Europa

Clubes suecos se unem contra a introdução do VAR na liga local, proposta pela federação

Após presidente da federação dizer que "o VAR é o futuro do futebol sueco", clubes lembraram que os próprios torcedores associados votaram contra em assembleias

A utilização do VAR se tornou praticamente compulsória em alto nível. Raríssimas são as competições de primeira grandeza que não contam com o auxílio da tecnologia. Soa como uma abertura desnecessária à injustiça negar o equipamento que pode evitar erros crassos. Porém, nem sempre o VAR é utilizado da maneira mais eficiente e os erros no vídeo dobram de tamanho quando acontecem. Não à toa, ainda há gente resistente ao uso do árbitro de vídeo. Nesta semana, cinco grandes clubes da Suécia refutaram institucionalmente o recurso. Malmö, Göteborg, AIK, Elfsborg e Norrköping reafirmaram a posição contra a introdução da tecnologia no Campeonato Sueco.

A reação contrária ao VAR no Campeonato Sueco aconteceu após declarações de Fredrik Reinfeldt, recém-eleito como presidente da federação sueca. O dirigente tenta emplacar o discurso de modernização do futebol local e chegou a afirmar que “o VAR é o futuro do nosso futebol”. Todavia, os clubes da Suécia preferiram lembrar a decisão soberana de seus associados contra a introdução da tecnologia na liga local.

Clubes defenderam a posição de suas assembleias

O Malmö é a voz mais forte entre aqueles que publicaram uma nota oficial sobre o assunto: “O Malmö se opõe à introdução do VAR no futebol sueco. Isso foi decidido pelos membros do clube em uma reunião anual. A posição dos associados sobre o assunto foi claramente expressa à federação sueca de futebol e à liga sueca de futebol. Salvaguardamos a democracia associativa e o poder único que isso significa ao futebol sueco. O Malmö continuará trabalhando de acordo com as decisões de nossos membros e encoraja todos os torcedores do clube a se tornarem associados, para influenciarem o futuro do futebol sueco”.

O Göteborg, por sua vez, escreveu em seu comunicado: “O IFK está trabalhando ativamente para que o VAR não seja introduzido. Já na reunião anual de 2021, os membros do clube decidiram que a associação trabalhará para assegurar que o VAR não seja introduzido no Campeonato Sueco. Gostaríamos de lembrar a todos disso, porque o debate dessa ajuda técnica está mais uma vez em primeiro plano”. Os clubes planejam uma carta conjunta para também reafirmar a posição.

A posição vai além dos cinco clubes que se manifestaram, cabe ressaltar. O VAR não foi instituído no Campeonato Sueco não apenas pela contrariedade de clubes tradicionais, mas também porque a maioria dos times da primeira divisão é contra a tecnologia. No pleito mais recente sobre o assunto na liga nacional, a Allsvenskan, 10 das 16 equipes votaram contra a utilização do árbitro de vídeo. As oposições, em sua maioria, são respaldadas por votações internas realizadas entre os torcedores associados de cada equipe. Há um consenso popular.

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Futebol visto das arquibancadas é um ponto central

Os principais argumentos contra o VAR se concentram na maneira como a tecnologia interfere no ritmo das partidas e também na forma como erros de arbitragem ainda estão suscetíveis a acontecer. Por mais que a taxa de correção seja bem maior, há um questionamento sobre o impacto que as falhas com “olhar eletrônico” possui – especialmente quando aumentam as acusações de um viés da arbitragem. Outro ponto importante é a forma como a interferência do VAR também influencia a maneira como os torcedores vivenciam as partidas, especialmente quando há um prejuízo na espontaneidade do momento. A falta de rapidez no uso da tecnologia é mais um entrave.

O futebol sueco possui a administração de seus clubes concentrada nas próprias massas de torcedores associados. É um modelo parecido com o da Alemanha, que preserva o poder de decisão entre os sócios e restringe investimentos externos. A organização das equipes se volta a um modelo democrático ao redor dos seus membros. Assim, a voz de quem está nas arquibancadas tem mais peso na tomada de decisões. Nesta maneira de se pensar, opor-se ao VAR é um caminho de valorizar o que acontece “ao vivo”, em detrimento a um futebol visto através de telas.

Há uma clara queda de braço entre o que é tido como tradição e o que pode surgir como uma interferência externa sobre a cultura do futebol local. É um debate longo e os torcedores suecos, através da representatividade em seus clubes, optaram por resistir. Existem perdas claras sem o VAR no que se refere a senso de justiça. Entretanto, os torcedores associados avaliam que os ganhos não são suficientes para transformar o que eles entendem como experiência de estádio.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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