Além dos rótulos: Chicharito e Torres tiveram grandes momentos recentes na Champions

Por Bruno Bonsanti
O duelo desta terça-feira entre Atlético de Madrid e Bayer Leverkusen, pelas oitavas de final, coloca frente a frente duas equipes que têm se habituado a disputar a Champions League – com resultados finais bem distintos. Cada uma delas com um centroavante rotulado como perdedor de gols, ou grosso, ou alvo de piadas. Outro ponto em comum entre eles: tanto Fernando Torres quanto Chicharito Hernández tiveram ótimos momentos na principal competição europeia de clubes recentemente.
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Fernando Torres foi um dos melhores atacantes do mundo durante os três anos e meio em que vestiu a camisa do Liverpool. Foi terceiro colocado da Bola de Ouro e do prêmio de Melhor do Mundo da Fifa, em 2008. Rápido como uma flecha, marcou 81 gols em 142 jogos, média superior a de um tento a cada duas partidas (que nunca conseguiria repetir em outro clube). O Chelsea pagou £ 50 milhões para contratá-lo, no inverno de 2011.
E, em Stamford Bridge, ele nunca correspondeu às expectativas. Marcou um único gol na Premier League em seu primeiro semestre vestindo azul e, pressionado pelo preço pago por seus serviços, cada chute torto ou para fora era motivo para gozação, minando sua confiança. Foi às redes apenas 11 vezes na sua primeira temporada completa pelo Chelsea, mas uma delas foi essencial para a realização do principal sonho dos Blues.
Na semifinal da Champions League de 2011/12, em meio à pressão alucinante do Barcelona, escapou livre, avançou até a área adversária, driblou Valdés e fez o tento que definitivamente classificou a equipe londrina para a decisão. A temporada seguinte do Chelsea, sob o comando de Rafa Benítez, foi decepcionante. No entanto, veio mais um título europeu, com grande contribuição de Torres, que marcou seis vezes na campanha vitoriosa na Liga Europa: três nas quartas de final contra o Rubin Kazan, um na semi diante do Basel e outro na decisão, sobre o Benfica.
O espaço de Torres em Stamford Bridge foi diminuindo, até o atacante contratado por uma bolada ser emprestado ao Milan. Depois de apenas seis meses na Itália, foi repassado ao Atlético de Madrid. A volta para casa fez bem para o atacante, agora um veterano, e Torres conseguiu ser decisivo na campanha que levou os colchoneros à decisão da Champions League de 2015/16. Foi dele o gol fora de casa que classificou o clube nas quartas de final, contra o Barcelona, e foi dele o passe para Griezmann no tento marcado contra o Bayern de Munique, na Allianz Arena, que valeu o passaporte à final.
Com mais opções para o ataque, Diego Simeone pode optar por não usar Torres como titular contra o Bayer Leverkusen, embora o atacante espanhol nas últimas três rodadas do Campeonato Espanhol. No entanto, no sábado, foi substituído por Gameiro, aos 17 minutos do segundo tempo, e assistiu ao francês anotar uma tripleta na goleada sobre o Sporting Gijón em um espaço de cinco minutos. De qualquer forma, a experiência de Torres é uma arma à disposição de Simeone, seja desde o começo da partida, seja como alternativa para um segundo tempo complicado.
Chicharito Hernández sofreu menos com os valores pagos pelo seu futebol e mais com o abismo entre a sua qualidade técnica e os times em que jogou. É bom atacante, mas não tem nível para defender Manchester United e Real Madrid. A piada, com ele, era que só conseguia fazer gols da pequena área, geralmente sem marcação. Precisou brilhar com a camisa do Bayer Leverkusen para ser levado a sério. Foi muito bem em sua primeira temporada na Alemanha, com 26 gols em 43 partidas, por todas as competições, e 17 na Bundesliga.
Apesar das contestações, conseguiu ter o seu momento de glória pelo Real Madrid. Contratado para ser a sombra de Benzema, foi reserva na maior parte do tempo, exceto em duas partidas da Copa do Rei, sete do Campeonato Espanhol e três da Champions League. Dois desses jogos europeus foram contra o Ludogorets. O outro foi a volta das quartas de final contra o Atlético de Madrid, graças à lesão do francês, e Chicharito não decepcionou: criou chances, finalizou, abriu espaços para os companheiros mais talentosos e, aos 43 minutos do segundo tempo, fez o gol da classificação merengue à próxima fase.
Mereceu toda a gratidão da torcida do Real Madrid, mas não a permanência no Santiago Bernabéu. Foi para o Bayer Leverkusen e teve outras atuações importantes na Champions League. O clube alemão pode ter sido eliminado na fase de grupos, mas Chicharito fez sua parte, com cinco gols em seis partidas, inclusive dois naquele empate insano por 4 a 4 com a Roma, e outro na igualdade com o Barcelona.
Chicharito tem tido outra temporada artilheira pelo Leverkusen, embora um pouco abaixo da anterior. Marcou 10 gols em 19 jogos da Bundesliga, mas passou 11 rodadas seguidas em branco. Ainda assim, é uma arma que o Atlético de Madrid precisa respeitar. Da mesma maneira, os alemães precisam tomar cuidado com Fernando Torres. Independente do estigma que ambos carregam.