Diego Alonso assume o Sevilla e amplia a presença sul-americana no comando de La Liga
Diego Alonso nem foi tão bem assim à frente da seleção do Uruguai, mas ganha uma excelente oportunidade na direção do Sevilla após a demissão de Mendilibar

O Sevilla sonhou alto nos últimos dias. A demissão de José Luis Mendilibar neste início de temporada ruim em La Liga gerou algumas especulações na imprensa espanhola sobre seu substituto. Andoni Iraola era o favorito, não fosse seu contrato com o Bournemouth. Marcelino García Toral e Javi Gracia pintavam com outras alternativas experientes. Até mesmo o nome de Antonio Conte chegou a ser ventilado, no que parecia ser uma alternativa improvável. E a aposta dos sevillistas não é a mais chamativa, em alguém que não pintava entre os principais rumores. Diego Alonso tentará levantar as perspectivas dos rojiblancos na tabela e também buscará a classificação aos mata-matas da Champions League. Será a primeira experiência do uruguaio como treinador na Europa, com mais um sul-americano na Espanha.
Diego Alonso fez um trabalho agridoce à frente da seleção do Uruguai. O comandante tinha uma tarefa dificílima, ao substituir Óscar Tabárez e buscar a classificação para a Copa do Mundo, em risco. Seu início com a Celeste foi muito bom e ele conseguiu levar os charruas ao Catar. O problema viria mesmo no Mundial, com uma campanha não mais que morna. Decisões contestáveis do comandante e falta de alternativas ao time pareceram minar os uruguaios. Sua demissão imediata soou até como natural. Considerando que não necessariamente emplacou na equipe nacional, o Sevilla é uma baita oportunidade para este novo momento.
A escolha de Diego Alonso para o Sevilla faz até pensar se esta não seria a porta aberta na Europa que Tite tanto esperou durante os últimos meses. De certa maneira, o currículo do antigo treinador do Brasil o respaldava mais do que o uruguaio, pensando no aspecto de seleções e também de clubes. No entanto, é Alonso quem ganha a chance de mostrar serviço não apenas num clube tradicional do Campeonato Espanhol, como também na Champions League. Os problemas dos sevillistas não se restringem a uma troca de treinador, mas o novo comandante tem condições de elevar as perspectivas atuais.
O Sevilla investe em Diego Alonso muito por conta de seu perfil. É um treinador elogiado pelo trato com os jogadores e pela gestão de vestiário. Além disso, possui um estilo de jogo que pode se casar com os andaluzes, especialmente por uma proposta mais vertical e fortalecida nas ações pelos lados de campo. Além disso, também é uma personalidade mais tranquila que outros antecessores, como Julen Lopetegui e Jorge Sampaoli. Não chega como o tipo que vai bater de frente com a diretoria por reforços, como poderiam fazer outros figurões especulados, a exemplo de Marcelino e Conte. Vem disposto a se provar na Europa, algo bastante presente em suas primeiras declarações.
O que Diego Alonso falou em sua chegada
Diego Alonso, em sua primeira entrevista, não escondeu a empolgação de trabalhar na Espanha e a capacidade de se adaptar a uma nova cultura: “É sempre necessário ter capacidade de adaptação a um novo lugar. Fui jogador aqui na Espanha e conheço parte disso. Minha experiência em diferentes lugares me tornou mais flexível para que a adaptação seja mais rápida. É preciso encontrar a medida certa para ser melhor. Quando você chega a um clube novo, não pode destruir, tem que construir, ver o que tem nos clubes onde há gente muito capaz e melhorar. A partir daí você cresce e com essas trocas quem ganha é o clube, é a torcida”.
A princípio, o uruguaio indicou conhecer o ambiente do Sevilla para elevar o nível: “Tenho um diagnóstico do que tenho visto da equipe. Os treinadores sempre têm uma herança do antecessor, devemos conhecer e saber o que funcionou, manter o positivo. No ano passado, o Sevilla foi muito competitivo, e neste ano pressionavam agressivamente, com transições rápidas. Gosto dessas características. Depois haverá coisas minhas e a minha maneira de ver o futebol. Vou tentar transmitir isso aos jogadores. Primeiro temos que trabalhar e convencer com ferramentas. Teremos erros ou acertos, mas construiremos para sermos dominantes em todos os sentidos”.
Além disso, Alonso exaltou os jogadores e os recursos à disposição: “Temos jogadores de elite e extremamente capazes. Confiamos muito nas suas qualidades, por isso também estamos aqui, independentemente do tamanho do clube. Tudo isto vai nos permitir crescer com as características que queremos. Sempre acreditei que os sistemas não são importantes, mas as ferramentas e o que você tem. O que queremos fazer é mais importante. A equipe tem variantes e muitos recursos para desenvolver conceitos de jogo, para ser dominante na pressão e nos passes. Isso é um desafio, claro, mas é o caminho mais curto para vencer. Quando você sabe por que vence, repete e deixa de fazer o que errou quando perdeu” .
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A trajetória de Diego Alonso
Diego Alonso teve uma longa carreira em La Liga como jogador, o que pesa a seu favor. O centroavante despontou no Bella Vista e passou pelo Gimnasia de La Plata, antes de ser contratado pelo Valencia em 2000/01. Fez parte de um time lendário dos Ches, presente na campanha até a final da Champions League. Contudo, como coadjuvante, acabou rumando ao Atlético de Madrid e se encarregou de ser um dos heróis do acesso em 2001/02, com 22 gols na segunda divisão. “El Tornado” também defendeu Racing de Santander, Málaga e Real Murcia, numa carreira bastante rodada que ainda incluiu bons momentos por Pumas UNAM e Peñarol.
Diego Alonso se tornou treinador em 2011, pouco depois de pendurar as chuteiras. O comandante rodou por times como Bella Vista, Guaraní de Assunção, Peñarol e Olimpia. Não fez trabalhos muito relevantes até deslanchar no México, levado pelo Pachuca em 2014. Foram quatro anos à frente dos Tuzos, que renderam um título do Campeonato Mexicano e um título da Concachampions. Depois ficaria pouco mais de um ano à frente do Monterrey, pelo qual faturou a Concachampions pela segunda vez em três edições. A fama o levou ao Inter Miami, mas sem auxiliar a franquia recém-criada da Major League Soccer.
O trabalho de maior reconhecimento de Diego Alonso, de qualquer maneira, foi na seleção do Uruguai. O treinador tinha uma missão hercúlea, ao substituir Óscar Tabárez depois de um ciclo histórico. Os títulos da Concachampions pesaram em sua escolha, enquanto ainda tinha uma breve passagem pela Celeste nos tempos de centroavante. De início, Alonso fez muito bem o básico. Colocou ordem no time, aproveitou melhor os talentos à disposição e buscou a vaga na Copa do Mundo. Porém, quando se esperava algo a mais dos charruas no Mundial, o que se viu foi uma equipe um tanto quanto limitada e abaixo do potencial de seus jogadores. A eliminação na fase de grupos sequer permitiu que continuasse no time.
O momento do Sevilla
Diego Alonso assume um Sevilla em crise. Os andaluzes estão na metade inferior da tabela de La Liga, com oito pontos em oito rodadas. A campanha na Champions League também não começou tão bem, com dois empates. O treinador precisará extrair o melhor do elenco que tem em mãos, com jogadores renomados, mas sem tanto equilíbrio nos mais variados setores. Mendilibar teve um início memorável à frente dos sevillistas, ao evitar os riscos de rebaixamento e ainda por cima conquistar a sétima Liga Europa do clube. No entanto, o rendimento caiu bastante na atual temporada e também a relação com os jogadores passou a ter seus atritos, o que acelerou a saída.
O Sevilla conta com uma série de medalhões liderada por Jesús Navas, Ivan Rakitic, Fernando Reges e o recém-contratado Sergio Ramos. Outros bons jogadores também estão à disposição, a exemplo de Djibril Sow, Loïc Badé, Youssef En-Nesyri, Lucas Ocampos, Marcos Acuña e Erik Lamela. Não é um grupo para brigar contra o rebaixamento, embora pareça enfraquecido em relação à sequência de participações na Champions League conseguida recentemente por Julen Lopetegui. E não é que a montagem do plantel pareça tão bem feita pelos andaluzes nos anos mais recentes.
Com isso, quem paga são os treinadores. Diego Alonso é o quarto comandante diferente nos últimos 12 meses. Lopetegui saiu depois de grandes momentos, mas num fim de passagem mais desgastado. Jorge Sampaoli fracassou em seu retorno ao Nervión e não fez o simples. Já Mendilibar transformou as perspectivas de início, mas ficou menos tempo que seus antecessores no cargo. Diego Alonso tentará construir seu respaldo com o bonde andando. Tem pelo menos o apoio de Victor Orta, o diretor esportivo rojiblanco que substituiu Monchi, depois de uma ótima passagem de seis anos pelo Leeds United – em que trouxe Marcelo Bielsa e teve participação ativa na volta à Premier League.
O Sevilla possui um histórico razoável de treinadores sul-americanos. Além de Jorge Sampaoli, Eduardo Berizzo foi outro a passar por lá na última década. Já nos anos 1980 e 1990, os sevillistas foram dirigidos por figuras como Carlos Bilardo, Roque Olsen, Vicente Cantatore e Víctor Espárrago – este, uruguaio e com histórico vitorioso sobretudo como jogador do Nacional de Montevidéu. Puxando mais ao passado ainda, Helenio Herrera também se projetou no Nervión. Diego Alonso tentará honrar esse legado, assim como chega como um vizinho ao que Manuel Pellegrini realiza no Betis e Diego Simeone constrói há uma década no Atlético de Madrid.