Editorial

Robinho ser convidado para churrasco do Santos é só mais uma afronta do futebol às mulheres

Abraço sorridente de Robinho e Pedrinho no CT Rei Pelé gera revolta, mas simbolismo da imagem é ainda mais duro: o machismo "conserta" tudo

Condenado a nove anos de prisão na Itália pelo estupro coletivo de uma mulher, Robinho se vale na não extradição de brasileiros para o exterior para levar uma vida normal na Baixada Santista. Na última terça-feira (28), ele participou de um churrasco dentro do CT Rei Pelé, tirou foto com funcionários e jogadores do Santos e, mais uma vez, caminhou livremente pelos mesmos corredores da época em ainda era considerado ídolo. Essa foi só mais uma das muitas afrontas que as mulheres encaram no futebol todos os dias.

Basta abrir as redes sociais para se deparar com o chorume: “E daí que ele foi condenado por estupro? Uma coisa não tem nada a ver com a outra”. Em seguida, qualquer indignação de uma mulher sobre a atrocidade é acompanhada de um comentário clichê: “Para de lacrar, lacradora” ou “vai lavar uma louça” (esses foram dois dos comentários que eu mais li quando tentei explicar que jogador e cidadão são a mesma pessoa).

Às vezes, desanima, é verdade. No entanto, logo um novo fato desperta revolta, como foi o abraço sorridente entre Robinho e Pedrinho no churras do Santos. E por mais que o atual atacante do Peixe tenha se livrado das acusações de violência doméstica contra a namorada, Amanda Nunes, é interessante ver o simbolismo em torno da imagem: não há nada que o machismo não possa “consertar” – ainda que você tenha sido condenado por estupro ou acusado de agredir uma mulher.

O curioso é que os casos de violência aparecem nos trending topics toda semana, e a lista de jogadores acusados de alguma coisa é grande. Nesta, em especial, muito se falou sobre a condenação de Daniel Alves, que teve até estátua vandalizada em sua cidade natal, Juazeiro, na Bahia. As pessoas ficaram revoltadas com o crime cometido pelo ex-lateral da Seleção Brasileira, o mesmo cometido por Robinho. A única diferença entre eles é que a história de Alves é recente.

Ou seja, daqui a alguns anos, quando a poeira baixar e Daniel Alves puder voltar ao convívio junto aos amigos boleiros, certamente vai ter churrasco e pagode em algum CT por aí. A situação estará estampada nas redes sociais para os fãs do agressor demonstrarem a saudade de quando o Brasil “tinha lateral de verdade”. Alguém duvida que esse será o futuro?

Ainda bem que a resistência feminina nunca vai deixar de combater essas afrontas.

Violência contra a mulher é crime

A Lei Maria da Penha foi sancionada em 7 de agosto de 2006. Com 46 artigos distribuídos em sete títulos, ela cria mecanismos para prevenir e coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher em conformidade com a Constituição Federal (art. 226).

Se você foi vítima de violência doméstica ou conhece alguém que esteja em situação de risco, disque 180. A Central de Atendimento à Mulher presta uma escuta e acolhida qualificada às mulheres em situação de violência. O serviço registra e encaminha denúncias aos órgão competentes.

O serviço também fornece informações sobre os direitos da mulher, como os locais de atendimento mais próximos e apropriados para cada caso: Casa da Mulher Brasileira, Centros de Referências, Delegacias de Atendimento à Mulher (Deam), Defensorias Públicas, Núcleos Integrados de Atendimento às Mulheres, entre outros.

O serviço funciona diariamente, 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos e feriados. As ligações podem ser feitas de todo o Brasil por meio de discagem direta e gratuita, de qualquer terminal telefônico fixo ou móvel. O Ligue 180 atende todo o território nacional e também pode ser acessado em outros países.

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Dois casos de estupro acontecem por minuto no Brasil

O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) estima que ocorram 822 mil casos de estupro no Brasil por ano. Desse total, apenas 8,5% deles chegam ao conhecimento da polícia e 4,2% são identificados pelo sistema de saúde. Esses números representam cerca de dois casos de estupro por minuto no país.

Os dados apontam que mais de 80% das vítimas são mulheres. Em relação aos agressores, em termos de gênero, a maioria é composta por homens, com destaque para quatro grupos principais: parceiros e ex-parceiros, familiares (sem incluir as relações entre parceiros), amigos/conhecidos e desconhecidos.

A análise do Instituto abrange dados da Pesquisa Nacional da Saúde (PNS/IBGE) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan/Ministério da Saúde).

Se você é mulher e sofreu violência sexual ou conhece alguma mulher em situação de risco, ligue 180. O serviço de enfrentamento à violência contra a mulher é responsável por receber denúncias de violações contra as mulheres e encaminhar o conteúdo dos relatos aos órgãos competentes e monitorar o andamento dos processos.

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