‘Ronaldo não é um gênio da gestão. Ele não pagou suas dívidas e só ele ganha dinheiro’
Ex-jogador agora é empresário e comanda o Real Valladolid desde 2018; entre 2021 e 2024, foi o dono do Cruzeiro

O desejo de Ronaldo Nazário em se candidatar à presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não durou nem três meses. Após anunciar a candidatura em 16 de dezembro de 2024, o ex-jogador desistiu no último mês de disputar o pleito contra o atual presidente Ednaldo Rodrigues (reeleito posteriormente) por não obter o apoio das federações estaduais.
Se alguns viram a possibilidade do Fenômeno assumir a gestão da entidade máxima do futebol brasileiro com bons olhos por sua história no esporte e pela descrença com a instituição, outros duvidaram por suas administrações ao nível de clubes. Um deles foi o empresário André Cury, um dos principais agentes do mundo.
Para mostrar que o Fenômeno não seria um bom gestor, Cury usou como exemplo as experiências de Fenômeno à frente de Cruzeiro (dono do clube entre 2021 e 2024) e Real Valladolid (2018 até hoje), da Espanha, onde é muito criticado pela torcida e busca a venda de sua participação. As declarações foram dadas em entrevista ao jornal espanhol “As”.
— Ele queria ser candidato, mas não obteve apoio suficiente. Para ser candidato, ele precisava do apoio de quatro federações, e Ronaldo não conseguiu garantir quase nenhuma delas. Ronaldo também não é um gênio da gestão, aí estão Valladolid e Cruzeiro, que causaram prejuízos a todos os jogadores e funcionários do clube, e só ele ganha dinheiro. Ele não pagou suas dívidas — criticou o empresário.

As polêmicas entre o ex-jogador e o empresário não são recentes e acontecem desde 2022, quando Vitor Roque, agenciado pelo profissional, deixou o clube celeste rumo ao Athletico Paranaense após o pagamento da multa rescisória. Inclusive, Ronaldo chegou a criticar o atacante na época, e agora Cury o defendeu ao “As”.
— Antes de Vitor Roque chegar ao Barcelona, ele trocou o Cruzeiro pelo Athletico. Naquela época, Ronaldo nem era dono do Cruzeiro, mas queria se tornar um. Vitor tinha cláusula de rescisão e o Paranaense pagou. Ronaldo criticou Vitor por pagar sua cláusula de rescisão, mas lembrei a ele que quando ele deixou o Barcelona para ir para a Internazionale [em 1997], ele também pagou sua cláusula de rescisão. Qual é a diferença? Você pode pagar, mas o Vitor não? O mundo de hoje mudou completamente — finalizou.
"Sentimento de abandono"
— Trivela (@trivela) November 23, 2024
Torcedores do clube espanhol pedem que o brasileiro venda sua participação assim como fez com o Cruzeirohttps://t.co/pRlFmpuMxa
Por que Ronaldo desistiu de sua candidatura para presidência da CBF?
Após anunciar o desejo de ser presidente da CBF em entrevista à “TV Globo”, Ronaldo encontrou resistência dentro das federações estaduais para conseguir debater sua candidatura. As 27 entidades (incluindo a do Distrito Federal) possuem peso três na votação e só elas podem eleger os presidentes, já que os 20 clubes da Série A do Brasileirão possuem peso dois e Série B peso um. Com as federações satisfeitas com a atual gestão, o ex-jogador decidiu abrir mão de concorrer pelo cargo.
— No meu primeiro contato com as 27 filiadas, encontrei 23 portas fechadas. As federações se recusaram a me receber em suas casas, sob o argumento de satisfação com a atual gestão e apoio à reeleição. Não pude apresentar meu projeto, levar minhas ideias e ouvi-las como gostaria. Não houve qualquer abertura para o diálogo — lamentou Ronaldo.
Em 24 de março, sozinho na disputa, Ednaldo Rodrigues foi reeleito até 2030 com aclamação, pois recebeu todos os votos. Ele ainda pode tentar a reeleição para um novo mandato e seguir no poder até 2034.
Leia abaixo o comunicado completo do Fenômeno sobre sua desistência da presidência da CBF:
Depois de declarar publicamente o meu desejo de me candidatar à presidência da CBF no próximo pleito, retiro aqui, oficialmente, a minha intenção. Se a maioria com o poder de decisão entende que o futebol brasileiro está em boas mãos, pouco importa a minha opinião.
Conforme já havia dito, os meus primeiros passos seriam na direção de dar voz e espaço aos clubes, bem como escutar as federações em prol de melhorias nas competições e desenvolvimento do esporte em seus estados. A mudança necessária viria desse alinhamento estratégico, com a força da visão compartilhada.
No entanto, no meu primeiro contato com as 27 filiadas, encontrei 23 portas fechadas. As federações se recusaram a me receber em suas casas, sob o argumento de satisfação com a atual gestão e apoio à reeleição. Não pude apresentar meu projeto, levar minhas ideias e ouvi-las como gostaria. Não houve qualquer abertura para o diálogo.
O estatuto concede às federações o voto de maior peso e, portanto, fica claro que não há como concorrer. A maior parte das lideranças estaduais apoia o presidente em exercício, é direito deles e eu respeito, independentemente das minhas convicções.
Agradeço a todos que demonstraram interesse na minha iniciativa e sigo acreditando que o caminho para a evolução do futebol brasileiro é, antes de mais nada, o diálogo, a transparência e a união.