Europa

O Basel atravessa um colapso, de semifinalista da Conference a lanterna do Suíço

O Basel somou cinco pontos em 11 rodadas do Campeonato Suíço, metade dos pontos do vice-lanterna, e teme o primeiro rebaixamento desde os anos 1980

Não faz muito tempo que o Basel dominava o Campeonato Suíço. Os Rot-Blau emendaram oito títulos consecutivos entre 2009/10 e 2016/17, em tempos nos quais revelaram também uma série de talentos da seleção – Yann Sommer, Xherdan Shaqiri e Granit Xhaka entre os mais notáveis. A fama do clube também se ampliou pelas grandes campanhas internacionais, duas vezes nas oitavas da Champions e uma nas semifinais da Liga Europa. As últimas temporadas foram mais duras para o Basel na Super League, diante do domínio do Young Boys, mas ainda assim a torcida reviveu seus sonhos continentais com as semifinais da Conference League em 2022/23. Até por isso, assusta tanto o desempenho atual no Campeonato Suíço, com uma queda abrupta. O Basel é o lanterna, com cinco pontos em 11 jogos, metade dos pontos do vice-lanterna.

O Basel conquistou uma única vitória no Campeonato Suíço, contra o inexpressivo Winterthur, na segunda rodada. Além disso, são dois empates e oito derrotas até o momento. Tudo bem que o time possui uma partida a menos, contra o Lugano, mas nem uma vitória tirará os Rot-Blau da lanterna. A sequência recente é especialmente amarga, com quatro derrotas consecutivas. O time sofreu dez gols e sequer balançou as redes a seu favor. Neste domingo, tomou outra chapuletada fora de casa: visitou o Lausanne-Sport, antepenúltimo na tabela, e perdeu por 3 a 0. Era um adversário de títulos no passado, mas que acabou de voltar da segundona.

No novo formato do Campeonato Suíço, apenas o lanterna é rebaixado diretamente. O vice-lanterna disputa playoffs contra o vice-campeão da segundona. Além disso, a competição terá uma fase final, com a tabela dividida entre os seis primeiros e os seis últimos. Graças a isso, até existe uma chance maior de recuperação ao Basel, mesmo a 11 pontos da sexta colocação. O que a torcida menos quer é reviver os traumas da virada dos anos 1980 para os 1990, quando os Rot-Blau amargaram seis temporadas fora da elite, até reaparecerem em 1994/95.

Como se não bastasse o drama na Super League, o Basel já tinha dado vexame nas preliminares da Conference. Os Rot-Blau foram eliminados logo na segunda fase qualificatória, contra o Tobol Kostanay. Os suíços perderam a ida em casa, de virada, por 3 a 1. Duas expulsões implodiram a equipe. A vitória por 2 a 1 no Cazaquistão não bastou, contra um adversário que atualmente ocupa o modestíssimo oitavo lugar no Campeonato Cazaque. Contratado para esta temporada, o técnico Timo Schulz ainda se manteve no cargo depois disso. Porém, uma sequência de cinco partidas sem vencer no Campeonato Suíço o derrubou.

A solução do Basel foi caseira. Heiko Vogel foi o treinador que levou o clube às oitavas da Champions em 2011/12, com o título no Campeonato Suíço. Voltou em janeiro, para ser diretor esportivo, e assumiu o comando técnico interinamente em fevereiro, para alcançar as semifinais da Conference. O elenco até pediu para que ele continuasse na casamata, o que não aceitou, desagradando parte dos atletas. Ao final da temporada, o alemão voltou a ser só diretor. Contudo, com o atual incêndio, ele reassumiu como bombeiro no fim de setembro. Nem o veterano consegue dar jeito, à frente do time nas quatro derrotas recentes.

O castelo inclusive desmorona para Vogel. No meio da semana, ele perdeu o cargo de diretor, destituído por um comitê de crise. Também não deve durar como treinador, por toda a desconfiança interna. A culpa na montagem do elenco atual recai sobre o alemão. Ele também recebe muitas críticas pelas constantes mudanças de esquemas táticos nestas últimas semanas. Na imprensa suíça, a pergunta é por que Vogel ainda não foi demitido em definitivo. Quem também se vê sob fortes indagações é David Degen, atual presidente do clube. O ex-meia de 40 anos, que defendeu o Basel e disputou a Copa do Mundo de 2006 pela seleção suíça, é bastante criticado por decisões equivocadas no planejamento.

Problemas que não são novos

O Basel perdeu forças nos últimos anos. A equipe chegou a ser vice-campeã quatro vezes numa sequência de cinco temporadas, entre 2017/18 e 2021/22. A exceção aconteceu em 2019/20, quando ficou em terceiro. No entanto, alguns sinais mais duros vieram na Copa da Suíça. O Basel teve duas eliminações seguidas nas oitavas de final. Em 2020/21, tomou de 6 a 2 contra o Winterthur, então na segunda divisão. Já em 2021/22, a queda veio diante do Étoile Carouge, um adversário da terceira divisão.

A campanha passada na Super League Suíça preocupou ainda mais, com uma queda na tabela. Os Rot-Blau sentiram a perda de jogadores importantes, como o artilheiro Arthur Cabral, e oscilaram bastante. Passaram um tempo na metade inferior da classificação e terminaram em quinto entre dez equipes, mas só três pontos acima da oitava colocação. Foi uma edição muito equilibrada do torneio, em que mesmo o Zurique, campeão anterior, ficou na metade inferior. Todavia, por conta disso, o Basel já correu sérios riscos de não ir às competições europeias. Só foi porque herdou a vaga da copa nacional, com a dobradinha do Young Boys.

O sucesso na Conference League, de certa maneira, também maquiou esses problemas do Basel. A temporada ainda terminou com um saldo bastante positivo, mesmo com o fraco desempenho na Super League. O time eliminou adversários tradicionais no torneio continental, em especial Nice e Trabzonspor. Já nas semifinais, vendeu caro a derrota para a Fiorentina, superado apenas na prorrogação. Os Rot-Blau ficaram a poucos minutos de aparecer na primeira final europeia de sua história. Tal sensação parece ter inflado as expectativas ao redor e gerou também um desmanche.

A derrocada desta temporada

A vitrine na Conference levou o Basel a perder diversos jogadores talentosos. Bons jovens foram vendidos nesta janela de transferências, com as saídas do volante Andy Diouf para o Lens, do ponta Dan Ndoye para o Bologna e do centroavante Zeki Amdouni para o Burnley – isso sem contar o fim do empréstimo de Andi Zeqiri, que estava cedido pelo Brighton. O clube aproveitou o dinheiro recebido e gastou um bocado em contratações, mas a maior parte dos novatos é de jovens que não passam dos 25 anos. Foram desembolsados €25 milhões em 11 atletas diferentes, um valor inédito no St. Jakob Park. Muitas apostas não se encaixaram de imediato e agora precisam tirar o time do buraco. Há pouca identificação desses garotos com o clube. Chegaram com um sonho nas copas europeias e a realidade traz o risco da segundona suíça.

O Basel até conta com jogadores experientes à disposição no time atual. O goleiro é Marwin Hitz, que não tem evitado muito a sangria. A defesa contou com a chegada de Mohamed Dräger do Nottingham Forest, enquanto Michael Lang ocupa a lateral direita, duas figuras de seleção. No meio, Fabian Frei e Taulant Xhaka são ídolos das antigas bonanças dos Rot-Blau. Já o ataque ainda possui jogadores reconhecidos mesmo com pouca idade, como Jean-Kévin Augustin e Yusuf Demir. Não vêm sendo suficientes. Um raro destaque é o centroavante Djordje Jovanovic, trazido do Maccabi Tel Aviv, que contribuiu com quatro gols e cinco assistências. Porém, as goleadas na Copa da Suíça inflam os números.

É curioso notar como a draga do Basel acontece justo numa edição do Campeonato Suíço em que o número de participantes aumentou, de 10 para 12. Entretanto, a chegada de mais times da segunda divisão não reduziu a competitividade. Todos os recém-promovidos derrotaram o Basel, incluindo dois triunfos do Lausanne-Sports. E são esses tropeços contra os novatos que mais preocupam. A sequência recente teve pancadas de Young Boys e Servette, mas também do modesto Stade Lausanne. Curiosamente, um dos dois empates ocorreu contra o líder Zurique – que pega o elevador após a oitava colocação passada.

Ver os clubes tradicionais da Suíça na segunda divisão não é raro. O Grasshopper, maior campeão nacional, passou duas temporadas recentes por lá, entre 2019 e 2021. O Zurique jogou a segundona em 2016/17, antes da reconstrução rumo ao título de 2021/22. O Servette esteve até na terceirona em 2015/16, mas voltou em 2019/20 após seis anos ausente da elite e reaparece agora nas copas europeias. Já o Young Boys teve seu calvário mais recente com as quedas em 1997 e de novo em 1999. Em comum, eram crises mais graves, que impactavam sobretudo na parte econômica. A questão do Basel assusta por ser diferente, depois de um mercado no qual o clube gastou como nunca. As apostas se mostram ruins e a hecatombe é visível.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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