Copa do Brasil

A Copa do Brasil realmente é um torneio democrático?

Alcunha utilizada pela CBF para definir o torneio de mata-mata mais importante do país pode parecer enganosa

A partir desta terça-feira (29), alguns dos principais clubes do Brasil finalmente começam a participar da Copa do Brasil, aquela que é denominada “a competição mais democrática do país” pela Confederação Brasileira de Futebol.

Mas para um país tão grande e tão apaixonado pelo esporte quanto o Brasil, não parece um pouco triste que uma competição com somente 92 clubes receba esta alcunha?

Apenas pelo número não dá para falar disso

Sim, a Copa do Brasil é a competição nacional com mais participantes. Mas apenas em questão de número, o torneio brasileiro fica muito atrás das copas nacionais dos principais países quando o assunto é futebol.

O número de 92 equipes no Brasil parece quase nada quando comparadas aos mais de 8,5 mil times que participam da Copa da França. É um torneio tão abrangente que tem representantes de territórios franceses ao redor do mundo, como Guadalupe, Guiana, Reunião, Martinica e Taiti.

A atual edição da Copa da Inglaterra, que dá espaço a basicamente todos que estão na pirâmide do futebol local, teve 745 participantes. Dois times da non-league, a parte semi-amadora da pirâmide, foram até a terceira rodada, a fase do torneio em que as equipes da Premier League entram na disputa.

Tamworth, da quinta divisão, levou o Tottenham para a prorrogação na Copa da Inglaterra (Foto: Imago)
Tamworth, da quinta divisão, levou o Tottenham para a prorrogação na Copa da Inglaterra (Foto: Imago)

A Copa do Rei conta com 126 times, colocando todas as equipes das duas primeiras divisões, os melhores colocados dos grupos regionais da terceira a quinta divisão, e o melhor time de cada uma das 20 ligas regionais que formam o sexto nível da pirâmide espanhola.

E, por mais que a Copa da Alemanha conte apenas com 64 times, a forma de qualificação é bem mais abrangente que a brasileira. Enquanto quem está na Bundesliga e na 2. Bundesliga tem vaga garantida, as outras vagas são reservadas para torneios regionais em que até times amadores podem participar. 

Das principais copas, apenas a italiana é mais restritiva que a brasileira — e bota restritiva nisso. São apenas 44 clubes — todas a equipes de Series A e B do país, além de quatro times da terceira divisão.

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Mudança na classificação para a Copa do Brasil é questionável 

Para a edição de 2024, a CBF mudou a forma de classificação para a Copa do Brasil, distribuindo as vagas que eram dadas pelo ranking de clubes da confederação para as federações estaduais. 

O ranking que passou a ter peso foi o estadual, com os principais estados tendo mais vagas no torneio. Na primeira edição, São Paulo e Rio de Janeiro começaram com seis vagas. Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná ficaram com cinco, nove estados tiveram três equipes e 13 classificavam apenas dois times.

O problema dessa mudança é o contexto atual da CBF. Foi apenas uma das medidas tomadas por Ednaldo Rodrigues para agradar as federações estaduais. Assim, ele seguiu seu projeto e foi reeleito sem qualquer tipo de objeção porque tais organizações abraçaram completamente o baiano – algumas delas nem quiseram conversar com o possível rival Ronaldo. 

Dentro de campo, a mudança também serviu para os principais estaduais ganharem mais poder. Se antes os times poderiam usar as competições para dar rodagem aos seus jogadores mais jovens, agora ficar fora das semifinais em Rio de Janeiro e São Paulo pode significar não disputar a Copa do Brasil do ano seguinte – algo que pode aterrorizar clubes, levando em consideração a estrutura da divisão do prêmio da competição.

Torneio democrático? Funil pequeno ajuda a levantar questão

Muito por causa dos horrores do calendário do futebol brasileiro, 12 equipes entram apenas na terceira fase (1/16 avos de final) – os campeões de Brasileirão, Libertadores, Sul-Americana, Copa do Brasil, Série B, Copa do Nordeste e Copa Verde, além dos próximos sete melhores colocados do Brasileirão. 

Junto com uma regra anterior, que será discutida mais a fundo em um próximo tópico, essa entrada de 12 equipes em fases mais agudas vêm criando um funil muito fino nas primeiras etapas do torneio. 

Em 2024, por exemplo, apenas duas equipes que foram mandantes na primeira fase conseguiram chegar até a terceira fase: o Águia de Marabá e o Sousa. Em 2023, foram três: Nova Iguaçu, Maringá e Águia de Marabá.

Para 2025, a situação não mudou tanto assim. São três classificados para a terceira fase: Maringá, Maracanã e Capital.

Maringá saiu da primeira fase para a terceira fase em dois dos últimos três anos (Crédito: Vinicius Do Prado/Agência F8/Gazeta Press)
Maringá saiu da primeira fase para a terceira fase em dois dos últimos três anos (Crédito: Vinicius Do Prado/Agência F8/Gazeta Press)

No caso dos times menores, ir até a terceira fase ajuda bastante por dois fatores: a premiação (cada um recebeu R$ 1,83 milhão até o momento) e a possibilidade de receber mais uma equipe grande em casa, podendo resultar em grande bilheteria. 

Pelo menos uma mudança no caminho correto

Para 2025, a CBF finalmente corrigiu algo que complicava muito a vida das equipes pequenas e que realmente pode ser visto como uma mudança interessante no caminho certo pela democracia da competição.

Até 2024, os times de melhor ranking que entravam na primeira fase jogavam fora de casa, mas tinham a vantagem do empate. 

Já neste ano, a regra caiu e tornou a fase ainda mais interessante. 14 dos 40 confrontos foram para os pênaltis, com seis dos times mandantes vencendo e avançando para a próxima fase.

Três times da Série A foram para os pênaltis – Grêmio, Red Bull Bragantino e Sport – e um deles foi eliminado – o rubro-negro pernambucano perdeu para o Operário de Várzea Grande, do Mato Grosso. 

Então qual é a resposta?

Sim, a Copa do Brasil é realmente a competição mais democrática do futebol no momento, mas esse título não deveria ser bradado aos sete ventos como é hoje.

Seria ideal que a CBF abrisse espaço para que mais equipes participassem do torneio, e talvez até pensar em uma forma de incluir times amadores e semi-amadores.

Algo que poderia ajudar nisso seria até mudar a estrutura das fases finais do torneio, fazendo mais fases em somente um jogo. Ajudaria a ter mais clubes e também daria a oportunidade de mais zebras, um ponto que deveria ser bastante importante para uma competição realmente democrática.

Foto de Matheus Rocha

Matheus RochaSubcoordenador de conteúdo

Matheus Rocha é natural de Uberlândia, onde se formou em Jornalismo na Unitri em 2014. Começou a carreira no jornalismo na Trivela antes de passar por ExtraTime e Yahoo, participando da cobertura de três Copas do Mundo e cinco Olimpíadas.
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