Eurocopa 2024

Da seleção de Aruba a titular da Holanda, Dumfries foi o herói de uma vitória agônica

O lateral direito de 25 anos, capitão do PSV, participou dos três gols da vitória sobre a Ucrânia - e foi o autor do decisivo

Em março de 2014, enquanto a Holanda se preparava para fazer uma boa campanha na Copa do Mundo do Brasil, na qual foi terceira colocada, Denzel Dumfries tinha 17 anos. Aceitou convocação para defender a seleção. Mas a de Aruba, que estava na 162ª posição do ranking da Fifa. Não gostou da experiência e pediu dispensa porque sonhava em jogar pela Holanda. O sonho não apenas se realizou como ele se tornou um jogador frequente no time nacional. Neste domingo, foi além: virou o herói da vitória por 3 a 2 sobre a Ucrânia pela Eurocopa.

Em entrevista ao site Goal, Giovanni Franken, que treinou Aruba entre 2013 e 2015, contou que deu risada quando ficou sabendo que Dumfries havia decidido não defender mais a seleção do Caribe para jogar pela Holanda. “Não se esqueça: ele ainda era um jogador jovem do BVV Barendrecht. O gol que ele marcou também foi ridículo”, afirmou.

O BVV Barendrecht é um time majoritariamente amador que naquela época disputava a terceira divisão da Holanda. A ascensão, porém, foi rápida: pulou para o Sparta Roterdã em 2015, foi para o Heerenven dois anos depois e, após uma boa temporada, chegou ao PSV. Nenhuma surpresa diante do relato de Franken sobre a ética de trabalho de Dumfries.

“Chegamos a Aruba. Todos os jogadores holandeses sempre pensam em apenas uma coisa: festejar. Pensei que Denzel também. Enquanto todos os convidados festejavam, chamei Denzel para mim. Ele não se comportou da maneira como eu esperava. Perguntei o que ele estava fazendo. ‘Olhe para esses caras. Eles estão pensando no futuro? É isso que você quer?’.”, contou.

“Quem me conhece sabe que, quando começo a falar de futebol, os jogadores costumam me dizer que basta e vão fazer outra coisa. Denzel não. Falamos durante sete horas sem parar sobre futebol. Nas outras duas, dormimos. Este é Denzel”, acrescentou Frenken, sobre uma viagem de nove horas para Aruba.

O sonho de Dumfries se realizou em outubro de 2018, cerca de um ano depois de assinar pelo PSV. Ronald Koeman promoveu a sua estreia em um jogo da Liga das Nações contra a Alemanha – com vitória holandesa por 3 a 0. Desde então, esteve envolvido em quase todos os jogos da seleção, somou 124 atuações pelo time de Eindhoven, do qual virou capitão, e já é especulado em clubes como Everton e Napoli.

Era nome certo para a Eurocopa e não decepcionou em sua estreia. Foi uma válvula de escape importante pela ala direita no esquema com três zagueiros mantido por Frank de Boer e participou dos três gols. Deu o cruzamento desviado pelo goleiro Bushchan que terminou no chute de Wijnaldum; invadiu a área e ganhou de Mykolenko no corpo antes do corte de Matvienko que terminou com o tento de Weghorst; e, claro, ele próprio arrancou a vitória aos 40 minutos da etapa final.

Como a bola estava bem aberta na esquerda, Dumfries fechou pelo outro lado, na região da segunda trave. O cruzamento de Aké foi bom, e o lateral direito teve inteligência para se movimentar e se antecipar a Zinchenko antes de cabecear no canto de Bushchan.

Em uma seleção que ainda depende demais de Depay e Wijnaldum para criar, com um ala esquerdo mais defensivo como Patrick van Aanholt, as subidas de Dumfries pela direita são importantes. E elas existem na Holanda somente porque ele não teve medo de apostar em si mesmo sete anos atrás. Agora, colhe os frutos.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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