Brasil

Dudu foi volante moderno antes da modernidade

Ídolo da Academia palmeirense morreu aos 84 anos e deixa legado de títulos de uma época de ouro do futebol brasileiro

Na noite desta sexta-feira, 28 de junho de 2024, o futebol brasileiro e a torcida do Palmeiras se despediram do grande Olegário Tolói de Oliveira, o Dudu. Ele morreu aos 84 anos, em virtude de uma infecção abdominal.

Deixa um legado de conquistas e a imagem de liderança de um dos maiores times da história do Alviverde e do Brasil: a Academia dos anos 1970, treinada por Oswaldo Brandão.

Dudu foi um volante moderno muito antes da modernidade. Versátil, quando o Palmeiras enfrentava o Corinthians, algumas vezes trocava de posição com o zagueiro Luís Pereira, que avançava para a posição de volante.

Em outras ocasiões, também para marcar Rivellino, Dudu avançava em campo, e o Divino Ademir da Guia recuava. Tudo que meio-campistas hoje exaltados como moderno fazem, Dudu fazia no início da década de 1970.

Mas a principal imagem de Dudu em campo era de luta, garra e uma dedicação incansável à marcação.

Ele era um mestre na arte do desarme, um marcador reconhecido como difícil de ser vencido por gênios do porte de Pelé e Rivellino. No vestiário, foi uma voz respeitada e temida.

Uma das histórias contadas sobre ele dá conta de que ao ser cobrado de forma mais dura por seu amigo Luís Pereira num intervalo, ele quebrou uma garrafa de vidro e levou um caco à garganta do companheiro.

Silêncio no vestiário e nenhuma intervenção do técnico Oswaldo Brandão. O time voltou para o segundo tempo como se nada tivesse acontecido.

Quando escrevi o livro “Oswaldo Brandão — Libertador Corintiano, Herói Palmeirense”, Dudu foi uma fonte preciosa de consulta. Fiz entrevistas deliciosas com ele, verdadeiras aulas de futebol.

Com sua voz rouca e memória prodigiosa, Dudu contava detalhes dos jogos e soltava gostosas gargalhadas. Uma das lembranças dele, reproduzo aqui, sobre a qualidade do time palmeirense bicampeão brasileiro de 1972 e 1973.

“Uma vez, nós estávamos sentados no vestiário, esperando a palestra antes de um jogo importante, e o Brandão armou a lousa, deixou tudo pronto, pegou um giz, virou-se para mim e disse: – Dudu, venha cá e desenhe na lousa como eu quero que o time jogue, porque você sabe direitinho”.

Segundo dados do Palmeiras, Dudu é o quarto jogador que mais vezes defendeu o clube na história, tendo atuado em 615 jogos por 13 temporadas seguidas.

Entre os principais títulos de Dudu pelo Verdão estão cinco brasileiros (os dois de 1967, 1969, 1972 e 1973) e três paulistas (1966, 1972 e 1974). Durante boa parte desse período, ele militou em um trio de meio-campo que os palmeirenses recitavam de memória: Dudu, Leivinha e Ademir da Guia.

Logo após encerrar a carreira, Dudu foi treinador do Palmeiras na conquista do título paulista de 1976, que marcaria o início de um período sem conquistas que iria até 1993. Ao todo, ele dirigiu o time do Palmeiras por 142 jogos, em três passagens em 1976/77, 1981 e 1990/91. Obteve 75 vitórias, 45 empates e sofreu 22 derrotas.

Foto de Mauricio Noriega

Mauricio Noriega

Colunista da Trivela
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