Dada a situação, Dorival Júnior é uma contratação excelente, e até surpreendente, para o São Paulo
Entre os principais técnicos brasileiros da atualidade, Dorival chega ao Morumbi logo depois de conquistar seus maiores títulos
A situação do São Paulo não é boa. Não passou de campanhas medíocres nas últimas duas edições do Campeonato Brasileiro e, se a final da Copa Sul-Americana foi relevante, a maneira como perdeu do Independiente del Valle levantou muitas dúvidas sobre o trabalho de Rogério Ceni. Não houve evolução neste começo de ano, com atuações fracas que levaram a sua principal torcida organizada a pedir a demissão de um dos maiores ídolos da história tricolor. As contas não estão redondas, o elenco não é tão qualificado, e a diretoria está concentrada em uma manobra política para se reeleger. Logo, é meio maluco imaginar que o São Paulo conseguiria contratar o último técnico campeão da Libertadores, mas o futebol brasileiro às vezes é meio maluco mesmo, e Dorival Júnior aceitou ser o substituto de Ceni e começará sua segunda passagem pelo Morumbi.
Dorival estar desempregado já era um pouco estranho porque técnicos campeões sul-americanos costumam ter alguma moral para continuar o seu trabalho. O reconhecimento do erro de abrir mão homem que o levou às conquistas da Libertadores e da Copa do Brasil foi feito pelo Flamengo com a demissão de Vítor Pereira em cerca de quatro meses. Dorival foi especulado em outros cargos, porque toda semana tem um novo cargo vago no Brasil. O São Paulo concretizou o interesse e fechou o negócio sem demora, com o primeiro contato na quarta-feira e o anúncio nesta quinta.
A saída de Ceni do São Paulo, que ainda é uma frase que soa estranha, teve muitos elementos políticos. A diretoria não estava satisfeita com cobranças do treinador por investimentos em questões estruturais e reforços e pode ter usado a fase ruim como álibi para tomar a pesada decisão de demitir um ídolo. A fase ruim, porém, é real. O São Paulo ganhou apenas três dos seus últimos sete jogos, foi eliminado nas quartas de final do Campeonato Paulista e apenas empatou sem gols com o Ituano no Morumbi pela Copa do Brasil. Mesmo a vitória sobre o Puerto Cabello, o último jogo da segunda passagem de Ceni, foi com um futebol que deixou muito a desejar.
Mesmo com o capital político dos dois títulos da temporada passada, Dorival aceitou a empreitada. E isso porque sua primeira passagem pelo Morumbi não foi exatamente aquela memória que o profissional nutre com carinho. Curiosamente, também substituiu Rogério Ceni, com a missão de evitar o rebaixamento no Brasileirão de 2017. Conseguiu, mas o desempenho ruim no começo do ano seguinte levou a uma rápida demissão no começo de março, após levar uma pancada do Palmeiras. Passou rapidamente pelo Flamengo antes de tirar um sabático e momentaneamente sair do circuito dos clubes dos centros mais ricos do Brasil. Passou por Athletico Paranaense e Ceará antes de retornar à Gávea para se consagrar como campeão da Libertadores.
Embora tenha trazido vários reforços para esta temporada, o São Paulo ainda tem um elenco modesto. Pode competir na Copa Sul-Americana e na Copa do Brasil, dois torneios de mata-mata, mas é difícil imaginar que tenha grandes ambições no Campeonato Brasileiro. É incerto se as características dos jogadores à disposição se encaixam no estilo de jogo de Dorival, mais ofensivo do que o do técnico brasileiro médio, mas, em um clube que não precisa de um empurrãozinho tão forte para entrar em crise, a capacidade de unir o vestiário e aliviar o ambiente que demonstrou no Flamengo pode ser bastante útil. Além, claro, do seu conhecimento tático.
Porque não é de hoje que Dorival está na primeira prateleira dos técnicos brasileiros. E chega ao São Paulo provavelmente no auge da sua carreira, logo depois de conquistar seus principais títulos. A demissão de Ceni pode ser analisada de diversos ângulos e discutida em seu mérito, mas, uma vez que aconteceu, poucas opções seriam melhores do que Dorival Júnior.