Eurocopa 2024

Contra a Suécia, em plena Euro 2012, Shevchenko experimentou o último grande momento de sua trajetória como craque

Shevchenko marcou seus dois últimos gols da carreira diante da Suécia, dentro do Estádio Olímpico de Kiev

Suécia e Ucrânia disputarão a partidas pelas oitavas de final da Euro 2020 que chama menos atenção. Ainda assim, as duas equipes possuem sua história particular pela competição continental. E foi exatamente num duelo contra os suecos, dentro do Estádio Olímpico de Kiev, que Andriy Shevchenko protagonizou sua melhor atuação em Eurocopas. A seleção ucraniana não conseguiu avançar na fase de grupos em 2012, mesmo sediando o torneio. Ainda assim, teve motivos para se orgulhar de seu capitão, num duelo mais do que especial contra Zlatan Ibrahimovic. O atual treinador da Ucrânia fez dois gols e comandou uma emocionante virada por 2 a 1. Tem sua história para contar aos seus comandados antes do embate desta terça dentro do Hampden Park.

Suécia e Ucrânia disputaram apenas quatro partidas entre si, concentradas de 2008 a 2012. As três primeiras foram amistosos. Em 2008, a Ucrânia ganhou por 1 a 0 dentro do antigo Estádio Rasunda, gol de Serhiy Nazarenko. Shevchenko era ausência na ocasião. Três anos depois, as equipes empataram por 1 a 1 num torneio amistoso realizado no Chipre. E logo depois haveria um embate em Kharkiv, no qual os suecos ganharam por 1 a 0, tento de Tobias Hysén. De qualquer maneira, a grande ocasião ficou para a rodada inaugural da Euro 2012.

Ucrânia e Suécia corriam por fora no Grupo D, também composto por França e Inglaterra. Assim, a primeira partida entre as duas equipes seria importante para as ambições na sequência do campeonato. Shevchenko era o capitão e a grande estrela da Ucrânia dirigida pelo igualmente lendário Oleh Blokhin. Anatoliy Tymoshchuk, Yevhen Konoplyanka e Andriy Voronin eram outros nomes importantes entre os auriazuis. Andriy Pyatov e Andriy Yarmolenko são os remanescentes daquele time no grupo atual. Já a Suécia de Erik Hamrén reunia jogadores rodados como Andreas Isaksson, Olof Mellberg, Kim Källström, Anders Svensson e Christian Wilhelmsson, num elenco abrilhantado por Ibrahimovic. Andreas Granqvist e Sebastian Larsson são as figuras daquela equipe que permanecem na Euro 2020, com Mikael Lustig no banco naquela ocasião.

Naquela altura da carreira, Shevchenko já tinha passado dos 100 jogos pela seleção e defendia o Dynamo Kiev aos 35 anos, pronto para pendurar as chuteiras logo depois da Euro 2012. O camisa 7 aproveitaria bem a oportunidade diante de sua torcida contra a Suécia. As principais chances da Ucrânia no primeiro tempo dependeram do craque, que aproveitava a velocidade de Yarmolenko e Konoplyanka ao seu lado para incomodar. Todavia, Ibrahimovic permanecia à espreita. O sueco chegaria a carimbar a trave de Pyatov com uma cabeçada. Os gols, porém, ficariam para a segunda etapa.

Logo aos sete minutos, a Suécia abriu o placar. Ibrahimovic abriu o placar. Källström deu o passe rasteiro dentro da área e o centroavante escorou para as redes. Todavia, Shevchenko não deixaria barato do outro lado. E o camisa 7 comandaria uma reação instantânea. O empate saiu três minutos depois. Oleh Husyev arrancou pela lateral direita e abriu com Yarmolenko. O camisa 11 cruzou no capricho e Sheva mergulhou de cabeça, para dar um leve desvio e vencer Isaksson. Pois a virada nem demorou, com o segundo gol ucraniano logo aos 12 minutos. O segundo gol de Shevchenko.

Desta vez, a jogada surgiria num escanteio cobrado pela esquerda. Konoplyanka cruzou rumo ao primeiro pau e Shevchenko se antecipou, sem nem precisar saltar para conferir de cabeça. A testada firme entrou rente à trave e não deu chances para Isaksson. A Suécia ainda pressionaria pelo empate na sequência do jogo, mas sem passar por Pyatov. Sheva seria substituído na reta final da partida e, quando o apito final soou, era um dos mais exultantes na beira do campo. “Foi fantástico. Me sinto como se estivesse com 20 anos. É uma virada histórica”, declarou, na época. O craque sabia o que aquela vitória significava – para a sua seleção e também para a sua própria carreira, no último grande momento antes de pendurar as chuteiras.

A carreira de Shevchenko durou mais duas partidas, com derrotas para França e Inglaterra. A Ucrânia acabou eliminada da Euro 2012 na fase de grupos, mas os torcedores locais pelo menos puderam presenciar o grand finale de seu maior ídolo. Sheva somou 48 gols em 111 aparições pela equipe nacional. Aqueles dois estão entre os mais notáveis, só comparáveis aos que fez na Copa do Mundo de 2006. Nove anos depois, o reencontro com a Suécia acontece. E o antigo camisa 7 sabe apresentar o caminho das pedras aos seus comandados – alguns deles, antigos companheiros, como o velho escudeiro Yarmolenko.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
Botão Voltar ao topo