Jogador perdeu casa, mas ganhou filha durante enchentes no Rio Grande do Sul
Dois dias após ter a casa alagada em Esteio, Patrick acompanhou o nascimento de Maria Clara, sua segunda filha, em Porto Alegre
Uma vida vale mais do que bens materiais. É isso que faz Patrick sorrir mesmo em meio à tragédia. Durante as enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul, o centroavante de 25 anos, que já passou por Internacional, Novo Hamburgo e Lajeadense, perdeu a casa, mas acompanhou o nascimento da segunda filha, Maria Clara.
O drama começou na sexta-feira (3), véspera do dia previsto para Cristiane, esposa de Patrick, dar à luz. Pela manhã, já com os boatos de que as ruas de Esteio, na região metropolitana de Porto Alegre, poderiam inundar, o cunhado do jogador foi até sua casa e pediu que empacotassem o enxoval da maternidade e o acompanhassem, já que ele seria o responsável por levar o casal para o hospital no sábado (4).
Ao abrigar Cristiane na casa do cunhado, Patrick foi para a rua auxiliar nos resgates na Vila Osório. Por volta das 13h, o jogador recebeu ligação do outro cunhado, que também é seu vizinho. Ele contou que a água estava subindo na rua em que eles moram, e o recomendou que fosse urgentemente para lá levantar o que conseguisse.
Patrick conseguiu resgatar algumas roupas das filhas e da esposa
– Quando eu chego lá para subir as coisas, a água já estava toda dentro de casa, já estava na canela. Foi uma correria, tentei levantar algumas coisas, fogão, geladeira… tentei tirar o que podia ali, só que a água estava subindo, e a prioridade eram as coisinhas das minhas filhas. Tinham roupinhas, tinham algumas coisinhas de cunho pessoal. Coisa material, mas que era sentimental para a gente, sabe? – explica Patrick à Trivela.
Assim como tantos outros moradores do Rio Grande do Sul que não residem em regiões nas quais habitualmente existe risco de alagamento, Patrick não imaginou que a água pudesse subir tanto em sua casa.
– Geralmente nunca subiu ali. Tem uma moça que mora lá na rua faz mais de trinta anos, e ela falou que nunca sequer alagou ali na rua. Imagina subir do jeito que subiu – comenta o jogador.
Rua de Patrick foi inundada pela enchente
Durante a tarde de sexta-feira (3), a água se alastrou rapidamente na casa de Patrick. Ele retornou às 15h para ver se conseguia subir mais alguns itens. Mas pouco podia ser feito. O jogador pegou um lençol, onde colocou roupas de sua esposa e sua filha, e ainda ajudou seu cunhado antes de evacuar definitivamente da rua, às 17h.
– Saí dali e a casa já estava devastada. A água já estava muito, muito alta. E à noite caiu a ficha para a gente, que realmente perdemos tudo, que alagou e não tem mais o que ser feito. Tu via os vídeos, as notícias… De madrugada, às 2h30min, uma mulher que morava na diagonal da nossa casa, pedia resgate, e ela morava no segundo piso. Tiramos por base. Se uma pessoa que está no segundo piso pede resgate, imagina como a nossa casa deve estar – refletia.
Parto aconteceu no domingo, dia 5 de maio, em Porto Alegre
Cristiane não estava bem, e o parto, que seria no sábado (4), passou para domingo (5). Maria Clara nasceu no Hospital Divina Providência, em Porto Alegre, às 14h36min. Uma alegria em meio à tristeza. Um sopro de vida em meio à destruição.
Mas o drama não havia terminado. Na terça-feira (7), após Cristiane receber alta, a família deixou o hospital, na capital gaúcha, às 13h. Devido aos transtornos que as enchentes causaram nas rodovias, eles só conseguiram chegar em Esteio às 22h. O problema era o lugar para ficar. Para não preocupá-los, o cunhado de Patrick não tinha avisado que sua casa estava sem luz e água e também corria risco de alagamento.
Patrick e sua família estão na casa de casal de amigos, em Pinheira/SC
Foi então que um casal de amigos entrou em contato disponibilizando casa para a família do jogador na praia de Pinheira, em Palhoça, Santa Catarina. Eles viajaram imediatamente, e lá se encontram enquanto o Rio Grande do Sul busca se reconstruir.
– Não tinha como a gente ficar nessa situação com duas filhinhas pequenas. Por isso, acabamos vindo para cá, para Santa Catarina. Graças a Deus os amigos nossos conseguiram que a gente ficasse aqui sem custo nenhum. Ainda vão nos ajudar a estar aqui. Um negócio que não tem o que falar. Foi Deus que conseguiu nos trazer para cá, para Santa Catarina, para gente ficar aqui esses dias – agradece Patrick.
Os amigos garantiram a segurança por um tempo. Mas quando a chuva passar, a família de Patrick precisará de ajuda. Até porque o jogador está sem clube desde que deixou o Nacional-AM, por quem disputou o último Campeonato Amazonense.
- Chave PIX de Patrick: 81995938548 (celular)
Tragédia climática no Rio Grande do Sul já deixou mais de 100 mortos
Os temporais que iniciaram no último dia 29 de abril no Rio Grande do Sul já deixaram 116 mortos, 143 desaparecidos e 756 feridos, conforme o último levantamento da Defesa Civil, divulgado no início da tarde desta sexta-feira (10). Há 408,1 mil pessoas fora de casa. Desse total, são 70.772 em abrigos e 337.346 mil desalojados (pessoas que estão nas casas de familiares ou amigos). 437 dos 497 municípios do estado registram algum tipo de transtorno.