Por que os camisas 10 da base do Palmeiras não rendem na função no profissional?
Meias de criação não tiveram espaço no time quando subiram para o time de Abel Ferreira
Desde a chegada de Abel Ferreira ao Palmeiras, 39 jogadores formados no clube foram utilizados ao menos uma vez pelo técnico no time profissional.
Destes, 24 foram puxados da base pela sua comissão. Vitor Castanheira é o auxiliar de Abel responsável pela ligação entre a base e o profissional.
Mas, exceto por alguns minutos ou em jogos em que apenas jogadores do sub-20 foram utilizados, nunca houve um atleta formado no clube atuando na função de camisa 10 sob comando português.
Houve promoção de jogadores que atuavam como 10 no sub-17 e no sub-20. Mas, ao chegarem no profissional, tais jogadores acabaram indo para a ponta.
Jhon Jhon e Estêvão (ainda) não tiveram chances pelo setor
Os casos mais recentes foram os de Jhon Jhon, vendido ao Red Bull Bragantino, Luis Guilherme (West Ham) e Estêvão, que segue no grupo e está com a seleção brasileira no momento.
Jhon foi o grande comandante do sub-20 em 2022 e melhor do campeonato na conquista da Copa do Brasil da categoria naquele ano. Mas, ao ser promovido, virou ponta com Abel e não se destacou. Chegou até mesmo a ser aproveitado como volante.
Até por ser um fora-de-série geracional, Estêvão se destaca muito como ponta pela direita. Mas, na base, inclusive quando ainda estava no Cruzeiro, o futuro jogador do Chelsea sempre atuou como camisa 10.
Luis Guilherme teve poucos minutos e fez um gol
Luis Guilherme foi mais um meia a ser deslocado para a ponta por Abel. Até nas seleções brasileiras de base, Luis sempre brilhou na função. No Palmeiras, entretanto, teve poucos minutos na posição que era sua preferida, como o próprio Abel revelou.
Foi com tal posicionamento que ele fez o gol que deu a virada ao Palmeiras sobre o Independiente del Valle (3 a 2), pela Copa Libertadores deste ano.
Parte dessa falta de espaço é por conta de Raphael Veiga. O jogador mais decisivo da Era Abel só foi perder a titularidade — e por dois jogos — neste ano.
Assim, para poder usar os jovens, o português os colocava em funções em que eles também sabiam jogar, mas que não eram suas especialidades primordiais.
Allan, atual 10 do sub-20, não foi citado por Abel
Após a vitória sobre o Grêmio pelo Campeonato Brasileiro, Abel revelou que Benedetti (zagueiro), Figueiredo (volante) e os atacantes Thalys e Luighi subirão ao profissional em 2025.
Já Allan, o camisa 10 da equipe que conquistou o brasileiro da categoria há um mês, não foi citado. O meia-armador é um dos poucos do time a estourar a idade limite no fim deste ano.
Se não for absorvido pelo Palmeiras, Allan terá de ser emprestado ou negociado na próxima temporada.
Palmeiras quer formar meias em casa
Nesta semana, viralizou uma declaração do diretor João Paulo Sampaio sobre uma decisão tomada em relação às categorias de base do Palmeiras.
Em entrevista ao podcast Denílson Show, o grande responsável pela transformação da base alviverde no maior polo de formação de jogadores de alto nível o Brasil revelou:
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— É uma das coisas que eu brigo. Hoje, na base, está quase que proibido isso: pegar esse melhor jogador e colocar no canto. Quero que ele pegue mais na bola. Porque ele dribla e erra, e o treinador quer colocar ele no canto. Aí você vai na Argentina para pegar um 10, baixinho, driblador, que chega na área — disse ele.
— O Botafogo pagou agora, maior compra da história do Brasil [Almada], Arrascaeta… A gente pega esses jogadores e coloca do lado. Aí eu proibi isso — completou, antes de citar o caso de Estêvão:
— O próprio Estêvão é 10. Mas, para se proteger e proteger eles, a gente coloca eles de ponta. Hoje, no Palmeiras, tem uns cinco ou seis nomes que só jogam por dentro. É muito mais fácil ele ir depois para a beirada. Se eu vou na América do Sul atrás desse meia, vamos fazer aqui
Não faz muito tempo, meias se tornavam volantes
A mudança de estratégia é mais emblemática do que pode parecer em um primeiro momento. Não faz muito tempo, o Palmeiras tinha como hábito recuar os camisas 10 para jogarem como volantes. O objetivo era criar jogadores box to box habilidosos e muito qualificados na construção de jogadas.
Foram os casos de Patrick de Paula, atualmente no Criciúma, Danilo (Nottingham Forest) e Fabinho, que segue no clube é opção de primeiro volante.
Patrick, que tinha o apelido de Pelé, e Danilo, chamado de Neymar, relutaram em aceitar a diretriz do treinador Wesley de Carvalho, que comandou o sub-20 alviverde até 2022. Já Fabinho acabou recuado por Lucas Andrade, que é o atual treinador do Sub-20 do Palmeiras.
Atualmente, Rafael Coutinho, o camisa 5 do sub-20, autor de dois gols na final do Brasileiro da categoria (3 a 0 sobre o Cruzeiro), chegou a ser citado por João Paulo Sampaio como mais um atleta da base com qualidade para ser 10.