Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, morreu nesta quinta-feira, vítima do único adversário que ele nunca conseguiu driblar. O câncer de cólon que tratava desde o ano passado espalhou-se para outros órgãos e deixou a nação brasileira órfã do melhor que conseguimos produzir: o maior jogador do esporte mais popular do mundo. Quatro letras que percorreram o globo, veneradas onde o futebol é importante, conhecidas mesmo onde não é. O garoto negro que saiu do interior de Minas Gerais e por puro talento foi coroado Rei.
O Rei está morto.
Pelé viveu 82 anos em sua forma física. Foi tempo suficiente para ser tudo. Garoto-prodígio que ganhou a Copa do Mundo aos 17 anos dando chapeuzinho dentro da área, um craque tão espetacular que o Santos excursionava para exibi-lo, autor de mais de mil gols e alvo de zagueiros truculentos que limitaram sua presença em dois Mundiais, mas ao mesmo tempo permitiram que alguém que só conheceu a excelência durante a sua carreira profissional tivesse uma volta por cima como o líder do tricampeonato no México.
Impossível dissociar Pelé do clube que ele decidiu que seria o único da sua vida. É verdade que jogou no Cosmos, pioneiro para abrir as portas do mercado norte-americano, mas Pelé é do Santos, e o Santos, grande antes dele, entrou no imaginário coletivo dos anos sessenta graças a Pelé. John, Paul, George e Ringo na música, Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe no futebol. Tornou a camisa branca um símbolo tão forte do futebol brasileiro quanto a amarela.
Aposentado, parou de ser capaz de encantar com a bola nos pés, e sobraram as controvérsias de uma enorme figura pública. Foi ministro, teve questões pessoais sérias e relações próximas com a hipocrisia do poder. Um comentarista esportivo que nunca acertava as suas previsões, cobrado para fazer mais pela luta contra o racismo. No fim das contas, era um senhor que se expunha mais do que um senhor costuma se expor, cujas frases sempre repercutiram mais do que as frases de outras pessoas costumam repercutir.
Criou-se a separação, a dupla personalidade, como uma maneira de preservar o mito das falhas do ser humano, mas Edson era o porta-voz da opinião de Pelé. Sobre futebol, sobre racismo, sobre qualquer coisa, era a opinião de Pelé, e o mínimo que a gente poderia fazer era ouvi-la, mesmo que a considerássemos errada. Quando a mortalidade chegou, as contradições ficaram menores. Pelé se transformou no vovô da nação que precisava de apoio para cuidar da sua saúde e publicava fotos sorridentes nas redes sociais, com legendas de tiozão, para tranquilizar os seus milhões de netos.
Pelé se foi, mas personagens tão grandes continuam vivos em suas histórias. É impossível encontrar alguma que ainda não foi contada. Vamos tentar, juro, mas enquanto isso, fique com uma compilação de textos que publicamos sobre o maior reforço que o time de futebol do outro mundo já contratou.
Maradona, Di Stéfano, Johan Cruyff, Eusébio, seu parceiro Garrincha, seu parceiro Coutinho, seu ídolo Zizinho, Puskas, Leônidas da Silva, e todos os outros titulares estão de braços abertos para recebê-lo.
Vida eterna ao Rei.
A construção do mito
Há 60 anos, o prenúncio da mais sublime história era dado: Pelé fazia seu primeiro gol
Aos 16 anos, eclodia o Rei: Como os jornais da época viram a estreia de Pelé na Seleção
O texto profético de Nelson Rodrigues que coroou Pelé três meses antes da Copa de 58
Pelé, sublime, em duas vitórias lendárias do esquadrão alvinegro: As lembranças do Santos x Boca na final de 1963
O jogo da seleção brasileira em que Pelé e Garrincha estiveram mais próximos de perder
Ato a ato, a eternização da lenda: como Pelé atingiu o ápice de sua grandeza na Copa de 70
Reconhecimento ao Rei
Bastou Pelé ficar doente para nos lembrarmos do quanto o amamos
Podem torcer o nariz por diversos motivos, mas Pelé é o melhor nome para acender a Pira
Pelé além das fronteiras
Quantas Bolas de Ouro Pelé teria se pudesse concorrer? Nós damos a resposta
E se Pelé tivesse sido vendido para o Real Madrid?
Pelé na Champions? Cinco gigantes europeus que quiseram tirar do Santos o Rei
Não fosse o Santos, Pelé teria transferência recorde até hoje
Em 1975, Pelé estreava pelo Cosmos e fazia americanos amarem o futebol
Pelé e as artes
Drummond, Tom Jobim, Warhol, Henfil: Os 75 anos de Pelé por 10 craques das artes e da cultura
Mais uma para a conta de Pelé: o dia em que o Rei quebrou um dedo de Stallone
No aniversário de Pelé, divirta-se com suas incursões musicais
O milésimo
O outro lado do milésimo gol de Pelé: o pênalti que não aconteceu, segundo seu autor, Fernando Silva
Recortes do passado: Como os jornais da época contaram a história do milésimo gol de Pelé