‘Afastar o pobre do estádio é planejado. Os donos do espetáculo querem isso’
Tim Vickery criticou elitização dos estádios brasileiros no último episódio do Trivela FC

Arenas modernas, calendário lotado com jogos a cada três dias e preços altos. Essa tem sido a conta do futebol brasileiro nos últimos anos. Ir ao estádio nos grandes palcos do Brasil tem ficado cada fez mais caro. E a alta nos preços desses ingressos mudou o perfil do público que frequenta os jogos.
— Essa coisa de afastar o pobre do estádio é planejada, os donos do espetáculo estão querendo isso. Na Inglaterra, agora os grandes clubes adorariam tirar algumas pessoas que pagam carnê para a temporada toda para substituí-los por turistas porque tem demanda — disse Tim Vickery, no Trivela FC, que foi ao ar na última terça (29).
Antes dominado pelo público mais popular, o futebol tem se tornado cada vez mais de mais classe média alta. Poucas torcidas e poucos estádios conseguem resistir a esse fenômeno.
E essa mudança é sentida também na festa que o torcedor faz nas arquibancadas. O Palmeiras, por exemplo, cobra um dos ingressos mais caros do país, e a festa nas partidas dentro de casa tem sido alvo de crítica pelos próprios torcedores.
Antes um “caldeirão”, o Allianz passou a não ser a principal arma do time de Abel Ferreira contra seus adversários. Em três jogos no Brasileirão deste ano, venceu apenas uma, empatou outra e deixou o campo sob vaias após a derrota por 1 a 0 para o Bahia na última rodada.

A conta não vai fechar
“Não sei se tem tantas pessoas com dinheiro para pagar ingressos caros em tantos jogos”, analisou Vickery. Durante sua participação no Trivela FC, programa da Trivela no YouTube, Tim Vickery comentou sua preocupação sobre a sustentabilidade do torcedor no futebol.
Até o Flamengo, dono de uma das maiores médias de público do Brasil — que também tem um dos maiores tíquetes médios — tem sentido o impacto.
O Rubro-Negro saiu de 51 para 37 mil torcedores por jogo. Apesar de o número ainda ser alto, na prática, significou uma queda de mais de 27%. Nos últimos jogos, os torcedores reclamaram muito dos valores cobrados.
“Ingressos caros, arquibancadas vazias” e “ingressos com preços abusivos” eram as frases que apareciam nos cartazes de torcedores nas últimas partidas.
— É importante a gente lutar para, se não voltar atrás ao que era antes, lutar para preços populares em partes do estádio. A gente não pode excluir um componente da sociedade que tem sido tão importante durante tantos anos de futebol. Não pode excluir essas pessoas do estádio. Seria um crime contra a cultura nacional — finalizou Tim.

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Vale tudo para ganhar (até pagar mais caro)
A verdade é que o debate é complexo. O futebol ficou cada vez mais caro. Os salários estão mais altos, os equipamentos mais tecnológicos. Ou seja, os custos são mais altos. Para o torcedor, muitos desses fatores não importam. Quando sua equipe entra em campo, apenas a vitória lhe interessa. E, muitas vezes, o preço para isso pouco importa.
— Essas esculhambações passam mais fácil no Brasil do que em outros lugares. Caso se tomem mais medidas para criar ainda mais elitização no futebol brasileiro e a contrapartida prometida seja ‘para manter o meu time ganhando tudo, eu preciso cobrar mais caro’, todo mundo vai aceitar, um ou outro vai brigar. No fim das contas, passa — destacou Andrey.
Acompanhe o Trivela FC às terças
Trivela FC é a live da Trivela que vai ao ar todas as terças-feiras, às 15h (horário de Brasília), no YouTube. Comandado por Márcio Júnior, o programa conta com a participação dos colunistas Tim Vickery e Andrey Raychtock para debater e contar histórias do que há de melhor e mais interessante no esporte.
Os 13 primeiros episódios que foram ao ar estão disponíveis completos no YouTube da Trivela para você ver e rever. Aproveite e siga o canal da Trivela.