Por que o Fluminense não quer vender Arias apesar de promessa ao atleta
Tricolor e colombiano entram em atrito após impasse por negociação ao Galatasaray; Patriotas diz que Flu não tentou compra de mais 50% dos direitos
O Fluminense conseguiu manter Jhon Arias apesar do assédio da janela de transferências. Mas as coisas não foram tão simples assim. O clube havia prometido ao jogador que o negociaria no mercado da bola, o que não aconteceu. Também por isso, o colombiano está chateado com o clube.
✅ Siga a Trivela no Threads e no BlueSky
Em alta, Arias recebeu propostas de clubes de Rússia, Espanha e Turquia nos últimos dias. Mas o Flu fez jogo duro e decidiu não negociar o melhor jogador de seu time. O problema é que havia uma promessa no caminho.
Ver esta publicação no Instagram
Desde o Fluminense até o Patriotas, clube que o lançou no futebol de seu país, muitos são os atores desta história.
A Trivela conversou com fontes de Brasil e Colômbia para compreender os bastidores. Fato é que Arias, hoje na seleção colombiana para a data Fifa, está de mal com a diretoria do Flu.
Arias e Fluminense divergem sobre acordo por negociação
Assim como publicou o ge, há diferentes versões para o descompasso entre Arias e Fluminense. O clube prometeu que o negociaria, mas os termos do acordo são diferentes para as partes.
O Flu alega que balizou o acordo em uma proposta que pagasse € 10 milhões (R$ 62,5 milhões, na cotação de hoje) pelos 50% a que tem direito. Como já aconteceu em outras negociações, a ideia era receber mais do que o Patriotas, clube colombiano que detém os mesmos 50% do jogador.
Ver esta publicação no Instagram
A Trivela confirmou que a diretoria acredita que cumpriu esse acordo, e Girona e Galatasaray, clubes interessados em Arias, não atenderam às condições impostas.
Já o estafe do colombiano entende que o presidente Mário Bittencourt impôs mais barreiras que o prometido — e que não havia este valor estabelecido. Outras fontes ouvidas pela reportagem afirmam que o mandatário teria “dificultado” o negócio.
Mas a reportagem foi além. E conseguiu falar com a outra parte interessada: o Patriotas, da Colômbia.
Patriotas nega que Fluminense tentou comprar 50% de Arias
Para entender esta parte da história, é necessário voltar a 2021. Arias estava no Independiente Santa Fe, da Colômbia, enfrentou o Fluminense na Libertadores e chamou a atenção do clube. A pedido do então técnico Roger Machado, o Tricolor pagou US$ 600 mil dólares (R$ 3,1 milhões na época) por 50% do ponta.
Àquela altura, o ponta de 23 anos tinha o contrato perto do fim e propostas de outros clubes da Colômbia. Mas quando o Flu entrou na jogada, Arias ouviu de sua avó, Concepción, que deveria seguir rumo ao Brasil.
Ver esta publicação no Instagram
As histórias sobre o início de Arias no Fluminense já são conhecidas. O jogador perdeu a avó, sua referência, e chegou a pensar em largar o clube e o futebol. Recuperado, virou uma das peças mais importantes do clube.
Mesmo que já tenha destaque desde 2022, entretanto, Arias seguiu com 50% de seus direitos econômicos ligados ao Patriotas. O pequeno clube da província de Boyacá passou 10 anos na primeira divisão, mas voltou à segundona do país em 2023.
O Fluminense alega que, como os 50% restantes não possuem um valor estabelecido, a compra não foi possível de ser realizada. Mas em contato com a Trivela, o presidente César Guzmán negou ter recebido qualquer proposta desde 2021.
— Não tivemos a honra de receber uma ligação do Fluminense em todo esse tempo — resumiu Guzmán.
Em 2021, as tratativas foram feitas pelo empresário Gianfranco Petruzziello, que cuida da carreira do jogador colombiano. O Patriotas não participou do negócio envolvendo o Fluminense e o Independiente Santa Fé, antigo detentor de parte dos direitos econômicos de Arias.
Em contato com a reportagem, tanto o Fluminense quanto os empresários de Arias negaram essas informações. As partes informaram que o clube tentou realizar a compra dos 50% restantes em mais de uma oportunidade, mas o Patriotas não quis ouvir propostas.
Arias se irrita com dificuldade por negócio com o Galatasaray
A última proposta que chegou ao Flu foi do Galatasaray, da Turquia, conforme publicado pela TNT Sports e confirmado, à época, pela Trivela.
Os turcos fizeram duas tentativas: a primeira, de € 9 milhões (R$ 55,8 milhões), foi considerada baixa. Já a segunda chegou a € 12 milhões (R$ 74,4 milhões), dos quais € 10 milhões (R$ 62 milhões) estavam garantidos ao Tricolor, conforme o pedido inicial.
Aqui, há outra divergência. O Fluminense pediu mais € 4 milhões em bônus por participação em jogos, igual aos que o Wolverhampton prometeu ao Tricolor por André. O Patriotas receberia metade do valor. Com uma recusa inicial, baixou a pedida para € 2 milhões variáveis, mantendo 20% dos direitos econômicos de Arias, divididos com os colombianos.
Além disso, queria € 5 milhões no ato da compra e a outra metade em 2025. Caso o Galatasaray não pudesse gastar isso agora, os clubes poderiam fechar negócio, com o início do pagamento em janeiro, só que a ida do colombiano seria em dezembro para Istambul. Não houve acordo.
O estafe do colombiano ficou irritado com mais exigências de Mário Bittencourt após os turcos chegarem à pedida inicial. Na visão dos empresários, de acordo com apuração da Trivela, o presidente faz promessas que não cumpre em todas as janelas de transferências.
Mas o presidente do Fluminense argumentou que recusou € 16 milhões e mais € 3 milhões do Zenit, que fez a maior proposta pelo jogador até aqui, já que ele não queria jogar no clube russo. E que flexibilizara formas de pagamento e valores aos turcos.
Antes, o Girona acenara com € 7 milhões por Arias. O Flu pediu os mesmos € 16 milhões + € 3 milhões variáveis oferecidos pelo Zenit, mas os espanhóis não aumentaram a oferta. A Espanha é o destino preferido do colombiano, que naquele momento, entendeu que o negócio não era bom para o Tricolor — além disso, seu salário seria praticamente o mesmo que recebe atualmente.
Presidente do Patriotas confia no Fluminense por venda de Arias
Enquanto isso, cabia aos agentes de Jhon Arias entrar em acordo com o Patriotas, que receberia € 2 milhões fixos em vez dos € 6 milhões a que tinha direito.
Fontes ligadas ao Fluminense afirmaram à Trivela que não houve uma certeza de que esse molde estava garantido. Já pessoas ligadas ao estafe de Arias afirmam que havia acordo. Em contato com a reportagem, César Guzmán, presidente do Patriotas, afirmou não ter sido procurado pelo Fluminense nem ter muitas informações sobre o negócio com o Galatasaray.
— Não tivemos o prazer de conversar com nenhum dirigente do Fluminense sobre esse assunto. Porém, mesmo sem sermos informados de qualquer possível negociação, confiamos que farão o melhor que puderem em benefício próprio e do jogador, e que, com isso, com absoluta lealdade, eles cuidarão dos interesses do Patriotas — afirmou Guzmán.
Ver esta publicação no Instagram
Guzmán afirmou “confiar no bom senso do Fluminense e de Arias” em uma possível negociação.
— O Patriotas está pouco informado sobre esses acontecimentos. É verdade que temos uma participação percentual em qualquer futura transferência do jogador, mas confiamos no bom senso do Fluminense e de Arias para obterem o melhor para eles em uma possível negociação — declarou.
Chateado, Arias recusou proposta de renovação do Fluminense
A TNT Sports informou que Arias recusou uma proposta de renovação do Fluminense, o que foi confirmado pela Trivela. A tentativa foi feita em 10 de agosto, data em que o Tricolor foi derrotado pelo Vasco pelo Campeonato Brasileiro.
Jhon Arias, Gianfranco Petruzziello e Mário Bittencourt realizaram uma reunião na concentração da equipe. Na conversa, o Flu apresentou uma renovação por quatro anos que seria a maior proposta já feita por um jogador do clube.
Com a esperança de jogar na Europa, Arias já recusara aumentos salariais nos últimos meses.
A Trivela apurou que o colombiano passaria a ser o jogador mais bem pago do elenco do Fluminense, com salários de R$ 1,3 milhão mensais, quase o dobro do que recebe atualmente. O colombiano gostou da proposta, mas não respondeu no ato. Sua ideia era esperar a janela de transferências.
Durante as tentativas do Galatasaray, o Flu ainda aumentou a proposta para R$ 1,5 milhão mensais, igualando o salário oferecido pelos turcos, de € 3 milhões por ano. Arias, que não havia respondido a proposta, recusou em meio às negociações. E ficou irritado com o clube.
Arias fica, mas relação com Fluminense está estremecida
Embora gozem de excelente relação com a diretoria do Fluminense, Jhon Arias e seus agentes ficaram muito chateados com o desenrolar das conversas. Mas com contrato vigente, o colombiano seguirá no clube.
O atacante, que foi pai pela primeira vez na segunda (2), se apresentou à seleção da Colômbia para disputar jogos das Eliminatórias contra Peru, nesta sexta (6) e Argentina, na próxima terça (10).
Ver esta publicação no Instagram
Ainda assim, Arias pretende cumprir seu contrato, que vai até agosto de 2026. As partes não excluem a possibilidade de negociar o jogador no fim de 2024, ainda que o negócio seja pior, ou mesmo de novas conversas por uma renovação.
Mas a vontade do atacante segue a mesma: jogar na Europa. O Tricolor tenta segurá-lo até o Mundial de Clubes de 2025, competição em que acredita que a vitrine para ele será maior.
A Trivela apurou que, quando Arias retornar da Data Fifa, o jogador e seu empresário terão uma reunião com o presidente Mário Bittencourt e Paulo Angioni, diretor de futebol. O desejo dos dois lados é aparar as arestas, independente do que o futuro reserve.
O Fluminense quer manter Arias por conta da situação ainda difícil no Campeonato Brasileiro e da disputa da Libertadores. Diretoria e comissão técnica entendem que o colombiano é insubstituível neste momento, com a janela fechada para o Brasil. Ele é o artilheiro e o maior garçom do Flu em 2024.
O Tricolor argumenta que o jogador é muito mais valorizado pelo clube que pelo mercado da bola e desejam que ele fique por muitos anos. A ideia exposta pelo Fluminense a Arias durante conversa de negociação é “fazer dele um novo Fred”.