A Concachampions começou com uma baita surpresa: o Violette, do Haiti, enfiou 3×0 no Austin FC
O Violette já chegou a vencer a Concachampions em 1984, mas não disputava o torneio desde 1994 e reestreou brocando o adversário da MLS

A Concachampions abriu sua edição 2023 nesta terça-feira e o primeiro resultado foi logo de cara uma belíssima surpresa. Por questões econômicas, o Austin FC era o favorito contra o Violette. O clube texano conta com o dinheiro da Major League Soccer, enquanto o adversário haitiano lida com as limitações de um país em constante crise. Por tradição, porém, não se poderia menosprezar o Violette. Os alviazuis possuem até mesmo um troféu da Concachampions em sua história, faturado em 1984. E dá para dizer que “a camisa pesou” no encontro desta terça, realizado excepcionalmente na República Dominicana. O representante caribenho anotou 3 a 0 na partida de ida e largou em ótimas condições antes da visita ao Texas.
O Violette é o terceiro maior campeão do Haiti, com sete troféus da liga nacional. Tal importância tornou o clube um costumeiro participante da Concachampions desde a década de 1960 e, apesar das quedas geralmente precoces, o título de 1984 marca o ápice dos alviazuis. Na época, a competição continental se dividia em duas zonas – a do Caribe e a da América Central e do Norte. Os campeões de cada área se encaravam na decisão. O Violette se consagrou como campeão caribenho e, como não houve um consenso de datas para a final na outra zona, entre New York Pancyprian-Freedoms e Chivas Guadalajara, os haitianos foram declarados campeões.
O Violette também encarou períodos de seca e ficou 22 anos sem conquistar o Campeonato Haitiano, até levantar a taça em 2021. Graças a isso, os alviazuis puderam disputar o Campeonato de Clubes do Caribe, após um hiato de 13 anos. E a antiga potência continental levou a taça em 2022. Eliminou adversários de Jamaica e República Dominicana, até vencer na decisão os dominicanos do Cibao. Além do troféu, o desempenho também garantiu a presença do Violette nas oitavas de final da Concachampions. Os alviazuis não participavam da competição desde 1994. Teriam uma reestreia para nunca mais esquecer.
Apesar de todo esse currículo do Violette, o favoritismo no confronto ainda era do Austin FC. A equipe fundada em 2018 possui um investimento inegavelmente maior, com vários jogadores estrangeiros à disposição. Nomes como o uruguaio Diego Fagúndez, o colombiano Jhojan Valencia, o argentino Maximiliano Urruti e o sueco Adam Lundqvist foram titulares nesta terça, com a opção de Emiliano Rigoni no banco. Não é a equipe principal dos texanos, com as ausências de outras figuras de relevo, como os atacantes Gyasi Zardes e Sebastián Driussi. Ainda assim, esperava-se uma vitória contra o Violette, que mal conta com jogadores da seleção do Haiti. A exceção fica para Steeven Saba, volante da equipe nacional e capitão do time. Apesar da desconfiança, os alviazuis conseguiram brocar.
Por conta da violência no Haiti, que inclusive paralisa o campeonato local desde 2021, o Violette teve que mandar seu jogo em Santiago de los Caballeros, na República Dominicana. Apesar disso, havia uma animada torcida em apoio ao time e até mesmo uma bandinha para empurrar os haitianos. E a equipe correspondeu. O primeiro tempo foi do atacante Miche-Naider Chéry. Ele abriu o placar numa cabeçada aos 13 minutos e ampliou aos 39, em mais uma testada fatal.
Já no início do segundo tempo, Chéry não completou sua tripleta porque o goleiro Brad Stuver fez milagre. O problema é que, na tentativa de afastar o perigo, Amro Tarek marcou um gol contra miserável para o Violette. A noite infeliz do zagueiro do Austin ainda terminaria com uma lesão. O goleiro Stuver trabalhou em outras boas intervenções para evitar o quarto tento dos haitianos. Do outro lado, os texanos tentaram uma pressão na reta final, mas sequer descontaram. Maximiliano Urruti carimbou o travessão na melhor chance.
O resultado é histórico para o Violette, por todas as circunstâncias. O Austin FC ainda tem chances de buscar uma reviravolta no Texas, especialmente se os seus principais jogadores estiverem em campo. Todavia, não se nega o peso do que os haitianos aprontaram. O triunfo simboliza a expectativa de que o país tão marcado pela miséria volte a ressurgir como um destino relevante no futebol. Vale lembrar que, na Concachampions de 2021, o Arcahaie já tinha comemorado muito um empate por 0 a 0 na estreia contra o Cruz Azul, antes dos 8 a 0 para os mexicanos na volta. Já em 2022, o Cavaly precisou desistir da competição porque os jogadores haitianos não conseguiram vistos suficientes para entrar nos Estados Unidos. Que o destino do Violette seja definido em campo, porque a perspectiva de classificação é palpável.