Seleção repete erros, e nem evolução em campo é capaz de mudar decepção no Maracanã
Seleção brasileira perdeu em casa pela primeira vez na história das Eliminatórias Sul-Americanas
Os mais de 68 mil torcedores que foram ao Maracanã esperavam bem mais do Brasil x Argentina que aconteceu na noite de terça (21). Da briga generalizada no setor sul do estádio à derrota para os hermanos nas Eliminatórias, a torcida se decepionou com o placar e com o “Dinizismo”.
Ainda que Fernando Diniz esteja correto em enxergar evolução da Seleção mesmo na derrota, o fato é que sua equipe tem tido maus resultados. “Se não foi a melhor atuação, foi uma das melhores”, opinou o técnico após o jogo.
Ele tem apenas 38% de aproveitamento à frente do Brasil, e acumula marcas negativas, como ter sido derrotado em casa pela primeira vez na história das Eliminatórias e chegar a três derrotas seguidas na competição. A Seleção não era derrotada em três jogos em sequência desde 2001.
Embora o desempenho tenha melhorado, entretanto, as arquibancadas disseram muito sobre o jogo. A torcida se decepcionou com o Dinizismo e esperava um time mais forte, organizado e capaz de bater o eterno rival.
Maracanã vive noite de Fla-Flu com Diniz na Seleção
Em se tratando de um jogo no Rio de Janeiro, onde Diniz treina o Fluminense, um dos grandes da cidade, a dose de clubismo nas críticas e nos elogios precisa ser ponderada. Campeão da Libertadores pelo Tricolor, o técnico “desagrada” as outras três torcidas do estado.
Torcidas de Flamengo e Fluminense entram em "disputa" de músicas. Tricolores gritam que foram campeões da Libertadores no Maracanã, e rubro-negros respondem com "tricampeão"!
— Caio Blois (@caioblois) November 22, 2023
Não à toa, os principais protestos saíram do setor norte, onde costuma ficar a torcida do Flamengo. De setor sul, onde os tricolores se posicionam para jogos do seu clube, o único protesto viria nos acréscimos, em um grito de olé que foi criticado pelo treinador.
— A torcida está no direito de fazer o que ela quiser. Ela vem e a gente tem que entregar o nosso melhor. O torcedor é passional e quer vencer, então ele está no direito de vaiar. Acho que gritar olé para a Argentina é um pouco demais. Tanto que o pessoal que falou foi vaiado pelo público que estava. Mas vaiar, ficar indócil com o time porque não está ganhando é extremamente compreensível. Do resto, temos que saber conviver com as vaias e com a pressão. Ele (torcedor) quer vencer e jogar bem. Acho que o time jogou bem, mas não venceu. E quando isso acontece e vem a derrota, é um fato normal — opinou o treinador.
Alguns gritos de “burro!” e “time sem vergonha” também foram entoados no Maracanã, mas em menor força. Boa parte dos torcedores deixou o estádio após a expulsão de Joelinton, aos 36 minutos do segundo tempo, em demonstração de descrença na Seleção.
Jogadores defendem Diniz após sequência de derrotas
Se desagradou alguns torcedores, Fernando Diniz segue prestigiado pelos jogadores. O discurso era uníssono em apoio ao treinador, que tem como principal balizador de seu trabalho a construção de relações com os atletas. Na zona mista, o capitão Marquinhos mostrou confiança no técnico.
— Eu estou com o Diniz, é o meu treinador, gosto muito dele, uma pessoa que merece estar aqui, trabalhou demais. A gente precisa ter paciência com os resultados. Agora é um momento difícil, mas com certeza ele vai trazer a gente para uma melhor posição, com melhores resultados. No futebol a gente sabe que às vezes as pessoas não têm essa paciência, mas a gente pede que tenham paciência porque ele é um excelente treinador — declarou o zagueiro.
Quem também saiu em defesa de Diniz foi Bruno Guimarães, um dos melhores em campo pelo Brasil e que tem relação de longa data com o treinador desde os tempos de Athletico.
— Todo mundo aqui tem muita confiança no trabalho do Diniz. Não falta trabalho. Treinamos duro todas às vezes, muito forte, e acredito que fomos melhores no jogo, tivemos a melhor oportunidade, não vencemos, mas o apoio dos jogadores segue 100% com o Diniz — declarou Bruno.
O Brasil só volta a campo em março de 2024, em amistosos na Europa contra Espanha e Inglaterra. No planejamento da CBF, essa é a última data Fifa com o interino Fernando Diniz, já que a entidade garante ter acerto com o italiano Carlo Ancelotti para o meio do ano.
Erros repetidos na defesa custam placar mesmo com evolução
Brasil e Argentina fizeram jogo bastante equilibrado nos números. De acordo com dados do Sofascore, a posse de bola esteve igualmente dividida em 50%, e os rivais chutaram oito vezes ao gol do adversário.
Em uma partida parelha, os detalhes fizeram a diferença. Os erros repetidos da Seleção custaram o resultado apesar de, talvez, o Brasil ter tido sua melhor atuação com Fernando Diniz.
— Embora a gente teve um número de finalizações parecido, o Brasil levou muito mais perigo. A Argentina não teve nenhuma chance para fazer, a única que teve foi no escanteio, a gente errou na marcação e o Otamendi conseguiu fazer o gol. Tivemos quase também chances em muitos contra-ataques meio claros para acertar o último passe e poder finalizar. Estivemos muito mais perto da vitória do que a Argentina. Achei o resultado bastante injusto — disse Diniz após o jogo.
O gol de cabeça de Otamendi repete um padrão. Em seis jogos nas Eliminatórias, o Brasil sofreu sete gols, sendo seis deles pelo alto. A defesa que tem esse ponto fraco só não foi vazada uma vez no ano de 2023: a vitória por 1 a 0 sobre o Peru, lanterna da competição.
Com sete pontos em seis jogos, a Seleção amarga o sexto lugar, e estaria fora da zona de classificação para a Copa do Mundo de 2026 se não fosse o aumento de vagas de 32 para 46.