Brasil

Marca de Abel Ferreira no Palmeiras é oportunidade de reverenciar um Velho Mestre

Com o título paulista, treinador português se igualou a Oswaldo Brandão no número de conquistas com a camisa do alviverde

A conquista do tricampeonato paulista pelo Palmeiras elevou o treinador português Abel Ferreira ao patamar daquele que era, isoladamente, o maior vencedor na trajetória de múltiplas conquistas alviverdes: Oswaldo Brandão. Ambos somam dez títulos cada pelo clube.

A façanha de Abel é um bom motivo para recordar a trajetória do Velho Mestre, líder da Segunda Academia, bicampeão brasileiro em 1972 e 1973 e campeão paulista de 1974, entre outros títulos.  Oswaldo Brandão nasceu em Taquara, Rio Grande do Sul, em 18 de setembro de 1916. Foi jogador de Grêmio, Inter e Força e Luz, antes de chegar ao Palestra Itália em 1942. Atuou até 1945, quando o clube já se chamava Palmeiras e ofereceu a ele a chance de ser treinador da base após uma desastrosa cirurgia de joelho.

Se Abel vive o Palmeiras há quatro anos, Brandão esteve conectado ao Palmeiras por quatro décadas, entre os anos 1940 e 1980. Foi campeão brasileiro em 1960, 1972 e 1973. Campeão paulista em 1947, 1959, 1972 e 1974, além do Torneio Início e da Taça Cidade de São Paulo de 1946 e do Torneio Laudo Natel de 1972.

Brandão teve títulos emblemáticos para os palmeirenses, como o bicampeonato do Troféu Ramón de Carranza, tradicional torneio realizado em Cádiz, na Espanha. Em 1974, o Verdão derrotou na semifinal o poderoso Barcelona dos craques holandeses Cruyff e Neeskens, com uma exibição de gala. Na decisão, o Palmeiras bateu o Espanyol.

Há dois títulos de Brandão pelo Palmeiras que contribuíram para sua fama junto aos torcedores: o Supercampeonato Paulista de 1959, num desempate histórico de três jogos diante do Santos de Pelé, e o Paulistão de 1974, no qual o Verdão venceu o rival Corinthians, ampliando a fila sem títulos do adversário para 21 anos. Brandão tinha sido o treinador do Corinthians na conquista anterior, de 1954, e foi o treinador que tirou o rival palmeirense da fila, em 1977.

Além do Palmeiras e do Corinthians, Brandão trabalhou em São Paulo, Santos e Portuguesa, entre outros. Classificou a seleção brasileira para a Copa de 1958 e lançou no time nacional craques como Rivellino, Zico, Falcão e Roberto Dinamite. Foi campeão argentino pelo Independiente, em 1967, e venceu a Supercopa da Libertadores pelo Peñarol, em 1969.

Prático, disciplinador, vocabulário básico e personalidade forte, Brandão fazia o tipo paizão. Acolhia jogadores em sua casa, cobrava deles responsabilidade com suas famílias e no início da carreira de treinador batia com cinta em alguns atletas. Espírita kardecista, perdeu um filho de 31 anos e manteve viva sua memória tocando a Fundação Márcio Brandão, que existe até hoje.

Há pouco de Oswaldo Brandão em Abel Ferreira. O traço que une os treinadores mais vencedores do Alviverde Imponente é a reclamação constante com os árbitros.

O Palmeiras mais lembrado de Brandão era um time cadenciado, técnico, que pulsava ao ritmo da genialidade de Ademir da Guia, mas também utilizava pontas velozes como Nei e Edu, um ponta-de-lança talentoso e goleador como Leivinha e um centroavante forte e explosivo como César Maluco. Além dos pilares defensivos Dudu, Luís Pereira e o goleiro Leão.

Os próprios jogadores que atuaram naquela equipe brincavam dizendo que o time fazia 1 a 0 e deixava a bola com Ademir da Guia, pois ninguém a tirava dos pés do Divino. O treinador palmeirense que mais lembrou Brandão pelos métodos e personalidade foi Felipão, que é amigo de Abel, a quem convocou para a seleção portuguesa. Não há técnico que assuma o Verdão que não escute histórias sobre o Velho Mestre, como Brandão era chamado por jogadores e jornalistas. Suas façanhas estão eternizadas na memória da torcida e nas paredes do centro de treinamentos do clube.

Oswaldo Brandão morreu em 29 de julho de 1989, aos 72 anos, em São Paulo. Ao igualar sua marca de dez títulos pelo Palmeiras, Abel Ferreira evoca a memória gloriosa de seu antecessor.

Foto de Mauricio Noriega

Mauricio Noriega

Colunista da Trivela
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