Brasil

Mais do que promover jovens no Internacional, Roger sabe o que eles precisam ouvir

Oportunidades para Gabriel Carvalho e Ricardo Mathias têm sido uma das principais marcas do começo de trabalho do treinador no Colorado

O trabalho no Internacional ainda é incipiente, e a primeira vitória veio apenas no sexto jogo, na virada por 2 a 1 sobre o Juventude, na última quarta-feira (14), no Beira-Rio, pelo Campeonato Brasileiro. Mas se Roger Machado tem um mérito até aqui no comando é o trabalho com jovens das categorias de base.

O meia Gabriel Carvalho, de apenas 16 anos, que havia entrado em somente um jogo sob o comando de Eduardo Coudet — com direito a assistência, na derrota por 2 a 1 para o Vitória –, não só se tornou titular com Roger, como também um dos protagonistas da equipe.

Em meio ao pior momento da equipe na temporada, em sequência que chegou a 12 jogos sem vitória, Gabriel Carvalho chamou a responsabilidade. Deu assistência no empate em 2 a 2 com o Athletico-PR, e foi um dos melhores campo, com belos passes, lançamentos e dribles no triunfo sobre o Juventude.

Além de Gabriel, outro jovem jogador que tem recebido seus primeiros minutos como profissional é Ricardo Mathias. O centroavante de 18 anos entrou na reta final dos dois últimos jogos do Inter.

Mas mais do que dar oportunidades aos garotos, Roger demonstra saber aconselhá-los. Após a vitória sobre o Juventude, o treinador revelou parte das conversas que vem tendo tanto com Gabriel Carvalho quanto com Ricardo Mathias.

Roger não quer que Gabriel Carvalho ‘aceite privilégios'

Com Gabriel Carvalho, que no mês passado renovou contrato até 2028, com multa rescisória superior a 60 milhões de euros (cerca de R$ 360 milhões pela cotação atual), e tem empolgado a torcida colorada, Roger quer evitar o deslumbramento.

— Por vezes, na sua formação, por eles decidirem jogo a favor, lhes é oferecido alguns privilégios por estarem em campo e não precisarem participar de determinadas fases do jogo. […] Eu não farei, mas quando eu não estiver mais aqui, que ele nunca aceite. Porque aqueles que podem mais na minha opinião tem que oferecer mais sempre — disse Roger.

— Os privilégios que ele vai ter serão um contrato melhor do que o dos outros, ele vai receber carinho maior do torcedor do que os demais. Mas dentro de campo ele tem que oferecer sempre mais em todos momentos da partida — acrescentou.

Gabriel Carvalho tem encantado Roger pela inteligência e entrega

Apesar da cautela, Roger não esconde o encantamento com Gabriel. Não apenas pela qualidade técnica do jovem meia, mas também por sua inteligência e entrega dentro de campo.

Gabriel Carvalho com a bola em jogo do Internacional
Gabriel Carvalho com a bola em jogo do Internacional. Foto: Ricardo Duarte/SC Internacional

— Quando coloquei ele de volante, não só ele se posicionou de volante, mas passou a jogar executando a função. Para um menino de 16 anos, ter a inteligência de jogo dessa forma, muito cedo… não é com a frequência que tu enxerga — elogiou.

— Eu tenho dificuldade de identificar até quando ele está quando cansado dentro de campo, porque o rosto dele é igual. E ele só manifesta depois que eu tiro, diz ‘poxa, tava morto'. Mas a feição dele se está 1 a 0, empate, se deu um drible, se tomou um carrinho, ele manifesta igual. Isso é muito bom — completou.

Roger não quer que Ricardo Mathias fique preso no meio dos zagueiros

Roger também revelou bastidores seus com Ricardo Mathias. Um dos poucos destaques colorados na última Copa São Paulo de Futebol Jr., o centroavante interessa a grandes grupos que atuam no Brasil, mas sequer havia estreado pelo profissional do Inter até a chegada do novo treinador.

Ricardo Mathias em treinamento do Internacional no CT Morada dos Quero-Queros, em Alvorada
Ricardo Mathias em treinamento do Internacional no CT Morada dos Quero-Queros, em Alvorada. Foto: Ricardo Duarte/SC Internacional

— Quando cheguei no clube, identifiquei que o Ricardo gosta de se mover no campo. O que me disseram em alguns momentos é que ele saía de dentro dos zagueiros, mas também me disseram que ele tem boa relação com a bola, é habilidoso e é rápido, fazendo velocidades máximas acima de 30 km/h — começou Roger.

— Perguntei para ele: se tu tivesse 1,75m, iam dizer para tu ficar no meio dos zagueiros ou para se mover no campo com tua velocidade e habilidade? Como tu gosta de jogar? ‘Eu gosto de me mover‘. Então por que, se tu tem 1,95m, precisa ficar no meio dos zagueiros? Não precisa. Precisa estar no meio dos zagueiros quando a jogada se definir na linha de fundo.

Com esse carinho e oportunidades para joias das categorias de base, Roger encontra caminhos para resolver os problemas que apareceram no elenco do Inter. Além da saída de jogadores como Bustos, Aránguiz e Maurício, peças importantes como Alan Patrick e Rafael Borré estão no departamento médico.

Foto de Nícolas Wagner

Nícolas WagnerSetorista

Gaúcho, formado em jornalismo pela PUC-RS e especializado em análise de desempenho e mercado pelo Futebol Interativo. Antes da Trivela, passou pela Rádio Grenal e pela RDC TV. Também é coordenador de conteúdo da Rádio Índio Capilé.
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