Hummel lança camisa desbotada da Dinamarca em protesto por trabalhadores mortos durante obras da Copa
A fornecedora de material esportivo disse que, embora apoie a seleção dinamarquesa até o fim, isso não significa que endossa um torneio que "custou milhares de vidas"

A Hummel, empresa de material esportivo fundada na Alemanha e atualmente sediada na Dinamarca, lançou novos uniformes para a seleção dinamarquesa para a Copa do Mundo de 2022 que são inspirados no título europeu de 1992 e também um protesto pelas mortes de trabalhadores imigrantes durante as obras do Mundial do Catar.
Segundo o Comitê Supremo em março de 2020, responsável pela organização do Mundial, 34 imigrantes trabalhando diretamente com os estádios morreram desde o começo das construções. A maioria dessas mortes foi classificada como “não-relacionada ao trabalho”, um termo que o Comitê utiliza para pessoas que faleceram fora do canteiro de obras por falhas respiratórias ou cardíacas sem explicação.
O Guardian publicou em 2019 que centenas de trabalhadores estavam sendo submetidos a regimes de trabalho de até 10 horas sob temperaturas de 45º e que o Catar não estava investigando mortes súbitas de trabalhadores imigrantes para tentar entender as causas. Desde que o Catar recebeu a Copa do Mundo, 6.500 trabalhadores imigrantes morreram no país, segundo o jornal britânico. Além de estádios, a Copa do Mundo também exigiu muitas obras de infraestrutura.
“Com as novas camisas da seleção dinamarquesa, queremos enviar uma mensagem dupla”, escreveu a Hummel. “Elas não apenas são inspiradas na Eurocopa 1992, o maior sucesso do futebol da Dinamarca, mas também um protesto contra o Catar e seu histórico de direitos humanos”.
“Por isso que desbotamos todos os detalhes das novas camisas da Copa do Mundo da Dinamarca, incluindo nosso logotipo. Não queremos ficar visíveis durante um torneio que custou milhares de vidas. Apoiamos a seleção dinamarquesa até o fim, mas isso não é o mesmo que apoiar o Catar como país-sede. Acreditamos que o esporte tem que unir as pessoas. E quando não o faz, queremos nos posicionar”, acrescentou.
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Em uma segunda postagem, a Hummel destacou uma camiseta toda preta da Dinamarca. “Preto. A cor do luto. A cor perfeita para a terceira camisa da Dinamarca para a Copa do Mundo deste ano. Embora apoiemos a seleção dinamarquesa até o fim, isso não deveria ser confundido com apoio a um torneio que custou milhares de vidas. Queremos nos posicionar sobre o currículo de direitos humanos do Catar e o seu tratamento de trabalhadores imigrantes que construíram os estádios da Copa do Mundo”, escreveu.
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Segundo o jornalista Tariq Panja, do New York Times, o Comitê Supremo disse que trabalhou junto com o governo do Catar para deixar um legado de reformas no sistema trabalhista do país, com leis que protegem os direitos dos trabalhadores, e rechaçou a acusação da Hummel de que a Copa do Mundo custou milhares de vidas.
Qatar 2022 reply. pic.twitter.com/RCzZx0lEK5
— tariq panja (@tariqpanja) September 28, 2022
O Catar anunciou em 2019 que acabaria com o sistema kafala, uma organização análoga à escravidão em que os trabalhadores não podem mudar de emprego ou deixar o país sem a permissão de seus chefes, mas a Anistia Internacional denunciou em novembro do ano passado que os piores elementos do kafala estavam sendo retomados e cobrou que o Catar colocasse as promessas em prática.