Paulo Jr: São Paulo bem resolvido de Dorival dá maior queda de Abel no Palmeiras
Tricolor avançou na Copa do Brasil após duas vitórias maiúsculas sobre o rival

O São Paulo passou pelo Palmeiras nas quartas de final da Copa do Brasil com duas vitórias e uma superioridade difícil de se imaginar há algumas semanas, mas clara e cristalina em 180 minutos de puro contraste entre o time de Dorival Junior, bem resolvido com o arranjo de seu comandante, e o de Abel Ferreira, vivenciando sua pior derrota nesses quase três anos de futebol brasileiro.
Caio Paulista, o melhor em campo no 2 a 1, e Rafinha não deixaram o rival crescer pelas pontas, Diego Costa e Arboleda protegeram bem a área num já previsto excesso de cruzamentos e a posse com Alisson, Rato, Nestor e Luciano teve a esperteza que é característica do treinador – muita aproximação, passes curtos no chão e calma para controlar a bola. Foram dois gols, mais um anulado sem unanimidade por parte da equipe de arbitragem e mais pelo menos um par de boas chances na frente de Weverton. O São Paulo funcionou e ganhou bem diante da torcida palmeirense.
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Curioso lembrar que na virada do ano o Flamengo acreditava que Dorival Junior não era a melhor opção para organizar seus talentos, mesmo com o desbunde dos 4 a 0 sobre o Vélez Sársfield na Argentina seguido pelo título de Copa Libertadores num jogo seguro contra o Athletico-PR. Apostou num oposto, o dogmático Vitor Pereira, que não durou muito querendo impor sua ideia sobre uma turma multicampeã. O tempo vai dando razão à capacidade do atual técnico do São Paulo.
Ele tem sua dose de verdade quando diz, em entrevista após o sucesso no Allianz Parque, que o treinador brasileiro é tratado como alguém que apenas encontra resultados, como se as coisas caíssem do céu. Existe um paradigma a ser superado que distingue os comandantes entre os que são mais rígidos no posicionamento tático, como Abel Ferreira, e os que preferem um jogo de mais combinação e técnica com foco na bola, como Dorival. Não surpreende que ele foi preterido por um profissional português mesmo ganhando as duas Copas nas quais assumiu um time no meio do caminho.
Ele ouviu bastante, e é por isso que guarda algum ressentimento, que sua ideia no Flamengo havia sido apenas escalar os de sempre, soltos, fazendo o que seria mais simples. Fosse fácil o time não tinha piorado tanto pouco depois. A partida de Luciano na noite de quinta-feira é um exemplo vivo de que provocar essa liberdade de circulação não é coisa menor, pelo contrário, talvez é o que exija um time ainda mais bem afinado. O camisa 10 está em toda parte, bagunçando os encaixes palmeirenses desde os tempos de Crespo, os estádios ainda vazios por motivo de pandemia.
Dorival no comando do São Paulo
- 22 jogos
- 13 vitórias
- 5 empates
- 4 derrotas
- 66,7 de aproveitamento
É muito interessante que esse jogo mais por dentro do São Paulo, muito baseado no toque de bola encontrando Luciano e Calleri e na projeção dos meio-campistas em passes curtos, é o que mais gera dificuldade nesse Palmeiras de tantos títulos. Abel sempre deu seu jeito de competir em grandes embates contra Flamengo e Atlético-MG, por exemplo, mas contra o vizinho de centro de treinamento a coisa enrosca. São sete derrotas e seis vitórias em duelos do Choque-Rei, de longe sua maior pedra, de ocupar um sapato todo.
Essa eliminação, em especial, pode ser considerada a mais dura derrota do português no comando do clube em que se tornou ídolo. Houve frustrações no meio do caminho, como as taças que escaparam para o Defensa y Justicia e o próprio São Paulo em 2020, além da queda precoce no Mundial, para o Tigres. Mas nada parecido. As outras saídas em Copas tinham sido num jogo atípico contra o CRB, quando o Palmeiras martelou o tempo todo; para o mesmo São Paulo no ano passado, mas nos pênaltis, depois de buscar o resultado; e para o Athletico-PR na Libertadores, com jogador a menos e um gol de empate sofrido no fim.

Dessa vez, de forma inédita, a torcida teve tempo nos acréscimos de lançar gritos de protesto, voltados à diretoria. Pela primeira vez a comissão técnica portuguesa terminou uma partida deste nível sem que o Palmeiras tivesse forças para buscar o resultado, uma evidente diferença para o time que acumulou gols improváveis e reações históricas, tirando barato com a música que canta o time da virada. Nenhuma camisa em fase vencedora parece estar preparada o bastante para o momento de baixa – muito menos um clássico em casa saindo na frente num mata-mata –, e uma sequência pouco inspirada mexe com a cara do time, sem confiança, sem consistência para controlar o jogo e num momento de baixa sintonia com as vitórias que até outro dia soavam até protocolares.
Existe uma diminuição do elenco, um tanto pelo perfil de poucas contratações mas também por algumas novidades não alcançarem o nível da espinha principal. Na frente o Palmeiras liberou Verón, depois Wesley, Merentiel, agora Navarro e Tabata, confiando que seu time de sempre, sem Arthur na Copa do Brasil, dá conta mesmo tendo um banco recheado de garotos. Nem os de cima estão voando, nem os de baixo estão prontos. Foi subestimada a saída de Danilo, e já são sete meses falando sobre a busca por um camisa 5, repetida novamente pelo diretor Anderson Barros após a queda. A bola parada iluminada de Scarpa também não existe mais. O momento sem superioridade física é visível na dificuldade que Dudu e Veiga têm tido nos duelos individuais nas últimas investidas.
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O Palmeiras tem três semanas para se arranjar para as oitavas de final da Libertadores, um repetido encontro com o Galo, começando pelo Mineirão. O São Paulo espera Corinthians ou América-MG para seguir na disputa local com a certeza de que, jogando assim, pode duelar contra qualquer time do país. O Choque-Rei terminou com um chacoalhão de expectativas, ainda que elas estejam aí para serem colocadas à prova, de novo e sempre, numa noite de copa ali na frente.