Copa do Brasil

Campeão em 2012, campeão (de novo) em 2023: Lucas volta ao São Paulo para encerrar jejum

Lucas Moura voltou da Europa, encarou o desafio no São Paulo e voltou a levantar um título no Morumbi

Lucas Moura se ajoelha sobre o escudo do São Paulo diante de arquibancadas lotadas de são-paulinos e o beija com um misto de gratidão e amor eternos. Foi assim na noite de 12 de dezembro de 2012. Foi assim na tarde deste 24 de setembro de 2023. Exatos 3.938 dias separam este mesmo gesto do mesmo camisa 7. Duas datas que ele ajudou a eternizar na história do clube.

Seja aos 20 anos, ou agora aos 31, Lucas escreveu esta história com a pluma de quem é protagonista. Um roteiro, aliás, com ares hollywoodianos. O ídolo que ergueu a taça da Copa Sul-Americana voltou para conquistar o título inédito da Copa do Brasil. Para encerrar um jejum do São Paulo de quase 11 anos sem taças de expressão nacional ou internacional. É como se Lucas Moura tivesse nascido para ser campeão pelo Tricolor paulista.

É como se Lucas tivesse voltado para fechar um portal que ele mesmo abriu na história do São Paulo, nessa década sem títulos de expressão – e são 13 anos desde a última conquista nacional, o tri do Brasileirão em 2008. Por isso, a Trivela narra abaixo como foram as temporadas em que os dois – clube e ídolo – estiveram separados.

Campeão como hoje: Lucas festeja o título da Sul-Americana (Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net)

A linha do tempo do jejum que chegou ao fim

2013: um ano para esquecer

Uma temporada que todo o são-paulino gostaria de esquecer já começou errado: o São Paulo vendeu Lucas ao PSG por R$ 100 milhões e não buscou uma reposição à altura. A equipe amargou uma eliminação no Paulistão na semifinal para o Corinthians, caiu nas oitavas de final da Libertadores – com direito a goleada – para o Atlético-MG e ainda sofreu uma queda para a Ponte Preta na semifinal da Sul-Americana. 

Tem também o vice para o Corinthians na Recopa. Mas calma, que fica pior. Em um ano tão tumultuado em campo quanto nos bastidores, o técnico teve três treinadores, viu o pentacampeão Lúcio ir de solução a problema e contou com Muricy Ramalho para evitar o que era um rebaixamento desenhado.

A temporada de Lucas: o atacante chegou a tempo de disputar a reta final da temporada 2012/13 pelo PSG. Foi campeão da Ligue 1 logo de cara e contribuiu com quatro assistências em 15 jogos. Pela Seleção, foi campeão da Copa das Confederações em 2013.

Campanha no ano:

  • Paulistão: semifinal
  • Libertadores: oitavas de final
  • Sul-Americana: semifinal
  • Recopa Sul-Americana: vice-campeão
  • Brasileirão: 9º colocado.

2014 começou mal e terminou bem

Mais um ano que começou mal, mas dessa vez, com uma correção de rumos que trouxe resultados. O São Paulo de 2014 foi montado em meio à temporada. Uma fórmula que costuma dar errado, mas funcionou. Tudo graças a um início de temporada repleto de frustrações: o time foi eliminado nas quartas de final do Paulistão para o Penapolense e na terceira fase da Copa do Brasil para o Bragantino.

Tudo começa com a chegada de Kaká, de Alan Kardec, Michel Bastos, Alexandre Pato e Hudson. Mas especialmente de Kaká. De volta ao clube, o meia foi o condutor da campanha de um time que acabou o ano com o vice-campeonato no Brasileirão e chegando a mais uma semifinal da Sul-Americana. Dessa vez, o algoz foi o Atlético Nacional, da Colômbia.

A temporada de Lucas: foi sua primeira temporada como titular do PSG. Atuou em 53 jogos, com cinco gols e 15 assistências. Foi um dos protagonistas do bicampeonato francês, além de conquistar também o bi da Copa da Liga, a Supercopa

Campanha no ano:

  • Paulistão: quartas de final
  • Copa do Brasil: 3ª fase
  • Sul-Americana: semifinal
  • Brasileirão: 2º colocado

2015 é o ano do adeus ao M1to

Até podemos falar aqui dos resultados em campo: quedas na semifinal no Paulistão e na Copa do Brasil, Eliminação nas oitavas de final da Libertadores. Tem também um honrosos quarto lugar no Brasileirão. Poderíamos falar também de polêmicas, com a renúncia do presidente Carlos Miguel Aidar por denúncias de corrupção no gabinete da presidência.

Mas o mais importante de tudo em 2015 é que foi um ano de adeus a dois ídolos. Ou melhor, foi o fim de uma era. Muricy Ramalho decidiu encerrar a carreira ainda no início da temporada. Depois, veio a despedida das despedidas: Rogério Ceni se aposentou depois de mais de duas décadas de clube.

A temporada de Lucas: a temporada 2014/15 foi sua primeira com a camisa 7 às costas. Nas graças da torcida, atuou em oito jogos e deu 11 assistências e conquistou “apenas” a tríplice coroa na França.

Campanha no ano:

  • Paulistão: semifinal
  • Copa do Brasil: semifinal
  • Libertadores: oitavas de final
  • Brasileirão: 4º colocado
Rogério Ceni se aposentou ao final da temporada (AP Photo/Andre Penner)

2016 é (mais um) ano conturbado e de frustrações

O São Paulo viveu um 2016 que do início ao fim foi de bastidores conturbados e problemas entre diretoria e elenco. Houve inclusive invasão de organizada no meio do caminho. Um combo de um ano que não poderia dar certo. Mas que teve, sim, seu ponto alto na Libertadores.

Uma campanha, que aliás, foi de sofrimento do início ao fim. O Tricolor sofreu para passar pelo Universidad César Vallejo, do Peru, na primeira fase. Depois, passou como segundo colocado em um grupo que teve o River Plate como líder. Mas depois, a equipe engrenou: eliminou Toluca e Atlético-MG… Até cair para o Atlético Nacional – que seria campeão – na semifinal. A temporada acabou com anúncio de Rogérico Ceni como técnico para 2017.

A temporada de Lucas: mais uma temporada à altura de quem virou ídolo no PSG. Foram 57 jogos, com 13 gols e seis assistências. Para variar, conquistou mais um Campeonato Francês, o quarto.

Campanha no ano:

  • Paulistão: quartas de final
  • Copa do Brasil: oitavas de final
  • Libertadores: semifinal
  • Brasileirão: 10º colocado

Salvador, Dorival evita rebaixamento em 2017

O ano parecia promissor, com a figura do maior ídolo como treinador da equipe. Mas ter Rogério Ceni à beira do campo não foi exatamente sinônimo de sucesso. A equipe amargou eliminações no Paulistão (semifinal), Sul-Americana (primeira fase) e Copa do Brasil (quarta fase). 

A primeira passagem do ex-goleiro como técnico ficou marcada por um acesso de raiva no vestiário. O treinaor se revoltou com um gesto de fair-play de Rodrigo Caio na semifinal e arremessou uma prancheta na parede, que acabou acertando Cícero no rosto.

E o pior se via no Brasileirão: o São Paulo patinava na luta contra o rebaixamento. Rogério Ceni deixou o clube. E Dorival Júnior chegou para comandar uma reviravolta que conduziu o Tricolor a um confortável 13º lugar.

Temporada 2016/17: foi sua última temporada pelo PSG e também a temporada em que apresentou os melhores números. Lucas empilhou 19 gols e deu 11 assistências em 53 jogos. Foi também a única temporada em que não foi campeão francês pelo clube. Ele participou apenas dos primeiros jogos da campanha seguinte – em que a equipe conquistou a Ligue 1 – mas o atacante já estava no Tottenham.

Campanha no ano:

  • Paulistão: semifinal
  • Copa do Brasil: quarta fase
  • Sul-Americana: primeira fase
  • Brasileirão: 13º colocado
Lucas fez história pelo PSG (AP Photo/Thibault Camus)

2018 acaba com prêmio de consolação

Sejamos repetivos logo de cara: 2018 foi uma temporada com frustrações do São Paulo em todos os mata-matas. Todos. O ano novamente começou conturbado. Após livrar a equipe do rebaixamento, Dorival não conseguiu manter o mesmo desempenho em 2018 e acabou demitido em meio a derrotas em clássicos no Paulistão.

Diego Aguirre assumiu o clube e o conduziu a uma excelente campanha no primeiro turno do Brasileirão. A equipe era líder, com 72% de aproveitamento, e parecia destinada a brigar pelo título. Veio o segundo turno, e tudo desandou. O Tricolor perdeu força, o uruguaio foi demitido, e André Jardine encerrou a temporada. A vaga na Libertadores do ano seguinte foi um prêmio de consolação ao fim do ano.

A temporada de Lucas: foi a sua primeira temporada pelo Tottenham, mas ele pouco atuou. Somou apenas 11 jogos.

Campanha no ano:

  • Paulistão: semifinal
  • Copa do Brasil: quarta fase
  • Sul-Americana: segunda fase
  • Brasileirão: 5º colocado

2019: o ano de um vexame continental

O São Paulo apostou na permanência de André Jardine para a temporada, e isso resultou no maior vexame continental do clube. O Tricolor foi eliminado pelo Talleres na segunda fase da competição justo no dia em que o Morumbi era reaberto após reformas. A noite acabou com fortes protestos. A equipe ia mal no Paulistão, mas com a chegada de Cuca avançou até à final para se frustrar com um vice-campeonato para o Corinthians.

Cuca também foi demitido, e o Tricolor encerrou a temporada com Fernando Diniz no comando. Foi o ano da chegada de Daniel Alves, Juanfran e Pablo, além da saída de outros medalhões, como Diego Souza e Nenê. No fim, porém, quem brilhou, de fato, foi o garoto Antony. 

A temporada de Lucas: foi na temporada 2018/19 que Lucas viveu o seu melhor momento na história do Tottenham – e um dos maiores momentos da história do próprio clube. O atacante marcou três gols no intervalo de alguns poucos minutos e deu aos Spurs a virada sobre o Ajax fora de casa para chegar à final da Liga dos Campeões.

Campanha no ano:

  • Paulistão: vice-campeão
  • Copa do Brasil: oitavas de final
  • Libertadores: segunda fase
  • Brasileirão: 6º colocado
Lucas Moura comemora com a bola do jogo depois dos seus três gols pelo Tottenham contra o Ajax em Amsterdã (Foto: Getty Images)

2020 acaba com frustração no Brasileirão

Vamos quase apelar para o “ctrl + c” “ctrl + V', porque é mais um ano de frustrações são-paulinas em mata-matas. A equipe caiu nas quartas de final do Paulistão e foi eliminada na fase de grupos da Libertadores. Depois, deu adeus à Sul-Americana logo na segunda fase. Na Copa do Brasil, uma semifinal, com eliminação para o Grêmio.

As esperanças estavam todas depositadas no Brasileirão. Sob o comando de Fernando Diniz, a equipe liderava a competição e parecia destinada ao título… Que não veio. O São Paulo sofreu uma goleada por 5 a 1 para o Inter em que perdeu a liderança para o rival e depois sucumbiu.

A temporada de Lucas: foi titular durante toda a temporada pelo Tottenham. Fez nove gols e oito assistências em 50 jogos.

Campanha no ano:

  • Paulistão: quartas de final
  • Copa do Brasil: semifinal
  • Libertadores: fase de grupos
  • Sul-Americana: segunda fase
  • Brasileirão: 4º colocado

2021: título para encerrar o jejum

Depois de árduos nove anos de jejum, o São Paulo enfim foi campeão. O Tricolor venceu o Palmeiras na final do Paulistão e conquistou o título do estadual. De resto, a temporada foi digna de se esquecer.

O Tricolor amargou eliminações nas quartas de final da Libertadores e da Copa do Brasil. No Brasileirão, encerrou com uma insossa 13ª colocação. O que ficou para o ano seguinte foi a contratação de Rogério Ceni, que permaneceu para o ano seguinte.

A temporada de Lucas: mais uma temporada de titularidade e boa contribuição pelos Spurs, com 50 jogos, nove gols e oito assistências.

Campanha no ano:

  • Paulistão: campeão
  • Copa do Brasil: quartas de final
  • Libertadores: quartas de final
  • Brasileirão: 13º

2022 foi o ano dos vices

Após o título em 2021, o ano seguinte começou esperançoso. Mas todas as expectativas viraram apenas frustração. O Tricolor chegou à final do Paulistão e até largou em vantagem contra o Palmeiras. Mas o rival aplicou uma sonora goleada para ficar com o título.

Sob o comando de Rogério Ceni, a equipe amargou mais um vice, na Sul-Americana, com derrota para o Independiente del Valle na final. O Tricolor caiu na semifinal da Copa do Brasil e encerrou a temporada como nono colocado no Brasileirão

Campanha no ano:

  • Paulistão: vice-campeão
  • Copa do Brasil: semifinal
  • Sul-Americana: vice-campeão
  • Brasileirão: 9º colocado

A temporada de Lucas: A temporada 2021/22 foi a última de Lucas como titular do Tottenham. Na temporada passada, ele pouco atuou e chegou a aparecer em partidas do time sub-23.

História feita. E o futuro?

Campeão (de novo) pelo São Paulo após mais de uma década, Lucas Moura tem contrato com o clube apenas até o fim do ano. Os poucos meses de contrato foram suficientes para fazer história. A diretoria tem o desejo de manter o atacante para a próxima temporada. Mas até agora, o camisa 7 decidiu focar apenas em campo e adia conversas sobre a renovação. Deu certo, para nenhuma surpresa. Quando o Lucas veste a camisa do Tricolor é assim.

Foto de Eduardo Deconto

Eduardo Deconto

Eduardo Deconto nasceu em Porto Alegre (RS) e se formou em Jornalismo na PUCRS. Antes de escrever para a Trivela, passou por ge.globo e RBS TV.
Botão Voltar ao topo