Diego, se não cabe a você, coube à Justiça: Robinho é estuprador condenado
Diego e Robinho formaram uma dupla que o ex-meia tem de esquecer o quanto antes, por ele e pela sociedade

Diego Ribas encerrou no ano passado sua ótima e marcante carreira como jogador. A finalizou como um dos principais líderes de uma das mais vitoriosas gerações do Flamengo e do futebol brasileiro. Agora, Diego é comentarista esporádico nos canais do Grupo Globo e tem falado sobre sua carreira por aí em entrevistas e programas de TV. O fez pela última vez nesta semana, ao falar com Renan Fiuza, da CNN Brasil. E nela falou que “não cabe a ele julgar” Robinho, também ex-jogador e talvez o maior parceiro de Diego em campo. E também estuprador condenado.
Diego afirmou que “não cabe a ele julgar”, lamentou a situação e afirmou amar Robinho “por tudo que eles viveram”. O ex-meio-campista de Flamengo e Santos está mais do que correto: não cabe a ele, apenas um cidadão comum, julgar qualquer pessoa, muito menos alguém com uma acusação tão séria nas costas. Coube à Justiça da Itália, onde o crime aconteceu, fazer esse julgamento. Fez e condenou Robinho, que se estivesse por lá — ou fosse extraditado — cumpriria 8 anos de pena por ter estuprado uma mulher.
— Não tem como eu negar a história que temos juntos… eu amo o Robinho por tudo o que nós vivemos, e não cabe a mim julgar o que aconteceu, o que ele fez ou quais serão as consequências. O que eu posso dizer é que lamento por tudo isso que está acontecendo. Eu lamento e me limito a reconhecer que nós vivemos uma história juntos, e eu respeito essa história — afirmou Diego à CNN.
O caso Robinho e a culpa que nunca chega de fato
O caso de Robinho tem sido uma situação social bastante curiosa. O ex-jogador foi condenado em última instância na Itália. Ou seja, não há mais como ele ser inocentado da acusação de estupro. Robinho deixou de ser um acusado por estupro e se tornou estuprador. E mesmo assim tem gente que o defenda ou, como fez Diego, relativize o crime cometido.
Não é difícil de entender o que acontece nessa situação. É tão fácil, na verdade, que dá para resumir em uma palavrinha só: machismo. Uma estrutura extremamente machista, na qual desacreditar a vítima não é apenas comum, mas praxis, e que cria situações como as de Robinho. Não são poucos os comentários em redes sociais que dizem que um condenado em última instância está, na verdade, sendo vítima de armações. Quais seriam essas armações? Ninguém fala. É a defesa de um estuprador pelo simples fato do prazer em defendê-lo.
Mesmo condenado de todas as maneiras legais possível, Robinho ainda não é apontado como culpado pelo que fez por muitas pessoas. E é a narrativa em torno disso que é socialmente muito preocupante.
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Por que a fala de Diego é problemática?
Tanto o Brasil quanto a Itália têm leis bastante claras, quer você concorde ou não. Uma dessas leis, a que impede cidadãos brasileiros de serem deportados para países onde são condenados, inclusive, é a janela que separa Robinho de uma cela na Itália neste momento. É neste contexto que as falas de Diego Ribas são extremamente problemáticas.
A vida pessoal de Diego, como de todo jogador ou ex-jogador, é problema dele. Mas ser uma pessoa pública acaba criando “leis que não são lei”. Um código de conduta ou de etiqueta, como você quiser chamar, que quando não é seguido pode causar grandes dores de cabeça. Ao relativizar o crime de Robinho, Diego está, mesmo que inconscientemente, dando razão e espaço a todos que, erroneamente, ainda estão defendendo Robinho.
Diego realmente não chegou a falar que Robinho é inocente ou nada do tipo. Mas, se vai falar publicamente sobre o assunto, o mínimo era não falar que lamenta a situação e sim condenar as atitudes do colega. Ao dizer que ama Robinho, ele está relativizando. Ninguém perguntou dos sentimentos dele pelo amigo ou se ele acha que o crime aconteceu ou não. Se está disposto a falar do caso, Diego tem de o tratar como ele é: como um crime pelo qual Robinho, repito pela décima vez, foi condenado em última instância.
Colocar os pingos nos i's nesse tipo de situação é o que podemos fazer, enquanto sociedade, para evitar que elas voltem a se repetir. Realmente não cabe a mim, a você ou ao Diego julgar ninguém. Mas quando a Justiça o faz, e o faz em mais de uma instância, e apresenta provas concretas e, por fim, condena, não é possível que isso seja relativizado. Não há relação familiar ou de amizade que possa superar um crime.
Destino de Robinho tem de ser a cadeia e o esquecimento
Mas então Diego não pode falar sobre seu amigo de longa data Robinho? Pode, desde que ele tenha em mente que seu amigo de longa data Robinho é hoje um ex-jogador de futebol condenado por estupro. Seu status de craque no Santos ou no Real Madrid, suas pedaladas e dribles, até mesmo seu carisma enquanto jogava, nada disso serve para tornar menos grave o crime de Robinho.
Crime esse que Robinho cometeu de maneira consciente. Divulgações de áudios e ligações telefônicas de Robinho falando sobre o estupro que ele cometeu são a prova cabal, para quem não se contenta com decisões da Justiça, de que o ex-jogador não só sabe que cometeu o crime, como não mostra nenhum remorso por tê-lo cometido. Piadas e risadas causam náusea a quem as ouve sabendo que elas acontecem na fala sobre uma vítima de estupro.
Então, Diego, você não tem que vir a público falar que ama o Robinho e sente muito pelo caso. Mais ainda, não tem que dizer a ninguém que não cabe a você julgar. Não tem mesmo e, novamente, a Justiça fez isso: Robinho, seu amigo de sempre, é um estuprador condenado. Quer você queira, quer não. E dizer que o ama e sente muito em rede nacional, por mais que não tenha sido sua intenção, sai como defesa para alguém que só merece ser preso pelo crime que cometeu e esquecido para sempre como persona pública.