O Union dificultou, mas Bellingham de novo foi a certeza da vitória do Real Madrid
O Union Berlim fez uma honrosa estreia na Champions e segurou o zero no placar até os 49 do segundo tempo, quando a estrela de Bellingham frustrou os alemães com o gol decisivo no Bernabéu

Nenhum outro clube europeu sabe vencer um jogo de Champions League como o Real Madrid. Os 14 títulos continentais dos merengues dizem muita coisa, mas mais impressionante ainda é a maneira como tantas vitórias acontecem: nada parece maior que a aptidão do bicho-papão em encontrar um caminho às redes no torneio. A máxima se repetiu nesta quarta-feira, de maneira dolorosa para o Union Berlim. Os Eisernen faziam uma estreia honrosa na Champions, suportando a pressão no Estádio Santiago Bernabéu. Defendiam-se com competência e contavam até com a sorte em outros lances. Contudo, uma hora o Real Madrid vai decidir. E o gol que garantiu o 1 a 0 no placar saiu aos 49 do segundo tempo, com outra certeza que se repete no início da temporada: o tento de Jude Bellingham. O meio-campista estava lá de novo para resolver a parada. Anotou seu sexto gol pelo novo clube, o mais fácil de todos eles, justo na partida mais difícil.
Bellingham sai como óbvio destaque da noite, mas nem foi o melhor do Real Madrid. A equipe no geral fez uma boa partida, em que criou muitas alternativas, mesmo com a demora para conseguir o gol. Luka Modric foi bem na criação, Rodrygo acertou a trave e Joselu incomodou pelo alto. Do outro lado, a grande figura do Union na estreia da Champions foi o goleiro Fredrik Rönnow. Ótimo na última Bundesliga, o dinamarquês fechou seu gol com pelo menos três defesas difíceis. As linhas de marcação de Urs Fischer foram muito sólidas, com uma boa estreia de Leonardo Bonucci no novo clube, capaz de cortes providenciais. De qualquer maneira, o enorme esforço dos berlinenses não se pagou.
A primeira vez da torcida do Union
O ambiente especial no Santiago Bernabéu foi proporcionado pela torcida do Union Berlim, ávida por viver a estreia do clube na Champions League. Foram destinados mais de 4 mil ingressos ao setor visitante, mas era possível ver também torcedores com camisas vermelhas no lado do Real Madrid. E se a festa já era imensa nas ruas de Madri horas antes do pontapé inicial, a cantoria foi audível ao longo de todo o duelo. Os alemães aproveitavam demais a jornada, num clube cujos torcedores, nos tempos de Alemanha Oriental, costumavam pegar a estrada para outros países da Cortina de Ferro a fim de apoiar o Hertha Berlim nas copas europeias.
Cabe dizer, porém, que também ocorreram focos de violência em Madri. Aconteceram embates entre a torcida do Union e a polícia espanhola, com a tensão agravada pela maneira como as autoridades retardaram a entrada dos berlinenses no estádio durante a revista. Não à toa, uma parte dos visitantes (cerca de 400 pessoas) só conseguiu entrar nas tribunas com o primeiro tempo já rolando.
Essa foi a primeira participação de um clube da antiga Oberliga Alemã-Oriental na Champions League, desde a unificação dos campeonatos no país. Antes do Union, a última participação tinha ocorrido em 1991/92, quando o Hansa Rostock jogou a Copa dos Campeões como campeão alemão-oriental. Desde a fusão das ligas e a entrada dos antigos times orientais na Bundesliga, nenhum outro integrante da Oberliga havia figurado no principal torneio continental. O RB Leipzig é o outro clube da antiga porção alemã-oriental do território a jogar a Champions, mas criado apenas depois da reunificação do país.
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As escalações
O Real Madrid entrou em campo com uma escalação modificada, entre novidades na zaga e no meio-campo, diante das muitas lesões. Kepa Arrizabalaga abria a formação, com Antonio Rüdiger e Nacho Fernández no miolo da defesa, além de David Alaba e Lucas Vázquez nas laterais. A grande novidade no meio ficava para a titularidade de Luka Modric, a primeira na temporada, ao lado de Eduardo Camavinga e Aurélien Tchouaméni. Jude Bellingham fazia a ligação, com Rodrygo e Joselu se combinando no ataque.
O Union Berlim, por sua vez, entrou em campo com várias caras novas contratadas para a temporada. Uma delas era Leonardo Bonucci, em sua estreia pelo novo clube. Liderava a zaga com Danilho Doekhi e Diogo Leite, além de Frederik Rönnow no gol. Josip Juranovic e Robin Gosens, outro reforço de peso, ocupavam as alas. No meio, um trio trazido ao longo do ano: Aïssa Laïdouni, Alex Kral e Lucas Tousart. Já na frente, dois nomes mais antigos, com Kevin Behrens e o capitão Sheraldo Becker, que vinha frequentando o banco no início da temporada.
Union amarra o primeiro tempo
A partida começou num ritmo muito alto. Não era o Bernabéu que intimidava o Union Berlim. Os Eisernen aceleravam seu jogo com as bolas longas, especialmente com o auxílio de Bonucci, e conseguiam expor a zaga adversária. Kevin Behrens assustou numa batida travada dentro da área. As principais respostas do Real Madrid vieram com Joselu, muito bem servido pelo alto. Mesmo contra uma defesa boa no jogo aéreo, o centroavante prevaleceu duas vezes de cabeça. Parou no goleiro Rönnow e depois tirou tinta da trave. Como o Union não estava tão recuado, os merengues achavam espaços. Entretanto, com o passar dos minutos, os berlinenses compactaram a marcação e os madrilenos passaram a administrar mais a posse.
A sequência do primeiro tempo seria mais travada. O Union Berlim marcava com competência, em duas sólidas linhas que não concediam espaços ao Real Madrid. No máximo, os merengues tinham alguns lances nas bolas paradas. Porém, os Eisernen também não ofereciam tanto perigo nos contragolpes. Behrens e Becker brigavam bastante na frente quando a bola chegada, mas não eram muitos lances e nem tinham continuidade. Laïdouni tentou uma acrobacia, sem muito sucesso.
O Real Madrid buscava suas variações no campo de ataque e rondava a área do Union Berlim. Faltava penetração, sem que o ataque se combinasse tão bem. Bellingham buscava o jogo especialmente na criação, mas sem a estrela de outras jornadas. Modric também estava muito ativo, até pela sequência de bolas paradas. Contudo, o nível de concentração do Union era imenso. A marcação não aliviava. No máximo, os madridistas conseguiam um punhado de chutes de longe, tortos para fora.
O Union resiste, mas Bellingham aparece de novo
O intervalo fez bem para o jogo. O Union Berlim voltou a sair mais para o ataque durante os primeiros minutos, penetrando na área, mas quem se beneficiou mesmo foi o Real Madrid. Rodrygo teve duas ótimas jogadas com Lucas Vázquez aos cinco minutos. Primeiro, depois de um lindo passe por elevação, o atacante botou na frente de cabeça e mandou uma sapatada no peito de Rönnow. A sobra ficou viva na área e quase Rodrygo anotou um golaço de voleio, que estalou a trave dos alemães. Não demoraria para o brasileiro reaparecer, com um chute travado na área. Rodrygo acendia sua equipe e chamava a torcida para cantar mais alto, no melhor momento dos merengues na partida até então. Aos nove, Camavinga centrou e Joselu chutou de primeira. Rönnow fez a defesa parcial, antes que Bonucci clareasse para fora.
Rönnow se tornava também um personagem decisivo para o Union Berlim. Aos 18 minutos, o goleiro operou um verdadeiro milagre. Rodrygo carimbou mais uma ótima jogada e cruzou da direita. Joselu cumprimentou de cabeça e Rönnow desviou com a ponta dos dedos, em bola que ainda bateu na trave. A criação do Real Madrid era melhor na segunda etapa, até pela flutuação de seus jogadores além das encaixotadas linhas de marcação berlinenses. Neste momento, os dois times mexeriam. O Real Madrid ganhou Toni Kroos e Federico Valverde no meio, nas vagas de Lucas Vázquez e Tchouaméni. O Union ganhou sangue novo com os recém-contratados Brenden Aaronson e Kevin Volland, sacados Laïdouni e Behrens.
A partida voltava a ganhar respiro com as movimentações dos times. O Union ameaçou com uma excelente escapada de Sheraldo Becker, mas o cruzamento no contra-ataque saiu sem direção. Modric respondeu com um chute de longe, que Rönnow se esticou todo para desviar à linha de fundo. Aos 25, Rodrygo ainda furou na pequena área um cruzamento que veio meio no susto em sua direção. Fran García foi outra novidade de Carlo Ancelotti na sequência, dando mais força no apoio com a saída de Nacho. Numa sequência de bons avanços do Madrid, Bonucci manteve sua atuação segura e rasgou um cruzamento venenoso na pequena área. O abafa se tornava maior, também graças à capacidade de Joselu pelo alto.
O Union Berlim realizou mais duas substituições aos 35. Bonucci fez uma grande estreia e deu espaço a Paul Jaeckel, enquanto David Datro Fofana garantia gás na vaga de Sheraldo Becker. Do lado do Real Madrid, muitos aplausos para Modric, entrando Brahim Díaz. Os merengues seguiam no quase. Num cruzamento de Bellingham, Joselu desviou de primeira e tirou tinta da trave. Logo depois, o Union queimou sua última troca com o garoto Aljoscha Kemlein, sem mais Tousart. Já o goleiro Rönnow reapareceu para frustrar de novo Rodrygo aos 41.
A reta final da partida era bastante tensa. O Union Berlim até ganhou uma oportunidade de jogar a bola na área, que não deu muito resultado. A pressa era toda do Real Madrid e os Eisernen resistiam como podiam, travando quase todas as finalizações dos adversários. Quase todas porque o gol da vitória saiu aos 49, no final dos acréscimos. Numa cobrança de escanteio, Valverde chutou de fora da área e a bola ricocheteou no paredão à sua frente. A sobra ficou limpa na pequena área para Bellingham. Sua estrela brilhou novamente. Resolveu, como sempre.
Os próximos compromissos
O Real Madrid voltará a campo no final de semana para disputar o clássico contra o Atlético de Madrid por La Liga, na tentativa de manter os 100{62c8655f4c639e3fda489f5d8fe68d7c075824c49f0ccb35bdb79e0b9bb418db} de aproveitamento após cinco rodadas. A sequência na competição ainda reserva Las Palmas e Girona, antes do confronto com o Napoli no Maradona pela Champions. Já o Union Berlim vem de duas derrotas consecutivas na Bundesliga. Buscará a recuperação contra Hoffenheim e Heidenheim. O primeiro jogo no Estádio Olímpico de Berlim pela Champions será diante do Braga.

Finalizado
1
-0

Real Madrid - Union Berlin
UEFA Liga dos Campeões - Santiago Bernabeu
1° Turno
Real Madrid

Union Berlin
