‘Responsabilidade é dele’: Diniz relembra atitude de Ednaldo que o desrespeitou na Seleção
Em entrevista ao portal "ge", treinador admite que acumular cargos no Fluminense e na Seleção não foi o ideal

A passagem de Fernando Diniz como técnico da seleção brasileira durou apenas seis jogos e menos de seis meses. Mas ela deixa marcas profundas no treinador, hoje desempregado após um último trabalho também curto pelo Cruzeiro.
Em uma longa entrevista ao portal “ge”, Diniz passou a limpo o seu período na Seleção. O treinador revelou que foi demitido por telefone e que se sentiu desrespeitado pelo presidente Ednaldo Rodrigues e reconheceu que dividir o comando do Brasil com o do Fluminense está longe de ser considerado o “ideal”.
Diniz se sentiu desrespeitado por Ednaldo Rodrigues
Desde o início, Diniz sabia que sua chegada à Seleção era de forma interina, por apenas um ano, até que Carlo Ancelotti pudesse assumir o cargo. O combinado entre Ednaldo Rodrigues e o presidente do Fluminense, Mario Bittencourt, era de que a CBF não o tiraria do clube.
O treinador acabou demitido em janeiro, após a negativa de Ancelotti à Seleção. Diniz entende que poderia ter recebido o convite para permanecer ao menos até a Copa América e cogitava até deixar o Fluminense. Mas isso nunca aconteceu de parte de Ednaldo.
— Valia provavelmente uma conversa (sobre permanência). Não que isso fosse acontecer, mas não deu nem tempo. Poderia falar assim: “vamos continuar e depois vai ter a parada na Copa América”. Eu continuaria acumulando os dois trabalhos e teria um mês, 40 dias, para treinar o time para a Copa América e ver o que iria acontecer. Eu só soube (que o Ancelotti não viria) quando fui demitido. “Ele não vem mais, então vamos mudar o plano”. Obviamente, a gente sabe que os resultados e aquele incidente do jogo da Argentina no Maracanã… O momento político da CBF também era ruim. Obviamente, se tivesse ganho as seis partidas, não teria a interrupção — avalia Diniz.

Durante a entrevista, o treinador revelou que conversou pessoalmente com Ednaldo poucas vezes. Diniz afirmou que se sentiu “desrespeitado” por Ednaldo após ter sido demitido por telefone.
— Na minha concepção, ele (Ednaldo) tinha que ter conversado comigo pessoalmente e ter falado para resolver de outra maneira. Eu acho que isso tinha que ter sido tratado de outra forma, não do jeito que foi. Primeiro o presidente Ednaldo procurou o Mário e depois me procurou, por telefone. A maneira do desligamento não foi a melhor. Eu acho que tinha que ter uma conversa e é direito total do presidente de mudar, a responsabilidade é dele, mas o desligamento poderia ter sido feito de outra forma — Fernando Diniz.
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Diniz defende trabalho longe do “ideal” pela Seleção
Na entrevista, Fernando Diniz admitiu que acumular os cargos de técnico no clube e na Seleção ficou longe de ser o ideal. Para o treinador, a seleção brasileira acabou prejudicada, porque ele não conseguia ter mais contato com os jogadores.
— Obviamente que não é o ideal você acumular clube e seleção. E acho que a Seleção foi prejudicada nisso, porque eu já estava no Fluminense, ficava o tempo todo lá. E enquanto eu estava no Fluminense, não pensava na Seleção, eu conseguia separar bem. Quando eu ia para a Seleção, também não pensava no Fluminense, mas era muito pouco para a Seleção. Eu não conseguia acompanhar os jogos, não conseguia falar com os jogadores, não conseguia ir à Europa para conversar — afirma Diniz.
O treinador comandou a seleção brasileira por apenas seis jogos, com duas vitórias, um empate e três derrotas — estas, consecutivas para Uruguai, Colômbia e Argentina.
Apesar dos resultados bem aquém do esperado, Diniz defendeu sua passagem pelo cargo. O treinador afirma que o trabalho de campo foi “muito bom” e que os desfechos das partidas não condiziam com o rendimento da equipe.
— O trabalho de campo foi muito bom. Digo os treinos, não resultado dos jogos. A gente trabalhou muito, as ideias estavam sendo assimiladas, e o futebol também. Os resultados não foram de encontro com aquilo que a equipe produziu. Mas isso não é desculpa, na Seleção você tem que ganhar. Se você não ganha, não tem muita explicação. Acho que, se a gente tivesse tido mais tempo, tempo de qualidade, só para a Seleção, teria feito muita diferença. Depois, se tivesse seguido, tido uma continuidade até o fim do contrato, que era na Copa América, em que eu trabalharia 30 ou 40 dias com os jogadores, certamente teria me ajudado — analisa o treinador.
Outro ponto citado por Fernando Diniz que interferiu em seu trabalho é a estrutura de trabalho na CBF. Quando o técnico assumiu, a seleção brasileira não tinha profissionais exercendo cargos na direção de seleções. Algo que mudou com as chegadas de Rodrigo Caetano e Cícero Souza.