Sistema de notas, quem são os analistas e mais: como funciona o Sofascore?
O aplicativo croata tornou-se “queridinho” no futebol brasileiro, sendo chancelado por clubes, atletas e torcedores
Os aplicativos para acompanhar estatísticas e resultados de eventos esportivos tornaram-se febre entre os fãs de futebol. Hoje, é muito comum encontrar torcedores que utilizam dessas ferramentas para saber datas e horários de jogos, acompanhar o desempenho dos atletas e o que acontece no mundo da bola. E dentro destes apps, um tem se destacado especialmente no Brasil: o Sofascore.
Além de cair nas graças das torcidas de futebol, o Sofascore é também muito utilizado por jornalistas, assessorias de atletas e clubes para diversos fins. Seja para embasar análises, exaltar desempenho ou analisar até mesmo as partidas mais difíceis de se acompanhar.
Afinal, não é em todo lugar que se encontra o tempo real de uma partida do Campeonato Sammarinese. Aliás, para os fãs do futebol de San Marino, no momento em que escrevo esta matéria, o La Fiorita vence o San Giovanni por 2 a 1, fora de casa. Mas são apenas 25 minutos do primeiro tempo. Tudo pode acontecer.
São mais de 25 milhões de usuários atualmente, quase três milhões de jogadores avaliados e mais de 20 mil torneios cobertos até aqui, na história iniciada em 2010 e que ganhou nome e forma em 2012, em Zagreb, na Croácia.
Porém, mesmo com notoriedade e número de usuários tão grandes, o Sofascore ainda é um mistério para muitas pessoas, que não sabem detalhes do seu funcionamento. Várias perguntas sobre o app e seus pares costumam pairar no ar:
Como funciona o sistema de notas? É possível tirar nota zero? Têm analistas em todos os jogos cobertos? Entre tantas outras.
Buscando responder alguns destes questionamentos, a Trivela conversou com Jonatas Berto (@jonatas_berto), de 26 anos, jornalista e colaborador do aplicativo, que nos contou várias especificidades do seu trabalho.
Como funciona a captação de dados para o Sofascore?
Perguntado sobre como está estruturado o sistema de captação de dados para o app, Jonatas Berto explicou que o Sofascore tem pessoas responsáveis por inserir informações como posse de bola e finalizações, além dos dados mais complexos, como o mapa de chutes, número de passes, porcentagem de acerto em desarmes e a “linha de pressão”, que tenta ilustrar qual equipe está melhor no jogo.
— É importante citar que existem “scouts” estatísticos. São profissionais terceirizados, que cobrem os jogos em tempo real. Como é humanamente impossível uma empresa só cobrir todos os jogos do país, esses scouts ajudam a plataforma a ter o maior número possível de partidas sendo registradas em tempo real.
Jogos de divisões inferiores, torneios regionais e futebol feminino só têm cobertura no aplicativo por causa do trabalho dos scouts e colaboradores. Por ser um serviço com profissionais de outras empresas, o Sofascore costuma utilizar apenas os dados mais relevantes registrados nos jogos com este tipo de cobertura, como o placar em tempo real, o número de cartões e escanteios — explicou Berto.
Como é feita a contagem das estatísticas?
Jonatas explicou à Trivela que, por ser um colaborador e não um analista do Sofascore, não possui acesso às ferramentas de estatística utilizadas pelos funcionários contratados. Porém, avaliou que a maneira que a empresa coleta os dados é extremamente profissional, podendo ser comparada até mesmo com a forma de atuação de analistas de dados em clubes de futebol.
— A cobertura é completa. São contabilizados os dados quantitativos, como número de passes, desarmes e chutes. Também existem os dados qualitativos, como os chutes certos, e o “expected goals“ (xG), uma métrica usada para medir o real perigo que um chute levou ao gol adversário.
Não posso me esquecer do mapa de calor, que informa com precisão o posicionamento de um jogador em campo, e o posicionamento médio da equipe como um todo — afirmou Berto.
Para ele, essa riqueza de dados, que vão além dos citados, dão credibilidade à plataforma, por permitirem análises técnicas e completas sobre um time, indo muito além do placar do jogo e a posse de bola.
O sistema de notas do Sofascore
As notas do Sofascore são, talvez, o ponto que mais aguça a curiosidade dos fãs de futebol. Jonatas contou que elas funcionam de uma forma complexa, mas bem estruturada. Como os jogadores também recebem um scouting detalhado sobre sua exibição, é possível determinar o quão bem — ou mal — o atleta está em campo, e definir para ele uma nota.
— Todos os jogadores começam a partida com nota 6.5, e, a partir daí, o número cresce ou abaixa. A maneira como a pontuação é distribuída varia, dependendo da posição do atleta. Para avaliar um defensor, há um peso maior caso ele ganhe muitas disputas defensivas, rebatidas e desarmes. Já para um atacante, é esperado que ele chute a gol várias vezes, ganhe disputas pelo alto para cabecear, não perca disputas com defensores, tenha uma boa precisão em dribles e não perca a bola.
Existem as ações que aumentam a nota de qualquer jogador, como marcar um gol, dar uma assistência e sofrer um pênalti. Outras ações diminuirão a nota de todo jogador, independentemente de sua posição em campo, como tomar um cartão, cometer uma falta ou fazer gol contra — conta Jonatas Berto.
O que o jogador precisa fazer para ganhar uma nota 10 no Sofascore?
As notas 10 do Sofascore costumam gerar polêmicas. E diferentemente do que muitos fãs de Cristiano Ronaldo afirmam, não basta “apenas ser o Lionel Messi” para conseguir a avaliação máxima no aplicativo.
— Os fatores que levam um jogador a tirar nota 10 no Sofascore são bem variáveis. Mas a forma mais fácil sempre será marcar muitos gols. Recentemente, o atacante Viktor Gyokeres, do Sporting, conquistou a “nota perfeita”, ao marcar quatro gols contra o Estrela Amadora, no Campeonato Português.
Aqui no Brasil, o Pedro, do Flamengo, tirou nota 10 num jogo do Campeonato Carioca, mesmo marcando três gols (um a menos que o Gyokeres). Mas a nota é totalmente justificável, pois Pedro acertou todos os dribles que deu (3), gerou 2,05 “Expected Goals” (xG), deu 8 chutes e três “passes-chave” — aqueles que geram grandes chances de gol — explicou Jonatas.
— Afunilando mais ainda o exemplo, tivemos o Matheus Pereira, do Cruzeiro, tirando uma nota 9.2 este ano contra o Cuiabá, pois além de marcar um gol e dar uma assistência, também foi o jogador da Raposa que mais tocou na bola, além de distribuir cinco passes-chave, criar uma grande oportunidade de gol e ter acertado 86% dos passes.
O meia Pedrinho conquistou uma nota 10 na goleada de 4 a 0 do Atlético-MG contra o Caracas. O jogador fez dois gols e deu uma assistência e também foi extremamente participativo em campo — completou o jornalista.
É possível receber uma nota 0 no Sofascore?
Jonatas Berto contou que não é possível tirar nota 0 no Sofascore. Segundo ele, a menor nota possível é 3. Para que um jogador tire a nota mais baixa possível, ele precisa ter uma exibição desastrosa. Errar muitos passes, cometer muitas faltas, fazer gol contra, perder grandes chances de gol ou ser expulso.
Recentemente, tivemos duas notas mínimas em jogos do Cruzeiro. Rafa Silva, expulso com três segundos de jogo na partida contra o Athetico-PR, e Luís Advíncula, expulso no primeiro minuto do confronto entre a Raposa e o Boca Juniors, foram “premiados” com a nota mínima.
— O Rafa Silva teve a nota 3 porque sua exibição configurou um dos casos mais extremos de uma má exibição. Ser expulso antes de dez segundos, sem sequer tocar na bola, talvez seja o pior tipo de atuação possível de um atleta profissional.
É importante citar que o Sofascore geralmente precisa de dez minutos de jogo para gerar notas para os jogadores. Mas o caso do Rafa Silva foi tão extremo, que mesmo tendo jogado por menos de um minuto foi possível gerar uma nota. Advíncula passou por situação semelhante — apontou Jonatas.
Curiosidade: estatisticamente, os jogadores que jogam “muito mal” um jogo não costumam ficar abaixo da nota 5. Qualquer nota abaixo de 5 é difícil e notas abaixo de 4 são raras. A nota 3, dentro da cobertura feita pelo Sofascore, é considerada raríssima. Só mesmo uma atuação tão desastrosa para poder receber essa avaliação. Confira no gráfico:
Por que o Sofascore faz tanto sucesso?
Jonatas entende que o Sofascore só consegue fidelizar tantas pessoas por ter uma riqueza não só de estatísticas, mas também de eventos históricos registrados. É um lugar onde se encontram informações que vão da Champions League até a terceira divisão carioca.
— O Sofascore é o ponto de encontro para quem gosta de futebol, futsal, basquete, tênis, vôlei, handebol, futebol americano, críquete, automobilismo e outros esportes. Tudo isso de graça e com uma interface que facilita a pesquisa. Em 30 segundos, você encontra desde o último jogo do seu time do coração, até uma partida aleatória da Copa do Mundo de 1986.
É a junção do jornalismo moderno com o jornalismo cidadão. Qualquer pessoa pode baixar o editor do Sofascore e tornar-se um colaborador, entrando com informações e placares de jogos regionais ou até competições amadoras. Foi assim, por exemplo, que consegui adicionar dados históricos e fazer uma cobertura completa da última divisão do Campeonato Mineiro e as duas divisões do Campeonato Mineiro Sub-20 — apontou o jornalista.
Fluminense fechou parceria oficial com o app
Existem vários clubes e campeonatos que utilizam o Sofascore, de forma oficial, e de diferentes maneiras. No Brasil, o Fluminense fechou recentemente uma parceria para exibir informações e estatísticas dos jogos do clube em suas plataformas digitais, incluindo a TV oficial do clube.
O Flu também virou colaborador no Sofascore Editor, onde a própria instituição coloca dados de jogadores, formações e detalhes dos jogos disputados pelas categorias de base.