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O que La Liga e EA Sports podem ganhar com o novo acordo de naming rights do Espanhol

Enquanto o game Fifa se tornará EA Sports FC a partir da próxima edição, a EA Sports se aproxima do futebol através de La Liga

La Liga terá novos naming rights a partir da próxima temporada. Nesta segunda-feira, a organização do Campeonato Espanhol oficializou o acordo com a Eletronic Arts e passará a se chamar “La Liga EA Sports” pelas próximas cinco temporadas. O contrato renderá €30 milhões por ano à liga profissional da Espanha e também abarcará uma mudança de nome na segunda divisão – que será chamada de “La Liga Hypermotion”, em referência à tecnologia usada nos games. O acordo é importante para a própria EA Sports, num momento em que perde o licenciamento da “Fifa” e rebatizará seu game de futebol como “EA Sports FC”. Novos detalhes do próximo game da franquia serão dados inclusive nas próximas semanas de julho. Já para La Liga, o contrato significa um novo aporte financeiro e também uma aproximação do público jovem através da tecnologia.

Convenhamos: boa parte do público de futebol possui um carinho especial por patrocinadores relacionados a games. São lendários uniformes como o da Fiorentina com a marca da “Nintendo” ou do Arsenal vestindo “Dreamcast”. E tal relação ganha nova roupagem no Campeonato Espanhol. Não é que as vendas do EA Sports FC devam aumentar substancialmente a partir de agora, num jogo que é dominante no mercado. Também não é o novo elo que reduz os problemas de La Liga, especialmente na falta de combate ao racismo recorrente. De qualquer forma, como marca, a tendência é que os novos naming rights chamem mais atenção do que o antigo nome de banco “La Liga Santander”. E há uma série de inovações possíveis através disso.

EA Sports prepara a transição de seu jogo

Neste momento, a EA Sports precisa ganhar mais visibilidade para não perder terreno. O acordo com a Fifa durou três décadas e certamente abriu portas para que o game se tornasse mais conhecido de imediato. Diante da forma como a empresa ainda sobra no segmento de games de futebol, é bem possível que os usuários façam uma transição sem sobressaltos rumo ao EA Sports FC. Entretanto, há o risco de que a marca Fifa acabe com outra produtora no futuro próximo. Estar dentro do mercado do futebol é importante para que a Eletronic Arts tenha uma exposição maior diante da mudança de nomes.

Como a Copa do Mundo e a Champions League não possuem naming rights diretos em suas nomenclaturas, La Liga era uma das melhores opções viáveis à EA Sports. A Premier League chegou a ter os naming rights da Barclays por longos anos, mas mudou sua estratégia e não vende mais seu nome oficial. A EA Sports está presente na liga inglesa como uma das principais patrocinadoras e possui sua marca presente inclusive nos gráficos das transmissões, assim como em premiações individuais aos melhores da competição. O contrato por seis anos com a Premier League gira ao redor de €90 milhões anuais. Da mesma forma, a EA está inserida em gráficos e condecorações da Serie A. La Liga pode não ter a penetração da Premier League, mas amplia tal visibilidade. O apelo de Real Madrid e Barcelona tende a auxiliar bastante a companhia em seu intuito.

A EA Sports ainda realizará trabalhos específicos dentro do futebol espanhol. Uma das iniciativas da empresa de games é ampliar o investimento em categorias de base. A presença da marca pode ser importante inclusive em outros aspectos sociais de La Liga. Com uma marca mais forte ao lado da competição e também de maior repercussão internacional, dá para esperar uma pressão maior em relação aos dirigentes quanto a temas negligenciados como o racismo. É o nome da EA Sports que também estará exposto, e com um tipo de boicote mais ao alcance dos usuários.

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La Liga reforça viés tecnológico já presente

Outro ponto importante é que La Liga desponta entre as competições que mais investem em tecnologia em suas transmissões. Isso fica claro através de gráficos e ângulos exibidos durante as partidas, com uma qualidade superior inclusive à da Premier League. Neste ponto de vista, há uma relação benéfica para a EA Sports, diante da ponte que pode ser construída inclusive com o mundo dos games. Há uma maneira de tratar as partidas que se aproxima dos jogos eletrônicos.

La Liga aproveita o novo contrato para sublinhar essa imagem mais tecnológica. “O novo acordo busca a integração do mundo físico com o virtual, supõe melhoras nas transmissões e o compromisso de ambas as companhias com o futebol de base”, declarou La Liga meses atrás, quando o acordo com a EA Sports foi alinhado. Mais do que isso, a entidade esportiva ainda aproveitou o momento para se repaginar. Lançou um novo logotipo, um novo lema e novas fontes. O pacote gráfico em campo e também na televisão irá mudar, assim como a identidade sonora da competição.

Uma das promessas mais interessantes de La Liga é a de um uso diferente das câmeras. A transmissora oficial promete novos ângulos, que tentarão aproximar os espectadores do gramado. Bolas paradas terão um tratamento diferente, assim como o entorno do campo. Os espanhóis também representam uma vanguarda nesse tipo de visão do jogo, especialmente pela linguagem enraizada na televisão local – a exemplo do ótimo programa “El Día Después”, que costuma trazer o torcedor como uma testemunha ocular dos fatos e conferir um ar de proximidade maior, enquanto fala de momentos além da bola rolando nas partidas.

EA Sports pode ajudar La Liga a falar com os jovens

Além disso, um ponto crucial neste momento é o intuito de aproximar o futebol dos públicos mais jovens. É uma questão central sobre o consumo do esporte, que gera preocupação clara de dirigentes em relação à perda de terreno para games e streamings. Assim, La Liga e EA Sports podem tentar unir os dois mundos e tornar o “futebol real” mais atrativo para quem prefere os games. Segundo o diretor executivo de La Liga, Óscar Mayo, o intuito é “romper barreiras entre o físico e o digital sempre que a tecnologia permitir”.

La Liga vai investir inclusive em seu aplicativo oficial. Atualmente, o app da competição é mais voltado a exibir os resultados. O intuito é personalizar a experiência do usuário e adicionar novas estatísticas, assim como possibilidades de entender o jogo. O acordo com a EA Sports pode facilitar a ponte com os games e o próprio consumo do futebol real em relação ao virtual. Será outro caminho com uma ampla perspectiva a se explorar. Um bom trabalho ao lado dos clubes espanhóis também tende a abrir frentes para que o EA Sports FC atue em outros campeonatos – mesmo sem naming rights, ao menos com parcerias em tecnologia para promover seu principal produto.

A mudança de ares nos naming rights de La Liga também são convenientes à imagem que a competição deseja passar globalmente. Não faz muito tempo, o futebol espanhol vivia em constante crise pela situação financeira de clubes tradicionais, que contraíam dívidas exorbitantes e se aproximavam da bancarrota. A associação com bancos como o Santander e o BBVA tentava justamente melhorar a credibilidade nesse sentido. De qualquer maneira, a situação mais saudável dos clubes locais dependeu de uma política estrita de Fair Play Financeiro. A rigidez aplicada na Espanha foi importante para auxiliar a recuperação de diversas equipes, sem onerar o poder público como geralmente acontecia. Superado esse estágio mais crítico, há outros horizontes a se buscar.

Presidente de La Liga, Javier Tebas falou em “mudanças revolucionárias”. Ainda é cedo para acreditar nas palavras de quem passa pano para racistas. De qualquer maneira, não se nega que o caminho tomado por La Liga é interessante e pode torná-la pioneira em aspectos importantes. A ver como tudo se cumprirá.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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