Brasil

Abandonado por Luís Castro, Botafogo não conseguiu se encontrar e troca de técnicos prejudicou o ano do clube

Entre efetivados e interinos, o Botafogo teve cinco treinadores diferentes durante uma temporada marcada pelo vexame do time no Campeonato Brasileiro

O Botafogo vivia a sua melhor fase da temporada – e dos últimos anos – quando uma proposta do futebol árabe abalou as estruturas do clube. A saída de Luís Castro enquanto o time liderava, com folga, o Campeonato Brasileiro, mexeu com o torcedor, jogadores e direção. E, desde então, o Botafogo não se encontrou mais. Foram, no total e contando com Castro, cinco treinadores no comando do clube, entre efetivados e interinos. E o resultado não poderia ser diferente: um 2023 frustrante e de vexame no Brasileirão.

Com Luís Castro, que comandava o time desde 2022, quando o clube se transformou em SAF, o Botafogo teve um início de temporada irregular, com um fracasso no Campeonato Carioca, sem nem sequer chegar na semifinal do Estadual. Depois, no entanto, ele deu início a um primeiro turno histórico no Campeonato Brasileiro. Mas o Glorioso foi surpreendido com a decisão do português de deixar o clube por uma proposta milionária do Al Nassr, da Arábia Saudita. Antes da oficialização da saída do técnico, uma novela se estendeu por pouco mais de uma semana, até Castro deixar o Botafogo no fim de junho, quando o time liderava a competição com sete pontos de vantagem sobre o Grêmio, então vice-líder.

Enquanto o Botafogo procurava outro treinador e, depois, aguardava pelo também português Bruno Lage, o time foi comandado pelo interino Cláudio Caçapa por quatro jogos, sendo três deles no Brasileiro e um pela Copa Sul-Americana. Neste período, o Glorioso teve 100% de aproveitamento. Então, com a chegada de Bruno Lage, o time começou a passar por um momento de instabilidade nas duas competições que disputava. Ainda assim, o Botafogo fez o melhor primeiro turno da história do Campeonato Brasileiro, conseguindo abrir 13 pontos do vice-líder Red Bull Bragantino. Mas, logo no começo do returno, a situação começou a desandar.

Bruno Lage deixou o clube após reclamações do elenco do Botafogo (Foto: Icon sport)

Logo depois da precoce eliminação na Copa Sul-Americana para o modesto Defensa y Justicia, o Botafogo foi derrotado pelo Flamengo, em pleno Nilton Santos, acabando com a invencibilidade que o time tinha como mandante no Brasileiro. Depois dali, o time ficou outros três jogos sem vencer, com derrotas para Atlético-MG e Corinthians, e o empate com o Goiás, que foi determinante para a demissão de Bruno Lage. Neste jogo com o Esmeraldino, no Nilton Santos, Bruno Lage escalou Diego Costa como titular e deixou Tiquinho Soares no banco, o que irritou parte do elenco. Depois do jogo, um grupo de atletas se reuniu com a direção e pediu a saída do português, sendo atendido por Textor.

Com o apoio dos jogadores, o então auxiliar técnico Lúcio Flávio assumiu o time de forma interina. Mas as duas vitórias sobre América-MG e Fluminense, que voltaram a fazer o Botafogo abrir vantagem na liderança, fizeram a diretoria optar pela permanência de Lúcio Flávio, apesar de não externarem isso publicamente. Mas as quatro derrotas seguidas, incluindo dois 4 a 3, de virada, para adversários diretos, fizeram a diretoria mudar de ideia. Então, o Botafogo contratou Tiago Nunes para os últimos cinco jogos do ano, em uma desesperada tentativa de salvar o Brasileirão e a temporada do clube. Mas, com quatro empates e uma derrota, o Glorioso não só deu adeus as chances de levantar a taça como também ficou apenas na quinta colocação do Brasileiro e terá que disputar as fases prévias da Copa Libertadores no próximo ano.

As táticas que o Botafogo usou em 2023 e o que elas renderam

Com cinco técnicos diferentes, entre efetivado e interinos, o Botafogo passou por diferentes esquemas táticos. E essa foi uma das grandes questões do clube na temporada. Depois do primeiro turno histórico, Bruno Lage chegou no Glorioso quando o time já tinha uma base praticamente certa, em um 4-1-4-1 (ou 4-3-3, dependendo do momento do jogo). Além disso, o time defendia em bloco baixo. Com Lage, apesar de promessa de uma “transição pacífica”, o técnico logo tentou mudar o time para uma marcação em bloco alto. Assim, o time perdeu uma de suas principais características: defesa sólida e transição rápida para o ataque. Além disso, Lage também tentou fazer mudanças pontuais no time, o que acabou prejudicando a sua relação com o elenco, que não aceitou tais trocas.

Depois de Bruno Lage, Lúcio Flávio tentou voltar ao esquema tático de Luís Castro, mas sem sucesso. Com Tiago Nunes, em uma tentativa desesperada na reta final do Brasileiro, o Botafogo chegou a jogar com três zagueiros e cinco jogadores no meio, mas também sem conseguir reverter a situação da equipe no Brasileiro.

Tiago Nunes chegou no fim da temporada e não conseguiu evitar o vexame no Campeonato Brasileiro (foto: Vitor Silva/Botafogo)

O que esperar do comando técnico do Botafogo em 2024?

Apesar de ter chegado no Botafogo com a esperança de uma reviravolta na briga pelo título, Tiago Nunes foi contratado de olho em um projeto de longo prazo. Assim, mesmo com o fracasso no Brasileirão, o treinador continua prestigiado pela diretoria. Com mudanças no elenco e prováveis mudanças na estrutura do clube, na transição com a base, o Botafogo vai iniciar um projeto praticamente do zero em 2024, mas com a base do elenco de 2023.

Foto de Gabriel Rodrigues

Gabriel RodriguesSetorista

Jornalista formado pela UFF e com passagens, como repórter e editor, pelo LANCE!, Esporte News Mundo e Jogada10. Já trabalhou na cobertura de duas finais de Libertadores in loco. Na Trivela, é setorista do Vasco e do Botafogo.
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