Augusto Melo sofre derrotas nos bastidores que colocam em xeque seu futuro no Corinthians
Enquanto o presidente corintiano solicita a reabertura das contas de 2023, principal organizada anuncia rompimento e novo pedido de impeachment é aberto

A conturbada política do Corinthians teve novos capítulos escritos nesta segunda-feira (5).
Uma semana após a reprovação das contas do clube em 2024, primeiro ano da gestão do presidente Augusto Melo, o mandatário corintiano teve protocolado contra ele um novo pedido de impeachment.
A informação foi publicada inicialmente pela “Gazeta Esportiva” e confirmada pela Trivela, que teve acesso ao relatório de 25 páginas em que o conselheiro trienal Paulo Roberto Bastos Pedro aponta gestão temerária e infração às normas estatutárias na administração liderada por Augusto.
Paulo, que também integra a equipe do Conselho de Orientação (Cori) do Timão, embasa as alegações em dois incisos do artigo 106 do estatuto social do clube. A maioria dos pontos que sustentam o documento estão ligados à reprovação das contas, tais quais:
- Ausência de envio das demonstrações financeiras ao Cori de maneira prévia;
- Ausência de revisão orçamentária em 2024;
- Ausência de apresentação dos balancetes mensais;
- Ausência de apresentação de documentos;
- Aumento das despesas financeiras em R$ 200 milhões;
- Déficit de R$ 181,8 milhões, após três anos de resultados financeiros positivos e orçamento que previa superávit de R$ 17,6 milhões;
- Percentual de déficit em relação a receita bruta de 2023 somente 0,55% inferior ao limite para consideração de gestão temerária, através do Profut – sendo que a margem pode ser superada se forem consideradas os juros e correções pelo não pagamento da rescisão contratual com a “Pixbet”, antiga patrocinadora e desconsideradas a receita obtida pelo programa de arrecadação dos torcedores para a quitação da Neo Química Arena, que é movido pela Gaviões da Fiel.
Porém, há outras questões abordadas por Paulo Pedro, como:
- Contratação das empresas de segurança privada “Workserv” e “Kiara”. A primeira, sem recomendação do compliance, formalização do contrato, registro legal dos funcionários e autorização de funcionamento da Polícia Federal. E a segunda, sem cotação prévia de orçamento, registro legal dos funcionários, autorização da PF;
- Redução de associados e receita no programa Fiel Torcedor, que foi de R$ 106,5 milhões de arrecadação em 2023 à R$ 70,6 milhões no ano seguinte;
- Aumento de 23% na folha de pagamento com a contratação de mais de 100 funcionários pelo clube social;
- Ausência do relatório da consultoria Ernst & Young;
- Ausência de medidas punitivas sobre a decisão da Fifa para o pagamento de R$ 40 milhões ao meia Matías Rojas, conforme a quebra de uma cláusula aceita e não cumprida pela diretoria executiva.
O novo pedido de impeachment contra Augusto Melo foi enviado ao Conselho Deliberativo, que agora terá cinco dias para encaminhar para a Comissão de Ética e Disciplina do Corinthians.
A Ética terá mais cinco dias para notificar o presidente corintiano, que terá mais 10 dias para apresentar a defesa.
Depois, a Comissão terá outros 10 dias para emitir um parecer e enviá-lo ao Conselho Deliberativo, que votará a aprovação ou não do pedido de impeachment contra o dirigente.
Augusto Melo quer reabertura de contas de gestão antiga e nova avaliação dos seus demonstrativos financeiros
Em encontro com jornalistas nesta segunda-feira (5), Augusto Melo, o superintendente de finanças Luiz Ricardo “Seedorf” e os auditores Josué Lopes e Rafael Bononi defenderam a reabertura das contas de 2023, quando o presidente era Duílio Monteiro Alves.
Se isso acontecer, também será necessária nova avaliação dos demonstrativos financeiros de 2024, primeiro ano da gestão liderada por Augusto.
Segundo o presidente corintiano e representantes, dos R$ 599 milhões, que correspondem ao aumento da dívida bruta, R$ 191 milhões são heranças da administração anterior e que deveriam estar presentes no balanço de 2023.
A divisão do montante é a seguinte:
- R$ 30,2 milhões referentes aos ajuste no saldo devedor do parcelamento do Profut junto à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional;
- R$ 76 milhões referentes ao parcelamento do ISS sobre bilheteria junto a prefeitura de São Paulo, que já vinha discutido nas últimas gestões e efetivada em 2024 – nesse caso, o despacho da dívida de R$ 141 milhões aconteceu no dia 31 de dezembro de 2023 e a negociação, que excluiu juros e multas, ocorreu no dia 28 de junho de 2024;
- R$ 28,8 milhões referentes a dívidas e acordos feitos por gestões anteriores, mas que foram criadas no exercício de 2024;
- R$ 56,2 milhões de contingências judiciais tidas como prováveis e que não foram contabilizadas.

A diretoria embasa essas reivindicações em relatórios entregues pelo contabilista Eliseu Martins e o escritório de advocacia “Campos Melo”.
O pedido para a reabertura das contas de 2023 foi entregue pela diretoria à Comissão Fiscal, que avaliará e encaminhará a resposta. Não há prazo para isso acontecer.
A direção corintiana afirma que houve tentativa de apresentação desses pontos ao Conselho de Orientação desde março, mas só aconteceu no dia 28 de março.
Para a gestão do clube, não houve tempo hábil para explanação, pois o encontro ocorreu duas horas antes do início da reunião do Conselho Deliberativo que votou e reprovou as contas do clube em 2024.
- - ↓ Continua após o recado ↓ - -
Gaviões “solta a mão” de Augusto Melo
Pela primeira vez desde o início da atual administração, a Gaviões da Fiel deixou de ser base de sustentação do presidente Augusto Melo.
Antes contrária a qualquer movimento para destituição do mandatário corintiano, a principal torcida organizada do Corinthians emitiu uma nota onde declara que deixará de fazer oposição a qualquer movimento que vise o impeachment do dirigente.
No comunicado, a Gaviões também fez as seguintes reivindicações:
- Respostas claras aos pontos pendentes;
- Plano de ação com prazos definidos;
- Divulgação do orçamento de 2025 e apresentação de relatórios trimestrais;
Também foi recomendada a criação de um comitê executivo da presidência de forma urgente. Para a organizada, a equipe deve ser composta por “corintianos externos, sem vínculos políticos ou empregatícios com clube, e com especialização nas áreas estratégicas da gestão esportiva e administrativa”.
Caso não haja posicionamento público de Augusto Melo sobre o tema nos próximos dias, a Gaviões afirma que convocará protestos do Parque São Jorge até que todas as demandas sejam atendidas.
Confira abaixo a nota completa emtida pela organizada, após reunião com os associados.