute rasteiro e forçou uma ótima defesa de Maignan. Weghorst deixaria o campo nesta sequência, suplantado por Donyell Malen. Quando os Bleus tentavam, não incomodavam tanto Verbruggen, de outra defesa firme em batida de Tchouaméni de longe. Já Maignan seria mais uma vez testado contra Hartman e, apesar dos riscos, fez a defesa em dois tempos.

O golaço de Mbappé e a pressão final

A Holanda voltou para o segundo tempo com Mats Wieffer no lugar de Marten de Roon no meio-campo. A Oranje ganhou teoricamente mais ofensividade e Malen tentou empatar logo aos quatro minutos, parando em Maignan. Todavia, com os recursos que tinha, a França dependia apenas de um lampejo para chegar às redes. Foi o que aconteceu aos oito minutos, da maneira mais brilhante, com Mbappé. O craque recebeu na esquerda, tabelou com Rabiot e escapou como um raio no meio da marcação. De fora da área, o atacante experimentou um tapa colocado de primeira e só tirou do alcance de Verbruggen. Pintura, para fazer 2 a 0 no placar.

Quase a Holanda conseguiu uma resposta imediata, num ótimo lance em que Aké cruzou rasteiro e Malen balançou o barbante. Todavia, o gol acabou anulado por um impedimento mínimo. E a verdade é que a sequência do jogo estava nos pés da França, com o ritmo cadenciado pelos Bleus. Já soava como uma partida resolvida. Jérémie Frimpong estreou na equipe holandesa, no lugar de Dumfries, e tentou dar um gás na ala direita. Já a França mudaria seu esquema, com Olivier Giroud na vaga de Coman aos 26. Kolo Muani, que tentava e não acertava, tinha uma chance para ganhar confiança mais aberto na direita.

Uma série de mudanças vieram aos 35 minutos. Marcus Thuram e o estreante Malo Gusto entraram na França. Já a Holanda ganhou Steven Bergwijn e o também novato Micky van de Ven. Foi quando a partida mudou de cara, graças ao despertar da Oranje. Os Bleus se acomodaram e passaram a ser ameaçados. Malen tentou um golaço no giro, mas o chute saiu torto. Já aos 38, os holandeses descontaram com Hartman, que era muito participativo na esquerda. Foi um lance sensacional do jovem ala, que deu uma caneta em Thuram e tabelou com Bergwijn. Também contou com a colaboração de Maignan, que abriu o canto e permitiu a definição nas redes.

A Holanda só não podia se descuidar. Kylian Mbappé permanecia do outro lado. Em mais um estalo, o craque bateu da entrada da área e parou no travessão. Logo depois, numa combinação com Giroud, Marcus Thuram exigiu a defesa encaixada de Verbruggen. A partida ficava totalmente aberta. Seriam cinco minutos de acréscimos, com esse ar de incerteza. A França corria mais riscos do que deveria, mas ainda tinha alguns escapes. Já a Holanda não deixava de lutar e dava algum calor nas bolas cruzadas. Entretanto, o apito final confirmou a merecida vitória francesa e a passagem carimbada rumo à Eurocopa.

Como fica a classificação

A França mantém um aproveitamento perfeito no Grupo B das eliminatórias da Eurocopa, com seis vitórias em seis partidas. São 18 pontos, sobrando na ponta da chave. A segunda colocação fica com a Grécia, que fez sua parte ao derrotar a Irlanda fora de casa nesta sexta-feira. O Navio Pirata, com 12 pontos, bota pressão na Holanda. A Oranje soma nove pontos, com uma partida a menos, e precisa correr atrás do prejuízo. A Irlanda está fora da disputa com três pontos, assim como o zerado lanterna Gibraltar.

A França volta a campo na terça-feira, em amistoso contra a Escócia. Já a Holanda joga na segunda-feira, com o crucial duelo diante da Grécia em Atenas. O triunfo será importante à Oranje, embora os gregos ainda recebam a França na rodada final do qualificatório. Os holandeses pegarão Irlanda e Gibraltar, numa tabela mais acessível para dar a volta por cima.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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