Champions League

O Newcastle deu aula do que é jogo coletivo ao PSG: um merecido atropelo por 4×1

O PSG entrou com uma formação ofensiva e terminou engolido pelo Newcastle, firme em todas as disputas e bem mais contundente no ataque

Newcastle e Paris Saint-Germain fizeram um aguardado confronto pela fase de grupos da Champions League. Existiam muitas nuances para se prestar atenção, e não só pelos elencos bancados por Arábia Saudita e Catar. Notava-se uma genuína expectativa na atmosfera em St. James' Park, para ver o Newcastle de volta à competição continental após 20 anos. Enquanto isso, o PSG tentava corresponder com mudanças ousadas de Luis Enrique, apostando em quatro atacantes. O que se viu, porém, foi o jogo de um time só. Os Magpies fizeram uma partida maiúscula, tanto pela firmeza na defesa quanto pelos recursos no ataque. O atropelamento por 4 a 1 condiz à superioridade dos ingleses, por mais que os franceses tenham até acordado em parte do segundo tempo. Foi uma noite de sonho no nordeste da Inglaterra, a uma torcida tão fanática.

O Newcastle fez jus à excelente escalada desde a chegada de Eddie Howe ao comando. Os Magpies podiam ser menos estrelados que seus adversários no papel, mas foram coletivamente mais consistentes e mais conscientes. Jogaram com intensidade, marcaram forte e partiram para resolver no ataque. Especialmente durante os 60 minutos iniciais, não faltou nada aos alvinegros e o time abriu três gols de vantagem. O PSG, entretanto, deixou muito a desejar. Foi uma equipe sem conexão, em que os setores não pareciam conversar. A defesa era vulnerável, o meio-campo estava esvaziado e o ataque não se entendeu. A liberdade ofensiva pretendida por Luis Enrique resultou em desorganização. Pouquíssimo a quem promete tanto.

O Newcastle teve seu setor mais forte no meio-campo. Foi a amálgama do time, entre a pressão sem a bola e a verticalidade com ela. Bruno Guimarães foi um dos melhores, decisivo nos dois primeiros gols. Outros tantos também brilharam pelo empenho, como Almirón e Longstaff. Destaque ainda a Dan Burn, que deu conta do recado na dura missão de marcar Dembélé, além da perfeição de Schär na zaga. O ponta direita, aliás, foi o único dos astros do PSG que realmente funcionou. Mbappé fez uma partida muito abaixo da crítica. Os únicos elogios plenos vão para Zaïre-Emery, o mais novo da equipe, mas o mais capaz de oferecer um entendimento a partir da construção.

As formações

O Newcastle manteve a base de seu trabalho com Eddie Howe, escalado num 4-3-3. Nick Pope abria a formação, com Kieran Trippier e Dan Burn nas laterais, além de Jamal Lascelles e Fabian Schär na zaga. O meio tinha a categoria de Bruno Guimarães, em conjunto com Sandro Tonali e Sean Longstaff. Anthony Gordon e Miguel Almirón davam velocidade nas pontas, mas também com muita mobilidade pelo meio graças a Alexander Isak. Nomes importantes como Callum Wilson, Joelinton, Sven Botman e Harvey Barnes eram desfalques. Mesmo assim, não atrapalhavam a ideia da equipe.

Luis Enrique apostava numa formação bem mais ofensiva para o Paris Saint-Germain. O destaque ficava para o quarteto de ataque. Ousmane Dembélé e Randal Kolo Muani atuavam mais abertos, com Kylian Mbappé circulando da esquerda para dentro no comando do ataque e Gonçalo Ramos mais recuado na faixa central. O 4-2-3-1 parisiense ainda tinha Gianluigi Donnarumma no gol, além da zaga composta por Achraf Hakimi, Marquinhos, Milan Skriniar e Lucas Hernández. Manuel Ugarte e Warren Zaïre-Emery carregavam piano na cabeça de área.

Primeiro tempo impecável do Newcastle

O PSG tentou ficar com a bola durante os primeiros minutos, enquanto encaixava sua formação. O Newcastle marcava forte e adiantava a pressão. Os franceses ainda pareciam tentar chamar os ingleses para seu campo e assim buscar a velocidade do ataque. Logo aos cinco minutos, a equipe de Luis Enrique conseguiu um bom lance, numa abertura de Zaïre-Emery para Mbappé na esquerda. O cruzamento chegou para Dembélé, livre do outro lado da área. Bateu de primeira, numa bola que passou muito perto da trave. Todavia, a partir dos dez minutos, o Newcastle ganhou campo. Os Magpies passaram a controlar o jogo mais à frente e a forçar a defesa do PSG. As primeiras finalizações da equipe pintavam, mas sem tanta clareza. Era só esperar um pouco.

O primeiro gol do Newcastle, aos 17 minutos, resultava exatamente dessa postura do time em campo. Marquinhos cometeu um vacilo imenso, ao tentar um passe por elevação. Entregou a bola para os adversários, com Bruno Guimarães desviando de cabeça. Donnarumma ainda conseguiu defender a batida de Isak, mas o rebote sobrou com Almirón. Chute seco, nas redes, que punia o enorme desleixo do capitão. O PSG ainda levou um tempo para entender o que a partida pedia. Deu sua resposta somente aos 23, na iniciativa de Zaïre-Emery, com um míssil para fora. Mas não que o ataque se entendesse. E nem que o time estivesse a salvo atrás. Do outro lado, depois de um escanteio, Schär ficou muito mais próximo do segundo numa pancada para fora.

O melhor jogador do PSG era Zaïre-Emery. Falava muito sobre o garoto, mas também mostrava como estava sobrecarregado no meio-campo, sem que os parisienses se achassem. Além do mais, o Newcastle fazia um trabalho defensivo impecável, bloqueando as tentativas e chegando junto nos desarmes. Era uma atuação exemplar dos Magpies, em sua intensidade e em seus recursos. O segundo gol merecidamente pintou aos 39, num escanteio bastante tumultuado.

Foi um lance confuso, em que houve dúvida sobre um toque de mão na disputa pelo alto entre Lascelles e Hakimi. Depois de um desvio para trás, Donnarumma se esticou todo para dar um tapinha. A bola ficou viva na linha de fundo e Bruno Guimarães chutou para ótima defesa do goleiro. O rebote voltou ao brasileiro, que cruzou na medida para Dan Burn. O defensor cabeceou e Donnarumma ainda tentou salvar, mas a bola tinha passado a linha. Existiam vários detalhes para serem revisados pelo VAR, mas o tento acabou confirmado. Por causa da espera e de atendimentos médicos, seriam sete minutos de acréscimos. Nada suficiente para um perdido PSG se encontrar contra a barreira do Newcastle.

PSG melhora, mas a goleada é justa

O Paris Saint-Germain retornou do intervalo sem mudanças. Inclusive mudanças de postura, porque o Newcastle mostrou logo de cara como era mais capaz de vencer. Não concedia nada na defesa e precisou de pouquíssimo tempo para anotar o terceiro gol, aos cinco minutos. Foi um lance com muito espaço pelo lado direito do ataque. Almirón e Trippier se combinaram, com o passe do lateral na medida para a infiltração de Longstaff. O meio-campista estava livre e bateu rasteiro. Donnarumma também facilitou, assim como todos os seus defensores que não ofereceram qualquer pressão.

O PSG até deu sorte de conseguir o gol na sequência, aos 11 minutos, numa jogada finalmente bem trabalhada. Méritos de novo de Zaïre-Emery, que deu o passe por elevação e Lucas Hernández apareceu como elemento surpresa na área. Definiu de cabeça, nas redes. Logo depois, a primeira troca de Luis Enrique garantiu Bradley Barcola na vaga do nulo Kolo Muani. Os parisienses podiam acreditar um pouco mais. A equipe passava a ficar mais com a bola e também apostou em Vitinha, na vaga de Ugarte. Já a primeira troca do Newcastle teve a saída de Tonali, muito aplaudido, para a entrada de Elliott Anderson.

As individualidades do PSG não apareciam e, coletivamente, os planos da equipe não estavam claros nem para os jogadores. Melhor ao Newcastle, muito bem compactado para proteger sua área e disposto a gastar o tempo quando retomava a bola. Outra mudança veio aos 26, com Jacob Murphy no lugar de Almirón, decisivo na noite e sentindo o desgaste físico. Neste momento, o PSG tinha mais presença ofensiva e se colocava no campo de ataque. O Newcastle, todavia, trancava sua área. Os melhores lances dependiam da individualidade de Dembélé, de longe o melhor do quarteto do ataque. Aos 32, bateu no alto e parou numa grande defesa de Nick Pope.

O Newcastle tinha raras aparições no ataque nesta reta final. Não queria se expor e também não precisava de mais. Mbappé só se tornou mais ativo neste período, mas sem acertar as jogadas. Teve um chute para fora, mas quase sempre acabava travado pela defesa dos Magpies. Os ingleses mantinham o foco máximo em campo, algo que se perdia cada vez mais no PSG. E os acréscimos valeram o quarto gol, o da goleada irrefutável, numa pintura. Schär vinha jogando muito e cravou a estaca final, aos 46. Roubou a bola na intermediária, tabelou com Murphy e mandou a pancada de fora. A bola com curva entrou no ângulo de Donnarumma, que saltou em vão. A cereja do bolo. Não era preciso mais nada.

O Newcastle assume a liderança do “grupo da morte” da Champions, com quatro pontos e autoridade na atuação. O PSG fica nos três pontos, ainda no segundo lugar. Ajudou o empate na outra partida. O Milan soma dois pontos e o Borussia Dortmund tem só um. Na próxima rodada, o PSG recebe o Milan e o Newcastle recebe o Dortmund.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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