A imagem do dia na Euro: Enfim, o troco
A Inglaterra encerrou sua sina contra a Alemanha numa tarde histórica em Wembley

Muitas primaveras depois daquela fatídica decisão da Copa do Mundo, em 1966, Alemanha e Inglaterra se reencontraram no gramado de Wembley. Desta vez, pela Eurocopa, em um contexto bastante distinto. Primeiro porque os ingleses jamais conseguiram chegar perto de vencer outro troféu. Em segundo lugar, pelo fato de que os alemães se irritaram tanto com a bola polêmica de Geoff Hurst, aquela que dá discussões até hoje, que não sofreram qualquer revés eliminatório nos vários encontros que tiveram em mais de 50 anos.
A história do esporte dá conta de mostrar que a Alemanha se consolidou como potência, abocanhando mais três títulos mundiais e três europeus, fora as participações em decisões. Os ingleses, coitados, nem final fizeram depois de 1966. Fica difícil falar em grande força com esse argumento.
Os dois se viram em 1970, nas quartas da Copa do Mundo, depois em 1990, nas semifinais, esbarrando também em 1996, nas semifinais da Eurocopa, e, posteriormente, nas oitavas de 2010, no Mundial da África do Sul, com direito a gol legal de Frank Lampard não assinalado. Por sinal, derrota essa que carregou uma ironia quase poética de ver a Inglaterra punida com as mesmas armas que feriu o rival.
Que a Inglaterra sempre caía para a Inglaterra em qualquer jogo decisivo, você já sabe. E por esse motivo, muita gente apostou na pobre Alemanha para avançar no duelo, independente do mando de campo e apoio da torcida em Wembley, na capital inglesa. Só que neste 29 de junho, em mais uma história fascinante dessa Eurocopa, a lógica foi subvertida.
Empolgados, os ingleses nem precisaram fazer uma grande exibição para ficar com a vaga. Foi um jogo preguiçoso de ambos, marcado mais pelo receio de punições em contragolpes do que pelo interesse em gols. Como diz o poeta holandês Wanderleei von Luxembourg: “O medo de perder tira a vontade de ganhar”. E assim vimos um duelo arrastado, de poucas chances, mas com aquela emoção inerente de um mata-mata envolvendo gigantes do futebol mundial.
Por inércia, a Alemanha praticamente abdicou da classificação, e isso não vem de hoje. Vem nessa palidez desde a estreia contra a França, mascarada diante de Portugal, e novamente exposta contra a Hungria. Se tivesse jogado só um pouquinho e não tivesse Timo Werner como titular, a Alemanha podia ter dado uma despedida mais digna a Joachim Löw.
No entanto, na Euro da afirmação de novas forças diferentes das que temos visto no século, a Inglaterra é que levou a melhor. Carregada por Raheem Sterling, que tem salvo consistentemente sua seleção de empates modorrentos, a equipe de Gareth Southgate ficou por um fio de colocar tudo a perder. A sorte é que Thomas Müller não vivia grande tarde, e que Harry Kane finalmente mostrou a que veio na competição.
O resto é coisa para que lá na frente a gente estude de maneira distanciada, para tentar entender o que é que tinha de bizarro e fascinante na Euro 2020 disputada neste 2021 repleto de surpresas. Não estamos reclamando, que fique claro. Essas distorções só tornam a saga do campeonato ainda mais saborosa.