Com Savinho em alta na Europa, Atlético-MG ainda não consegue dar explicação lógica para modelo de sua venda
Um dos brasileiros de maior destaque no futebol mundial, Savinho saiu do Atlético e rendeu (e ainda renderá) muitas críticas pela forma da negociação
Maior joia da base do Atlético-MG no século, Savinho deixou o clube em junho de 2022, pouco depois de completar 18 anos, negociado com o Grupo City, mais especificamente o Troyes, da França. Hoje, brilha na La Liga pelo Girona e está a caminho do Manchester City. A falta de oportunidades no clube para uma joia tão prospectada em todo o planeta já foi debatida inúmeras vezes. Atrelada a ela, vem também a do baixo valor que o clube o vendeu, algo que rende questionamentos até hoje, e o clube, independente de quem responda, não consegue dar uma explicação lógica.
Savinho atualmente é um dos brasileiros de maior destaque do futebol mundial. Ele é um dos principais jogadores da sensação da La Liga, Girona, e já tem seu futuro encaminhado para alcançar a elite em uma mudança para o Manchester City. Diante desse cenário, um sentimento de raiva e decepção fica cada vez maior no torcedor do Atlético, que viu o clube vender uma estrela como essa por um preço baixo e em um modelo questionável.
O atacante era apontado por todos os especialistas do mundo como um dos maiores prospectos nascidos em 2004. Na base do Atlético, passeava com facilidade. Na Seleção Brasileira, idem. Mas, no time principal atleticano, pouco jogou – 35 jogos, com média de apenas 35 minutos por jogo. Mesmo assim, despertou o interesse do principal conglomerado de clubes do mundo hoje, o Grupo City, que o comprou do Galo. E aí começam os questionamentos.
𝙎𝘼𝙈𝘽𝘼 en el @GironaFC. 🕺
😍 ¡Qué jugador es Sávio! #LALIGAEASPORTS | #LALIGALimite24h pic.twitter.com/lmWRf2Xr60
— LALIGA (@LaLiga) August 31, 2023
Valor irrisório perto dos praticados atualmente
Em uma época em que grandes prospectos do Brasil, como Rodrygo e Vinicius Junior, são vendidos por quase 50 milhões de euros, o Atlético negociou Savinho com o Grupo City por apenas 6,5 milhões de euros (R$ 35,6 milhões na época), mantendo 12,5% de uma futura venda. O valor bem abaixo do praticado atualmente, ainda mais por uma joia como ele, não fez (e ainda não faz sentido), por isso chamou tanta atenção e gerou (e ainda gera) revolta da torcida atleticana.
Responsável por fazer o negócio, o diretor de futebol Rodrigo Caetano, hoje diretor da CBF, foi questionado em sua despedida do Atlético sobre o modelo da venda de Savinho e o motivo dela ter sido tão baixa. Ele então tentou explicar que a questão não pode ser o preço, mas sim ele não ter tido mais tempo e oportunidades no Galo.
– Gostaria muito que o torcedor e vocês (imprensa) entendessem que, do lado de cá, vai sempre se tentar a melhor negociação. Só que também tem que combinar com aquele que quer pagar, né? Então, assim, naquele momento, ninguém aqui fez a negociação do Savinho de forma a se contentar pelo preço. Nós queríamos muito que o Savinho permanecesse por mais tempo. Não é o preço que está em discussão. A discussão é que nós queríamos que ele ficasse mais tempo. Foi um momento do ‘desabrochar’ dele. Mas, infelizmente, o clube atravessava uma necessidade gigantesca — iniciou Rodrigo Caetano.
No entanto, a fala de Rodrigo já não faz sentido, pois é sim o preço e também a falta de oportunidades que são pauta nesse caso. Uma coisa não anula a outra, ou um debate não impede que o outro seja feito. Os dois questionamentos, tanto do valor quanto do pouco tempo dele no clube, são extremamente pertinentes. O diretor então continuou, apontando outro detalhe que não encaixa.
– É aquela história: quando você não precisa vender, o preço automaticamente sobe. Isso aí vale para qualquer um na nossa contabilidade doméstica. Você precisa se desfazer de alguma coisa, por necessidade, o preço é outro. São momentos distintos. Não dá para dissociar o caso do Savinho de todo o contexto. Claro, se dissocia porque é interessante esse tipo de discussão — concluiu.
É fato que quem precisa vender tem menos poder de barganha. A forma como Flamengo e Palmeiras, que não precisam negociar, conduzem as saídas de suas jovens promessas, deixa claro, já que eles conseguem valores altos. No entanto, não faz sentido o Atlético, necessitado de dinheiro, consequentemente de vender, aceitar um valor tão irrisório por uma joia como Sávio. Novamente, o jovem era uma potencial mundial para qualquer especialista. Se o valor não chegaria nos 45 milhões de euros de Vini Jr. – que foi vendido assim sem nem estrear no profissional -, então o de Savinho teria que ser pelo menos metade disso.
Rodrigo Caetano fala sobre a venda de Savinho no Atlético e explica que era uma necessidade do clube na época, o que afetou o quesito oferta-demanda. pic.twitter.com/VkLwaolxRF
— Alecsander Heinrick (@alecshms) February 21, 2024
Sem respostas para a parte mais inexplicável do modelo
Mas o modelo do negócio de Savinho não para por aí. Meses depois, o ge revelou alguns detalhes das cláusulas de bonificação do negócio. Ou seja, quais metas o jogador deveria bater para o Atlético receber mais dinheiro. Nesse caso, o valor máximo seriam mais 6 milhões de euros. Então, no fim das contas, com todas as metas batidas, o negócio seria de 12,5 milhões de euros.
Mas o “pulo do gato” está nas metas que Savinho precisa bater, principalmente as que estão atreladas exclusivamente ao Troyes. Spoiler: Savio nunca jogou, e nunca deverá jogar, no clube francês. Rumando ao Manchester City agora, é lá que ele terá contrato. Confira as tais metas:
- 250 mil euros a cada 10 partidas feitas no time principal do Troyes (titular), condicionada a um máximo de seis “tranches” – total de 60 partidas). O total pago nessa cláusula não poderá ser maior do que 1,5 milhão de euros;
- 500 mil euros a cada 5 aparições do jogador no time titular: 1) do Troyes; 2) outro clube sob empréstimo do Troyes, nos dois casos, na fase de grupos da UEFA Champions League, num total de três “tranches”. Ou seja, 15 aparições no total. O total pago nessa cláusula não pode ultrapassar 1,5 milhão de euros;
- 750 mil euros a cada cinco aparições do jogador no time titular pelo Troyes ou outro clube sob empréstimo, nas oitavas, quartas, semi, final da UEFA Champions League, até no máximo 10 aparições totais. O total desta cláusula não pode ultrapassar mais do que R$ 1,5 milhão;
- 500 mil euros pagos de forma única na primeira ocasião que Savinho contribuir para 20 gols (combinação de gols e assistências) em uma única temporada do Campeonato Francês, a favor do Troyes;
- 500 mil euros pagos de forma única na ocasião que Savinho fizer sua terceira partida de titular pela Seleção Brasileira, seja na Copa do Mundo, Eliminatórias ou Copa América, sob contrato com o Troyes;
1,5 milhão de euros pagos de forma única na ocasião que Savinho ganhar a Bola de Ouro da revista France Football, sob contrato com o Troyes.
Com as metas irreais colocadas, o Atlético não deve ver a cor do dinheiro desses possíveis bônus, o que mostra mais um erro inexplicável desse modelo de negócio. Na pergunta sobre a negociação, foi falado a Caetano sobre essas metas, mas ele nem se atentou a comentar. No fim, destacou que essa mudança deve para o Manchester City: “vai entrar mais um recurso para o clube e, consequentemente, o todo da negociação vai ficar um pouco mais favorável”.
Savinho vai causar mais “raiva” no atleticano
Pelo que vem apresentando até o momento, com uma evolução sem tamanho, Savinho certamente não vai parar por aí. E isso vai irritar ainda mais o torcedor atleticano, principalmente agora que ele estará mais em evidência sob contrato com o Manchester City, um dos (se não o melhor) clubes do mundo na atualidade. O jovem brasileiro ainda será treinado por Pep Guardiola, o que gera uma expectativa de uma evolução ainda maior e mais rápida em seu futebol.
Nenhum jovem no mundo, com exceção dos irreais, como Ronaldo e Neymar, sai da base como uma certeza. Todos têm a possibilidade de não renderem o esperado na carreira. Acontecem, são seres humanos e algumas escolhas ou ações podem afetar suas carreiras. No entanto, há especialistas para analisar quem tem mais chance de realmente “virar jogador”, e Savinho sempre esteve no topo dessas listas. Vê-lo em campo, seja na base ou no profissional, já era outro sinal de como ele tinha enorme potencial para “vingar”, então por que o Atlético optou por esse modelo de negócio ao vendê-lo? Por que tão barato? Por que essas metas irreais? Todos são questionamentos válidos e que ainda não tiveram uma resposta plausível.