Palmeiras precisa sair de hipnose para não ser ‘time da Leila’, diz rival na eleição
Savério Orlandi será o candidato da oposição no pleito contra a atual mandatária do Palmeiras
É para tirar o clube do que chama de um “processo de hipnose”, que o advogado Savério Orlandi, 53, aceitou concorrer à presidência do Palmeiras contra Leila Pereira, em novembro deste ano.
– Não é exagero falar isso. Às vezes, conversando com os companheiros do conselho (deliberativo), você chama atenção para uma coisa ou outra que não está certa, e é claro que há uma dificuldade muito grande de entendimento e de assimilação — relatou ele, em entrevista exclusiva concedida à Trivela.
— Em alguns casos, ao final, depois de mostrar tantos elementos, você consegue que isso aconteça, você consegue mostrar o que não está certo. E o cara vai até concordar, mas vai dizer: “Mas tá tudo funcionando tão bem…”
Savério foi dirigente em gestão campeã
Fazia calor na tarde de terça-feira (10), quando a reportagem se encontrou com o candidato em uma loja de produtos do Palmeiras, em um espaço emprestado, a poucos metros do clube social, no bairro da Vila Pompeia, zona oeste de São Paulo.
A temperatura, o ar seco e os diversos momentos de indignação de Savério eram aplacados por dois ventiladores que espantavam um perene cheiro de fumaça, embora nada estivesse em chamas nas proximidades.
Mas nem só de indignação viveu a conversa. Foi muitas vezes difícil, inclusive, trazer o candidato de volta às perguntas.
Entre as propostas para tirar o Palmeiras do que ele considera ser a incômoda posição de mais uma empresa da holding “Crefipar”, que engloba as empresas de Leila Pereira, Savério sempre se lembrava de uma e outra passagem marcante como torcedor e sócio do clube.
— Às vezes, eu conversava com o Toninho (Cecílio): como que pôde, aquele time de 1989, não ter sido campeão — relembrou, falando dos diálogos que tinha com o ex-capitão da equipe que tanto viu jogar nos anos 1980. Cecílio veio a ser seu gerente de futebol no Palmeiras campeão paulista de 2008, quando Savério foi diretor de futebol do clube, na gestão de Affonso Della Monica.
Palmeirense de terceira geração
Em comparação a Leila, esse talvez seja o maior diferencial do candidato da coalizão de oposição. Savério é um palmeirense de terceira geração, que frequenta as famosas alamedas desde 1983. Que já foi um dirigente vencedor. Assim como é um frequentador do estádio há mais de 40 anos, hábito que ele teme ter que abandonar temporariamente, dependendo de como a eleição do Palmeiras acabar.
— Já falei aos meus filhos: vão se preparando, porque pode ser que a gente fique sem poder ir por uns três anos — disse.
Savério faz alusão ao receio de que seu plano Avanti de conselheiro seja suspensos pela atual diretoria, em caso de ele sair derrotado das urnas. Não é um receio sem lastro.
Outros oposicionistas já sofrem tal sanção, desde que pediram vistas do contrato do Palmeiras com a Placar Linhas Aéreas, empresa da presidente Leila, cujo avião transporta o time.
Há três anos, não houve consenso quanto à sua candidatura
Há três anos, Savério também foi o nome que surgiu quando Leila se candidatou ao primeiro mandato. Na ocasião, porém, não houve um consenso. E Leila acabou concorrendo sozinha.
— Ali, eu me lancei, mas não havia uma convergência em torno do meu nome. Fomos tentando conseguir esse apoio, e não funcionou. Neste ano, é diferente. Meu nome foi surgindo dentro das outras correntes. Nos reunimos, aparamos as arestas, e só então a gente foi a público — explicou.
E por que concorrer em 2024?
— Nesse momento, a ideia é trazer uma alternativa. É sair desse lugar, que só foi piorando nesse tempo todo. Talvez, eu possa te falar uma coisa agora, por exemplo, que eu não podia te falar em 2021. Do tipo: como é que nós vemos o Palmeiras hoje? Nós vemos o Palmeiras como uma empresa, um CNPJ dentro da holding Crefipar, parte do grupo econômico da Leila Pereira.
— Tem uma empresa de táxi aéreo, que é a Placar. Tem uma concessão de equipamento público, a Arena Barueri. E tem um time de futebol, que é o Palmeiras — afirma.
Crefisa e Leila tiveram suas contrapartidas
Savério Orlandi não despreza tudo que Leila Pereira fez pelo Palmeiras. Afinal, como colega de faculdade do ex-presidente Paulo Nobre, fez parte do grupo que fechou o primeiro contrato de patrocínio com a Crefisa.
Mas chega a perder a calma com o que chama de inversão de narrativa.
— Ela veio para o Palmeiras (como patrocinadora) porque tinha interesse nisso. Tem muito valor, foi e é importante para o Palmeiras. Só que houve uma cooptação. E essa cooptação hoje permite que a pessoa fale assim, “eu coloquei R$ 2 bilhões no Palmeiras”. E ela não colocou R$ 2 bilhões no Palmeiras se tem um relacionamento comercial com o Palmeiras — questiona Savério.
— Um relacionamento que foi muito profícuo para as empresas dela e para ela pessoalmente. Se ela pagou, é porque tinha algum interesse. E nós demos a nossa contrapartida. Então, pare com essa relação de mendicância, essa coisa que, com o passar do tempo, vai se acentuando, a permitir que ela dê uma entrevista como em outubro do ano passado, dizendo que se ela sair, o clube vai para o buraco. A fazer uma festa de 110 anos e passar um filme que não conta a história de 110 anos da história do clube, mas sim dos três anos da gestão dela.
— Isso é inaceitável. Quando se tem um convidado, uma autoridade, como tinha inclusive. Vamos passar o filme em alusão à nossa história de 110 anos. O cara fecha o olho e ele vai esperar ver o gol do Ronaldo (na final do Campeonato Paulista de) 74. Vai lembrar do gol do Zinho (na final do Paulista de) 93, caindo com a perna direita. E, porra, não vê nada disso! – brada.
O que Savério pensa para o futuro do Palmeiras?
Próximo patrocinador-máster
Se eleito, Savério pode ter a Crefisa como patrocinadora, já que o clube bate o martelo sobre o próximo contrato em outubro.
— Há três anos, os R$ 81 milhões da Crefisa tinham um outro peso, e até foram um paradigma para outros clubes. Hoje, o valor está muito defasado. Se tivesse sofrido apenas correção monetária, segundo cálculos que fizemos, estaria em, no mínimo, R$ 130 milhões anuais. É por esse valor de início, que temos que brigar.
Relação com as organizadas
Savério quer estar à frente do relacionamento com as organizadas do Palmeiras. Quer participar da pactuação com as entidades por entender a importância do papel social que elas desempenham no futebol. E entende que a marginalização, como acredita que ocorre hoje, torna mais difícil a inserção delas no ambiente atual.
— Os promotores que tanto mandam prender, porque não chamam as organizadas dos outros clubes e as fazem trabalhar juntas em alguma ação social? Todas se engajaram na questão das enchentes do Rio Grade do Sul, por exemplo. Será que se trabalhassem juntas, carregando caminhões, em outras questões, não brigariam menos?
Abel Ferreira
O candidato entende que o treinador faz um excelente trabalho e gostaria de contar com ele em caso de ser eleito. Mas não sabe ao certo se o treinador terá este desejo.
Cerco ao redor do estádio em dias de jogos
— O torcedor do Palmeiras sabe acatar as determinações quando entende que elas o beneficiam e beneficiam o clube, não tenho dúvida. Eu vou fazer de tudo para que não haja mais o cerco. A Rua Palestra Itália (onde ficam o clube e o Allianz Parque), não pode ser acessível apenas a quem tem ingresso. Agora, se as tentativas não derem certo, a gente não terá como fazer.
Dívida envolvendo Allianz Parque e WTorre
— O caminho é seguir tentando um acordo (pela quitação da dívida da empresa com o clube) e se aproximar da WTorre. Há problemas no funcionamento em dias de jogos, lanchonetes com muita fila, produtos que se esgotam, que temos que melhorar. E também é interesse deles. É um contrato de 30 anos, do qual um terço já passou. E só faz sentido se as duas partes saírem ganhando.
— Outro ponto são os lugares marcados. Ou serão marcados, ou não serão, mas é algo que tem que ser pactuado. Se você coloca o pé na grade, rapidamente alguém vem te tirar. Mas se você se queixa que sentaram no seu lugar comprado, eles dizem que nada podem fazer.