Após mudar rumos no São Paulo e deixar saudades no Flamengo, Dorival persegue feito inédito
Dorival pode ser primeiro técnico bicampeão da Copa do Brasil por clubes diferentes em anos seguidos

Quando pisar a beira do campo do Maracanã neste domingo (17), a partir das 16h (horário de Brasília), Dorival Júnior terá diante de si o seu passado e também aquilo que será o seu futuro. Neste encontro de linhas do tempo, o treinador comanda o São Paulo em busca de um título inédito na Copa do Brasil, justamente contra o Flamengo, o clube one conquistou a competição (e a Libertadores) no ano passado.
O atual campeão persegue um feito inédito para treinadores. Nunca antes um colega de profissão conquistou a Copa do Brasil em anos seguidos por clubes diferentes. O único a ser bicampeão é Mano Menezes, pelo Cruzeiro em 2017 e 2018.
Para Dorival, conquistar o título pelo São Paulo significa também ser alçado a um seleto rol de tricampeões da competição. Apenas Mano – que venceu também pelo Corinthians, em 2009 –, tem três taças da Copa do Brasil no armário. Luiz Felipe Scolari é o recordista, com quatro: Criciúma (1991), Grêmio (1994) e Palmeiras (1998 e 2012).
Ineditismo e currículo à parte, Dorival sabe que tudo o que acontecer nos 180 minutos da decisão são parte viva de sua história. No São Paulo, ele foi um dos responsáveis por mudar os rumos de uma temporada que parecia destinada ao marasmo e deu ao Tricolor a chance de um título inédito. No Flamengo, ele reencontra jogadores que o abraçaram (e ainda abraçam) em um clube que vive crise atrás de crise desde sua saída.
Novos rumos na temporada
Quando Dorival Júnior assumiu o São Paulo, em abril passado, encontrou um clube que certamente se contentaria em evitar o que seria o primeiro rebaixamento da história. A queda para o Água Santa nas quartas de final do Paulistão e o ambiente pesado pela relação desgastada entre jogadores e Rogério Ceni ditavam o tom de um elenco desacreditado nas próprias forças. Tudo isso mudou a partir da troca de comando.
De imediato, Dorival reuniu todos os atletas no vestiário para dizer – ou profetizar – que o São Paulo brigaria por coisas grandes ainda em 2023. A incredulidade com que todos receberam aquelas palavras virou fôlego novo para iniciar um trabalho em meio à temporada. O Tricolor engatou 12 jogos seguidos de invencibilidade, naquela que é a maior arrancada de um técnico pelo clube no século 21. Mas a equipe oscilou, e é até curioso: o treinador que faz o Tricolor sonhar com um título inédito hoje tem aproveitamento inferior ao de Rogério Ceni (confira abaixo).
É que com Dorival, o São Paulo virou o time das copas. E isso cobrou seu preço no Brasileirão, em que o time não vence há quase dois meses, e também com a eliminação recente na Sul-Americana. Na Copa do Brasil, o sonho do título inédito foi alimentado com vitórias expressivas. Para chegar à final, o Tricolor passou pelos rivais Palmeiras e Corinthians. E agora tem um acerto de contas para Dorival com o Flamengo. Parece obra do destino.
Rogério Ceni | Dorival Júnior | |
Jogos | 17 | 36 |
Vitórias | 9 | 17 |
Empates | 4 | 8 |
Derrotas | 4 | 11 |
Aproveitamento | 60,7% | 54,6% |
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Grupo na mão e reforços de peso
O título depende do que acontecerão nos 180 minutos divididos entre Maracanã e Morumbi. Mas a influência que Dorival Júnior tem sobre o elenco são-paulino, esta é inegável. O treinador remobilizou o grupo colocando (quase) todos para jogar até definir seus preferidos no elenco. Uns ganharam espaço ou cresceram de rendimento (os casos mais emblemáticos são os de Gabriel Neves, Luciano e Caio Paulista), outros caíram no ostracismo (Jhegson Méndez que o diga). Mas todos tiveram suas chances.
Em um ambiente mais leve e com o respaldo e blindagem do treinador, o elenco se fechou em torno de Dorival. Comprou, de fato, a ideia do treinador. E ainda ganhou qualidade. O técnico recebeu “apenas” Lucas Moura e James Rodríguez como reforços capazes de mudar o patamar do time. O camisa 7, inclusive, já conseguiu.
180 minutos que valem história ou tragédia
Classificações heroicas de um lado, queda no aproveitamento do outro… As visões sobre Dorival Júnior não são excludentes, mas podem ser opostas. O que irá unificar as percepções externas sobre o trabalho é o resultado após 180 minutos de futebol na final da Copa do Brasil.
Em caso de título inédito, Dorival será lembrado como o treinador que chegou para mudar os rumos do São Paulo – muito parecido com o que você lerá nas linhas abaixo, sobre o Flamengo. Do contrário, o técnico e o elenco terão de se desdobrar para garantir ao menos a vaga na Libertadores de 2024 como prêmio de consolação no Brasileirão. A campanha atual, com apenas 28 pontos e a amarga 13ª colocação, mostra que o caminho é árduo.
Missão dada é missão cumprida
Assim como no São Paulo, a trajetória de Dorival Júnior pelo Flamengo começou com um ar de “salvador de pátria” para um clima pesado nos bastidores. As características de ser mais “paizão”, oposto do anterior, o português Paulo Sousa, trouxeram um novo ar ao Flamengo, que arrancou rumo aos títulos da Copa do Brasil e da Libertadores. Um ano praticamente perfeito, mas que terminou em uma escolha muito questionável.
Mesmo que Dorival tivesse conquistado tudo que lhe foi proposto, a diretoria do Flamengo decidiu não renovar o contrato do treinador, por razões que ainda não foram totalmente esclarecidas. O clima de festa depois dos títulos certamente pesou, mas não foi o único fator determinante para a escolha. A saída do comandante deixou uma lacuna e criou problemas que o Rubro-Negro ainda não conseguiu conseguir.
Relação excelente com o elenco do Flamengo
Dorival realmente marcou época em sua terceira passagem pelo Flamengo. A sinergia com o elenco foi inegável, e o treinador conseguiu aquilo que nenhum havia feito no clube: colocou Gabriel e Pedro para jogarem juntos. A mudança deu certo, o losango funcionou e o time lembrou os tempos de Jorge Jesus. O clima nunca esteve tão leve desde a saída do português.

É inegável que o treinador construiu relações. Quando o São Paulo visitou o Flamengo, em agosto, praticamente todo o elenco do Rubro-Negro foi abraçar o comandante. Durante as negociações da possível renovação, que acabou frustrada, diversos atletas demonstraram apoio a Dorival nas redes sociais. Deixou saudade e abriu a porteira para um ano de fiascos do Flamengo.
Saída conturbada e lacuna não preenchida
Para repor a saída de Dorival, o Flamengo acionou mais um português: Vítor Pereira que, inclusive, foi derrotado pelo Rubro-Negro na final da Copa do Brasil, quando ainda comandava o Corinthians. O estilo do gajo, contudo, jamais se encaixou com o elenco, que fez pouquíssimas boas partidas e acumulou fracassos. Foram três vices — Supercopa do Brasil, Recopa Sul-Americana e Campeonato Carioca —, além de uma eliminação precoce e traumática para o Al Hilal, no Mundial de Clubes.
Ciente do erro, o Flamengo demitiu Vítor Pereira antes mesmo do início do Brasileirão e trouxe mais um estrangeiro. A missão foi concedida a Jorge Sampaoli, mas o argentino não teve o mesmo sucesso de Dorival e vive uma espiral negativa ao longo de cinco meses de trabalho. O time evoluiu com relação ao anterior, claro, mas o clima nos bastidores pesou demais.
Entre agressões entre os próprios funcionários do clube, briga de egos e falta de relacionamento com Sampaoli, o Flamengo afundou de vez. O título do Campeonato Brasileiro já parece uma utopia, enquanto o sonho do tetra da América foi adiado pelo Olimpia, ainda nas oitavas de final. Resta apenas a Copa do Brasil para salvar a temporada, e muitos acreditam que a “justiça divina” pela demissão de Dorival culminará em novo vice.
Dorival Junior | Vitor Pereira | Jorge Sampaoli | |
Jogos | 38 | 18 | 36 |
Vitórias | 23 | 10 | 20 |
Empates | 6 | 1 | 9 |
Derrotas | 9 | 7 | 7 |
Aproveitamento | 65% | 57% | 64% |